Meu primeiro livro virtual

quinta-feira, 30 de julho de 2009

AGORA ESTA SAUDADE


Agora, esta saudade!

No pátio, um jardim; no jardim, uma fonte; na fonte, uma estátua deNossa Senhora de Fátima; nos braços estendidos da santa, um passarinho.
...um tiro.
Eis um passarinho estendido no... não, não estendido, mas boiando, e tingindo com o seu sangue a água cristalina.
Onde, quem atirou?
Em um seminário, e quem atirou foi um padre, professor de Gramática Latina e diretor disciplinar.
O desgr... digo, o santo padre tinha uma espingardinha de pressão e, nas noites de insônia, ficava
atirando nos gatos pelo bosque de eucaliptos que havia em torno do colégio. Durante o dia,
do seu quarto, ficava atirando nospassarinhos que pousavam nos braços da santa.
Foi assim. O menino, de família religiosa, coroinha, resolveu que seria padre e, junto com outros,
foi encaminhado pelo bondoso monsenhor, que a tudo deu jeito.
Só um se ordenou.
Lá, a vida transcorria entre orações, estudos e práticas desportivas e intelectuais. Não davam
oportunidade para um pecadinho, por menos safado que fosse.
Exemplo: na hora do banho.
Havia o primeiro apito para tirar a roupa; o segundo, abrir o chuveiro e banhar-se; o terceiro, fechar a água e enxugar-se; o quarto, abrir a porta do banheiro. Não dava tempo para... para nada.
Se o seminarista ficasse três dias sem comungar, lá vinha o diretor espiritual: "Fiiiilho, por que
não está comungaaando? O filho está em pecaaado?".
E a gente pecava. Ora, como pecava.
No carnaval, havia o retiro. Três dias sem poder conversar. Incomunicabilidade absoluta. Só
rezar. Formávamos grupo de dois ou três e circulávamos fazendo nossas orações, mais ou menos assim:
"Ave Maria cheia de graça... pô, você quase me arranca a perna naquela dividida... bendita sois
vós entre... cacete, você é um frouxo... Santa Maria, mãe de Deus... frouxo é o teu pai, você que é um cavalo... e bendito é o fruto... ah! vá pro diabo...".
Aproximando alguém, a gente rezava. Ao afastar, conversa mole. Depois, a gente confessava e
no próximo ano... o mesmo pecado.
Na capela, oração e recolhimento. Na rua ao lado, um bloco de carnaval na maior zoeira. Um
dia, montaram uma quermesse e do dormitório a gente escutava o Carlos Gonzaga "mandando ver" na Diana e uma tal de "A cerejeira não dá rosa, não". Nunca mais esqueci essa música. Na quaresma, solenidades na Catedral.
Bispo, monsenhores, padres ricamente paramentados. Quem não participava da liturgia no altar
ia para o coral de três ou quatro vozes. Quem já participou de um coral juvenil cantando "Adeste Fidelis" sabe do que falo. Até hoje o "zóio" fica molhadinho.
No teatro, encenamos Pueri Hebreorum, Henrique IV, Barrabás. Nunca soube que o danado tivesse um filho, mas eu fiz o papel. Treta do padre Cláudio.
No cine paroquial, encenamos uma ária de Verdi: "Vá Pensiero".
Não me ordenei. Mas lucrei muito. A formação que lá recebi me ajudou muito no curso de Letras
e, depois, no Direito. Me ajudou, sobretudo, orientando a minha vida.
Agora... bem... agora...


José Hamilton Brito é membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras

terça-feira, 21 de julho de 2009

UAI,FOI PRAGA!


FOI PRAGA


Ta bom... foi praga.
Não, não sei quem jogou.
...mas pegou.
Família pequena.
Fundo do sertão.
Pai, mãe, menina.
...um irmão.
Modelo padrão
A vida... corria.
Menina... crescia.
Beleza de se vê.
Será? Foi o capeta?
Ou o sei-lá-o-quê?
Na hora da ordenha
...um bezerro manhoso.
Da peia, escapou.
A vaca... enraivou.
E lá no curral
Bem no lamaçal
Um corpo... ficou.


