Meu primeiro livro virtual
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Nina voltou a Sorrento
Há muitos anos, na cidade de Sorrento, uma linda cidade que fica na extremidade meridional do Golfo de Napoli, nascia Natalina Ricci... A Nina.
Veio visitar parentes no Brasil. Aqui conheceu um morenaço daqueles! Nunca mais Sorrento viu Nina, nunca mais Nina viu Sorrento.
Mas nunca deixou de sonhar em um dia retornar à sua cidade querida.
Não havia revista ou disco com músicas italianas que Nina não possuísse. Ouvia músicas o dia inteiro, sobretudo duas que amava: Ó sole Mio e Torna Sorrento, com Beniamino Gigli, para ela, o rei da voz italiana.
Trabalhando na lavoura com o marido, no interior de São Paulo, viu o patrimônio crescer, a família crescer, a esperança de voltar à bela Itália crescer e.... Ficou viúva.
Os filhos tomaram conta dos negócios, depois os netos incorporaram-se na administração, sempre prometendo à velha, que "o ano que vem a gente leva a senhora para ver o papa".
_Io non quero ver o papa, filho de uma putana, quero voltar a Sorrento!
Perto da sua propriedade rural, abriram uma lanchonete que recebeu o nome do dono: Lanchonete do Lindauro. Especializado em assados e cervejas estupidamente geladas, o ambiente passou a ter nas sextas feiras, período noturno, um videokê, administrado por uma simpática morena, a Rita Peres, que estranhamente tinha o apelido de “mundiça”.
Como sucesso pouco é bobagem, a coisa “bombou”. Para arrumar uma mesa e quatro cadeiras, só com promessa para Nossa Senhora da Caropita.
Há muitos anos , só que menos do que haviam passado desde o nascimento de Nina, nascia em Araçatuba, José Otirb.
Otirb, enquanto levava a vida de formiga, só tinha tempo para a sua família e sua profissão. Só lia matéria destinada a melhorá-lo como profissional. Cantar? ...nem pensar.
Mas a aposentadoria chegou. Ficou meio perdido.
- E agora, José?
-Agora, você é cigarra. Não viveu a vida inteira como formiga? Assuma o seu novo status e seja feliz, na medida do possível.
Havia perdido o elo com os amigos de profissão. Quando com eles se encontrava, era só alegria, abraços... No começo do encontro. Depois, eles falavam das coisas que ele viveu a vida inteira, cessava a interação e vinha uma tristeza infinita. Nunca mais foi ao encontro da velha e querida galera.
Tudo ficou no passado. Mas para Otirb, nunca houve a esperança da volta, de um reencontro, pois as leis de mercado são inexoráveis.
Arrumaria uma nova turma... UMA NOVA VIDA.
Perto da sua casa inauguraram o Cantinho do Lanche e colocaram para chamar a atenção dos passantes, um videokê. Começava aí a formação de uma nova turma.... O INÍCIO DE UMA NOVA VIDA.
Otirb foi encostando aos poucos e mandava marcar o seu nome. O organizador chamava e ele não ia. Medo. Aconteceu umas três ou quatro vezes. Na última o sujeito ficou bravo;
_ O senhor está me fazendo de besta? Ou canta ou vai se ver comigo.
Se ver como? O cara era grandão, marombado. O jeito foi atender o seu pedido... pedido!
Cantou, ainda se lembra, Brigas, do Altemar Dutra.
.
“Duas almas que o destino, um dia escolheu.....”
Pois bem, na Lanchonete do Lindauro, o destino reuniu Nina e Otirb. Este havia cantado Ó sole Mio. Ela se emocionou. O neto dela, pediu que ele cantasse, se soubesse, Torna a Sorrento. Ele sabia. Pegou Nina pelos braços, ela apoiada na bengala e ao seu lado, começou a ouvir a canção. Um imenso e respeitoso silêncio recebendo a voz e a emoção da anciã.
De repente, Nina desfalece e ambos vão ao chão. Um médico que estava presente constatou a morte súbita da velha senhora. Motivo: violenta emoção.
Até o momento do enterro, Nina mostrava um teimoso sorriso nos lábios.
Segundo o neto, o espírito de Nina havia retornado a Sorrento e lá ficará até o dia em que voltará a encontrar o seu corpo, quando Ele julgar os vivos e os mortos.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
O amanhã começa agora
.
-Bom dia, coisa ruim.
_ Vá pro diabo.
-Você tem visita.
_Não quero ver ninguém. Nem hoje, nem nunca.
-Problema seu. Mas a moça disse que é sua filha.
Rapidamente voltou para os seus vinte e dois anos de vida.
Colégio São Domingos Sávio, turma que se formava para o magistério primário. Como foi indicada para ser a oradora procurou ajuda em Fernando, um aluno brilhante do curso noturno.
Dois ou três encontros, o discurso ficou uma beleza; no baile de gala da formatura, não saiu um minuto dos braços do amigo.
Mas , acabadas as festividades, veio a hora e encarar a vida. Início de carreira , foi dar aulas no meio rural. Voltava à casa dos pais a cada 15 dias não só pela distância mas, também para economizar algum dinheiro. Queria melhorar a casa paterna e comprar um carro. Estes eram os objetivos mais prioritários.
Ficou muitos anos sem ver Fernando. Mas lembrava-se dele com carinho. Nunca contou para ninguém mas, naquela noite após o baile, ela foi para a casa dele e passou noite. Entregou-se para o que seria o primeiro homem da sua vida. Amou-o, a principio, com recato, com limites mas, à medida que os carinhos dele intensificavam-se ele ia aumentando os pedidos; um Kama Sutra teria sido pouco para relatar o que fizeram.
Se naquela noite fez de tudo com um homem; há muito tempo não fazia nada com homem algum.
Prestava os concursos para efetivar-se mas , ora não pegava classificação e quando pegava, anulavam-nos por irregularidades constatadas.
Oito anos deu aulas na roça. Quando começou a gostar da coisa , pois havia atrativos no meio rural, passou no concurso e assumiu uma classe em uma cidade satélite à sua.
Um ano e meio depois , ao entrar em uma livraria, algum colocou a mão no seu ombro:
_ Olá!
_Fernando.?!
A principio não levou o reencontro a sério. Uma coisa estranha, algo no sorriso dele, no jeito de olhar. Não sabia explicar, mas houve uma inexplicável rejeição. Todavia, a beleza madura que ele mostrava, o assédio e as promessas de amor eterno foram solapando a sua resistência e as noites de amor intenso e louco foram tornando-se mais frequentes.
Apresentou o amigo-namorado-amante à família e não achou estranho quando o pai lhe disse:
_ Filha, algo neste seu amigo não me agrada. Ele fala com a gente mas, não encara. Foge dos nossos olhos.
Q desejo dela de terminar a relação foi pressentido por Fernando que tratou logo de estabelecer um elo forte com ela e o fez através de um filho.
Mas tiveram uma filha.
Ela percebeu que um carro escuro costumava passar lentamente pela sua casa. Às vezes estacionava, ficava horas. Falou com Fernando e ele disse que não era nada, impressão dela.
Um dia, Fernando sumiu. Telefonou dizendo que ela deveria sair daquela casa o mais rápido possível e deveria viajar sem o carro. Ir de ônibus.
Mesmo sem entender nada, foi para a casa do pai, mas foi com o seu carro. No caminho foi interceptada e colocada sob a custódia do estado. No veículo foram encontrados vários quilos de cocaína, dentro dos pneus, nos bancos, no teto . Pior, foi encontrada uma arma e esta fora usada para matar um policial. Tinha as impressões digitais de Fernando.
Como cúmplice foi julgada e a pena máxima lhe foi aplicada. Mas o pai de sua filha sumiu e nunca foi encontrado.
Foi tomada de um sentimento mortal de ódio por homens. Na cadeia, quando assistida por um, dava-lhe o maior trabalho, com ofensas,, ataques físicos. Na sua cabeça, alimentava o sentimento de vingança. Um dia se vingaria , se não em Fernando e um outro homem qualquer.
Nunca mais viu a filha. O seu pai morreu; a mãe doente sempre cuidou da menina , providenciou os estudos e tudo o mais....Mas nunca levou a neta para ver a mãe.
Dezenove anos se passaram.
-Então coisa ruim. Mando a moça embora ou você vai recebê-la?
Medo, desejo de ver a filha, vergonha de ver a filha....filha, filha., filha...
De repente viu-se repetindo indefinidamente : filha...
-Vou receber minha filha, por favor, tragam-na até mim.
_Vou recomeçar a viver, esquecer todos os maus sentimentos; esta visita da minha menina marcará minha mudança e se é verdade que o amanha é a soma de todos os “agoras” , este será o primeiro de muitos que formarão um mundo maravilhoso para nos duas.
Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com
-Bom dia, coisa ruim.
_ Vá pro diabo.
-Você tem visita.
_Não quero ver ninguém. Nem hoje, nem nunca.
-Problema seu. Mas a moça disse que é sua filha.
Rapidamente voltou para os seus vinte e dois anos de vida.
Colégio São Domingos Sávio, turma que se formava para o magistério primário. Como foi indicada para ser a oradora procurou ajuda em Fernando, um aluno brilhante do curso noturno.
Dois ou três encontros, o discurso ficou uma beleza; no baile de gala da formatura, não saiu um minuto dos braços do amigo.
Mas , acabadas as festividades, veio a hora e encarar a vida. Início de carreira , foi dar aulas no meio rural. Voltava à casa dos pais a cada 15 dias não só pela distância mas, também para economizar algum dinheiro. Queria melhorar a casa paterna e comprar um carro. Estes eram os objetivos mais prioritários.
Ficou muitos anos sem ver Fernando. Mas lembrava-se dele com carinho. Nunca contou para ninguém mas, naquela noite após o baile, ela foi para a casa dele e passou noite. Entregou-se para o que seria o primeiro homem da sua vida. Amou-o, a principio, com recato, com limites mas, à medida que os carinhos dele intensificavam-se ele ia aumentando os pedidos; um Kama Sutra teria sido pouco para relatar o que fizeram.
Se naquela noite fez de tudo com um homem; há muito tempo não fazia nada com homem algum.
Prestava os concursos para efetivar-se mas , ora não pegava classificação e quando pegava, anulavam-nos por irregularidades constatadas.
Oito anos deu aulas na roça. Quando começou a gostar da coisa , pois havia atrativos no meio rural, passou no concurso e assumiu uma classe em uma cidade satélite à sua.
Um ano e meio depois , ao entrar em uma livraria, algum colocou a mão no seu ombro:
_ Olá!
_Fernando.?!
A principio não levou o reencontro a sério. Uma coisa estranha, algo no sorriso dele, no jeito de olhar. Não sabia explicar, mas houve uma inexplicável rejeição. Todavia, a beleza madura que ele mostrava, o assédio e as promessas de amor eterno foram solapando a sua resistência e as noites de amor intenso e louco foram tornando-se mais frequentes.
Apresentou o amigo-namorado-amante à família e não achou estranho quando o pai lhe disse:
_ Filha, algo neste seu amigo não me agrada. Ele fala com a gente mas, não encara. Foge dos nossos olhos.
Q desejo dela de terminar a relação foi pressentido por Fernando que tratou logo de estabelecer um elo forte com ela e o fez através de um filho.
Mas tiveram uma filha.
Ela percebeu que um carro escuro costumava passar lentamente pela sua casa. Às vezes estacionava, ficava horas. Falou com Fernando e ele disse que não era nada, impressão dela.
Um dia, Fernando sumiu. Telefonou dizendo que ela deveria sair daquela casa o mais rápido possível e deveria viajar sem o carro. Ir de ônibus.
Mesmo sem entender nada, foi para a casa do pai, mas foi com o seu carro. No caminho foi interceptada e colocada sob a custódia do estado. No veículo foram encontrados vários quilos de cocaína, dentro dos pneus, nos bancos, no teto . Pior, foi encontrada uma arma e esta fora usada para matar um policial. Tinha as impressões digitais de Fernando.
Como cúmplice foi julgada e a pena máxima lhe foi aplicada. Mas o pai de sua filha sumiu e nunca foi encontrado.
Foi tomada de um sentimento mortal de ódio por homens. Na cadeia, quando assistida por um, dava-lhe o maior trabalho, com ofensas,, ataques físicos. Na sua cabeça, alimentava o sentimento de vingança. Um dia se vingaria , se não em Fernando e um outro homem qualquer.
Nunca mais viu a filha. O seu pai morreu; a mãe doente sempre cuidou da menina , providenciou os estudos e tudo o mais....Mas nunca levou a neta para ver a mãe.
Dezenove anos se passaram.
-Então coisa ruim. Mando a moça embora ou você vai recebê-la?
Medo, desejo de ver a filha, vergonha de ver a filha....filha, filha., filha...
De repente viu-se repetindo indefinidamente : filha...
-Vou receber minha filha, por favor, tragam-na até mim.
_Vou recomeçar a viver, esquecer todos os maus sentimentos; esta visita da minha menina marcará minha mudança e se é verdade que o amanha é a soma de todos os “agoras” , este será o primeiro de muitos que formarão um mundo maravilhoso para nos duas.
Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com
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