José hamilton brito
Grupo experimental

A SECA


A SECA


A seca
A água secou.
Acho até
Nem Deus notou.
Nem lágrima.
Mas o sertão
...chorou.
O milho... já era
E sem a seara
A fome vingou.
Nem nuvem...
Nem novena...
Rezadeira ?
Escondeu-se
A menina?
...se perdeu.
Ninguém cuidou
...dos seus.
...nem Deus.
Pé no chão
Bicho no pé
...e na barriga.
Vida... perdida!
Missão cumprida
E o homem
...soçobrou.
Acho que ele
Nem Deus amou.


José Hamilton brita
Grupo experimental

terça-feira, 7 de julho de 2009




Cidades

ARTIGO

Caro amigo leitor

Vera Lúcia Garcia Galdeano
Quinta-feira - 21/02/2008 - 03h01

Vera Lúcia Garcia Galdeano,

colaboradora desta Folha, é professora em Birigüi e escreve neste espaço às quintas-feiras

Quero utilizar-me deste artigo para falar com todos os meus leitores desta coluna e responder a todos os cumprimentos aos meus escritos. Sinto-me cada vez com mais responsabilidade em proferir meus pensamentos. Eles são balizados,

analisados e comentados, e isto é algo de muita alegria para mim, que tento pensar a vida de uma forma diferente, que é a de enfrentar os problemas sem muitos conflitos, pois os conflitos só agravam as situações e postergam as resoluções. Para isto, os estudos e as pesquisas ilustram nossa vida.

Lendo grandes romances, analisamos a vida e a história de outros para aplicar aqueles conhecimentos adquiridos em nossas vidas.Quando falo em grandes leituras, não falo de livros de auto-ajuda que prescrevem receitas tão não aplicáveis a nossa realidade. Cada um tem sua história e é sobre ela que tem que surgir a análise de nossas ações. Um grande livro para se começar sendo um bom leitor e ver que a grande felicidade está nas coisas mais corriqueiras e simples é “O Fio da Navalha”, de Somerset Maugham; “Os Ratos”, de Dyonélio Machado, tem o mesmo valor.A leitura flui e o prazer de cada folha lida se acresce às demais. Não seja um leitor ávido, seja um leitor ruminante, aquele que lê poucas páginas, mas as saboreia como se fossem um manjar dos deuses. Pensar no que lê, refletir até concluir o porquê das ações dos personagens. Em que a época contribuiu para que os fatos fossem daquela maneira e não de outra. O local interferindo nas ações, as personagens que causam ação e reação. Enfim, o conflito como se é dado, as razões e se for aberto o final para que você busque o melhor, o seu final. Seja como um advogado abnegado que não descansa até chegar à mais satisfatória verdade. Um livro conhecido por todos e por esta razão pode ser debatido com muitos amigos, é “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Será que Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Será mesmo que todos os homens trazem dentro de si a saga de terem sido traídos um dia? Seria Bentinho o protótipo do homem traído, tão decantado e cantado nas músicas breganejas? Ou seriam as mulheres tão dissimuladas, capazes de levarem os homens àquele martírio vivido por Dom Casmurro, o Bentinho? Também “São Bernardo”, de Graciliano Ramos, que desperdiça toda a vida em busca de conservar a sua fazenda e deixar herdeiros para manter seu capital. Seus atos se tornam tão cruéis que ao se perguntar "se eu pudesse recomeçar... Para que me enganar seria do mesmo modo". Conclui que a profissão deixou-o um bruto.E assim, lendo, vamos aprendendo a analisar a vida. Esta é a grande razão da literatura romanceada. Diferencia-se da literatura científica que aponta soluções, caminhos exatos. Levanta hipóteses, apóia as pesquisas e desenvolve novas tecnologias. Mas voltemos aos meus leitores aqui representados, na figura de José Hamilton da Costa Brito, que por e-mail comentou meu artigo da semana anterior, intitulado “Amor”. Ele pergunta sobre meu cunhado, que teve a oportunidade de muito nos ajudar nos anos oitenta, quando passamos por terríveis problemas. Era assim mesmo como descreveu meu querido leitor, a pessoa de José Galdeano. Pronto a atender a todos, a nos ilustrar com seu conhecimento. Prefiro aqui transcrever o dito, intitulado "Uma Pergunta", pois acredito que assim o sentimento fica mais verdadeiro e as colocações ficam mais claras. “Senhora, lendo o teu artigo Amor (Folha da Região, 14/2, Cidades, B2) - em um dos parágrafos, a senhora fala da ação do abraço como fator de liberação da ocitocina... Revi um quadro várias vezes repetido na minha vida profissional, ou seja, vi um amigo, representante de laboratório farmacêutico chamado José Galdeano me explicando questões de anatomia, farmacologia e fisiologia, posto ser ele experiente e eu iniciante no ramo. Lendo o artigo e ligando os sobrenomes, achei que a senhora pode ter alguma laço de parentesco com o meu finado amigo... Tem? Tendo, meus parabéns, pois ele era um grande homem e um muito bom amigo.”Este é um grande leitor, foi capaz de se transformar em leitor sujeito. Foi capaz de unir a sua história de vida ao discutido no artigo. Ainda mais, capaz de traduzir-se em grande escritor, traduziu em poucas palavras todo grandioso sentimento e agradecimento por alguém que de uma forma tão singela ajudou-o a construir sua carreira profissional. Poucos são capazes de tal grandeza. Lembrem-se que, em nossa sociedade patriarcal, os homens, os chamados meninos homens, foram educados a não demonstrarem seus sentimentos. As mulheres, sim, podiam chorar e lamentar-se. Talvez seja por isto que elas se lamentam tanto, dos maridos, dos filhos, do trabalho e até mesmo de sua existência. Tenho visto muitas pessoas que ao final de suas vidas só contabilizam perdas. É como se fosse uma existência de perdas e mais perdas, incapazes de falar dos ganhos. Como aqueles agricultores que, se está chovendo, está estragando a plantação; se faz sol, é a seca a causadora dos estragos. É como nunca tivessem uma colheita ou uma safra com bons resultados.Que todos sejam tão estudiosos, tão sabedores e capazes de compartilhar seus conhecimentos com os amigos encontrados na história da vida como José Galdeano, e que todos sejam tão grandes e humildes para reconhecer os amigos como o José Hamilton da Costa Brito.

Para ler a matériadiretamente no jornal clique nas imagens acima.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

JURO QUE É VERDADE


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Na cidade havia uma família, dona de vários nichos de comércio; na verdade, eram quatro irmãos inteligentes, empreendedores e cada um à sua maneira. O mais velho, mais comedido e elegante; o segundo, mais inclinado ao primeiro; o terceiro gostava de uma "muvuca", ao terceiro.

De um negócio pequeno começado pelo pai, montaram um império comercial na cidade e região. Naquele tempo, o comércio cerrava as portas aos sábados, ao meio-dia mesmo; alguns funcionários ficavam ali por perto da loja, nos bares, tomando umas e outras, jogando um truquinho com os amigos e discutindo "miolo-de-pote" antes de tomarem o rumo dos lares.
Em um deles, chega ao bar o terceiro, acompanhado de um amigo também comerciante, com um plano "muvucal" já elaborado.
Chegaram rindo, falando sobre futebol e, aos poucos, foram elevando a voz, proferindo palavras ofensivas, e a coisa foi se agravando. Um senhor que estava por perto procurou chamá-los à razão, pediu que não discutissem, que aquilo era feio, etc, etc.
De repente, o terceiro saca de uma arma de fogo, aponta para o amigo e diz: "Vou te matar, desgraçado!".
Da palavra ao ato, dispara a arma. O cúmplice leva a mão ao peito, olhando com espanto. Uma mancha de sangue começa a aparecer. Imediatamente, vira a arma para o senhor que tentava serenar os ânimos e diz: "E mato você também!".
Bem na frente do bar ficava se sabe como, o ameaçado senhor passou por elas em desabalada carreira... estaria correndo até hoje.
Estaria. Correu pouco, pois ficou sabendo da treta.
Ficou sabendo que a briga não era briga, que a arma era de brinquedo e o sangue era mercúrio cromo, cujo recipiente, apertado pela mão, estourou e manchou a camisa.
Ficou mais de mês por ali, esperando os "muvuqueiros" aparecerem. Dizem que o facão que o homem trazia nas mãos era de considerável tamanho. O delegado, avisado do fato, nem tomou conhecimento, pois se não fosse daquela vez, haveria uma outra.


José Hamilton da Costa Brito é membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras