Meu primeiro livro virtual
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Amém, o escambau
No teatro Castro Alves, foi encenada a peça AMÉM.
Deu origem a uma crônica e nos comentários viu-se como o absurdo ainda pode dividir pessoas.
Qual o absurdo?
Bem, a crônica já informa que o autor- ator da peça gosta de escandalizar com o nu, tendo-o como último argumento para convencer o público. Logo, o juízo de valor sobre a qualidade do ator já começa por aí.
Questiona-se o cristianismo, a forma como ele trata a sexualidade e afins.
Questionar o cristianismo... ate eu que já estudei para ser padre, questiono. São tantas coisas: celibato, Inquisição, Venda de indulgências, posição discutida da igreja na figura do seu papa da época da segunda guerra, José Pacelli, o Pio XII, Teoria da Libertação, aborto e outras. Tudo fruto de dirigentes circunstanciais que erraram e não da religiao.
Assim, creio que um ateu também tem o direito de fazê-lo. Mas é o como fazer que discuto aqui.
Na peça, o ator passa o crucifixo na sua genitália “como forma de abençoá-lo” (sic).
Fiz um cáustico comentário desaprovando o ato e nele emito a minha opinião fazendo referência à qualidade de um ator que precisa do escândalo para fazer-se notar, como disse o autor do texto e dono do blog.
Logo, discordaram veemente da minha opinião. Por sinal, acho que os discordantes advogam em causa própria. Um gosta de poesias feceninas, tendo declamado algumas até em capelas santificadas. Claro, aconteceu por um descuido do padre, que se o pega, iria capá-lo. O outro é ateu de carteirinha. Têm o direito de serem assim, pelo menos não são Corinthianos.
Os dois foram taxativos: o ator-autor pode tudo em nome da arte, expressar-se como queira. Que o autor-ator tem conflitos com a sua sexualidade e é normal expressá-los em sua arte. Tem conflitos com a sua sexualidade...! tá bão”! Não fui eu a fazer tal afirmação, que fique claro,
O outro diz que Deus e religião são criações do homem e não estão isentos de contestação. Um inverte e diz que o homem criou Deus à sua imagem e semelhança...Só rindo.
Diz ainda que quem precisa assistir à peça não estava lá e sim assistindo a algum culto. Eu estava cantando e dançando em Água Limpa.
Quem abraça tudo o que de insensato o mundo oferece abraça a teoria do absurdo.
Não se trata da crítica, mas repito, de como ela foi feita.
Já assisti Paulo Autran, Nanini, Raul Cortês, Fernanda Montenegro e nunca vi ou ouvi falar que fizeram estas palhaçadas para projetarem os seus nomes.
O su]eito tem suas limitações, não acredita em nada, nada é verdadeiro então arremata: tudo é permitido.
O teatro como a poesia, é totalmente livre. Não é o que diz o mestre Consolaro:
_Mirto, liberdade plena não existe.
Em Irmãos Karamazov há esta fala: “se não existe a imortalidade da alma, então não existe tampouco a virtude, logo, tudo é permitido.”.
Deus morre quando a civilização conclui pela irremediável ausência de valores e sentidos definitivos.
È o acontece com o grande, maravilhoso ator de Amém e com os seus defensores.
Palavras de um ateu:, " acho que o ateísmo em si, quando desvinculado de políticas concretas ou sistemas éticos, acho-o estéril . Depois do deslumbramento, ficar só no ateísmo é como recusar-se a sair da puberdade filosófica, e dormir no jardim da infância do pensamento e da liberdade"
Querem discutir Deus, religião, política, futebol, sexualidade, o Lula, o diabo façam-no mas com classe. Discordem em alto nível respeitando sempre o antagonista de suas ideias. Um argumento será sempre forte na medida em que você se preparou para defendê-lo. Caso contrário é o que se vê, a linguagem da apelação, da baixaria.
-Ah! nao quis defecar sobre valores alheios .
Nao quis mas defecou.
Um chuta uma imagem de santa, outro passa um crucifixo na genitália... outros defendem uma desgraceira dessa. Daqui a pouco, em nome da arte, vão invadir sua casa, pegar a sua filha, levá-la para um palco e estuprá-la.
Uai, tudo não é permitido em nome dela?
Hamilton Brito é membro do grupo experimental da academia araçaubenswe de letras-iadosblogueiros,.blogspot.com
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Uma vela
Eu nem queria tanto da vida
Sempre tive desejos modestos.
Gente que sonha com riqueza
Levar a vida na boa, na moleza
Eu nunca pensei nestas coisas...
Acho que foi influência materna
Vinda de uma mãe rica e terna
Que nunca se prendeu ao material.
Só busquei a riqueza do espírito
Em um mundo que só valoriza o ter
Fiz então o que precisava ser feito
Dando à riqueza o valor exato
Do exato valor que ela tem.
Mas na vida nada faltou-me
Só agora na iminência de deixá-la
Vejo que algo pra mim deu errado.
Não tenho ninguém ao meu lado
É a única queixa que eu levo dela:
Não ter quem que me acenda uma vela
Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspo.com
Opa, que bom!
Não que não haja mérito, uma vez que em matéria de arte, o ruim é inexistente. Existe a que você não gosta. Não há juízo absoluto, definitivo e sim relativo quando se analisa arte.
Ipso facto, hoje em dia Christian e Ralf, Matogrosso e Matias, Chitãozinho e Xororó, Sergio Reis, Roberto Carlos, a turma do sertanejo universitário são conhecidos de qualquer um, por menos que ouça música.
Poucos sabem, por exemplo, da existência de um Rachmaninov, grande compositor de peças para teclado posto ter sido grande virtuoso no instrumento; ou ainda Holst, que se interessou pelo folclore do seu país; Elgar, responsável pela valorização da música erudita britânica e outros ainda menos conhecidos.
Sem falar nos badalados Verdi, Schubert, Chopin, Mozart, Bach, Debussy e mesmo no nosso Villa-Lobos, que soube compor obras de raro talento e beleza.
Villa-Lobos não é o compositor apenas das Bachianas Brasileiras. Possui vasta obra para musica orquestral, música de câmara, para coral, piano e violão. Por incrível que pareça a sua obra é mais conhecida e executada no exterior do que aqui na sua terra.
Não mudou muita coisa se atentarmos para o século 19, época em que a música erudita não despertava muito o interesse das pessoas. Ouvia-se muito os italianos.
Já tínhamos um Alberto Nepomuceno, Brasílio Itiberê de Carvalho, hoje só conhecidos dos estudiosos da música clássica e por mais ninguém. Salvou-se, pelo sucesso que fez na Europa, o compositor Carlos Gomes.
Muitos conhecem Radamés Gnatalli, Francisco Mignone, Guerra Peixe, Camargo Guarnieri, pois a mídia, sobretudo a televisiva, por eles se interessou e os seus nomes chegaram ao grande público.
Opa, que bom!
Bom por quê?
Tivemos no final de semana a visita da Osesp Itinerante, projeto da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que percorre o interior levando a música erudita à população que não tem a oportunidade de frequentar, por exemplo, uma Sala São Paulo, onde a música toma uma dimensão de grandiosidade e beleza que emociona e muito.
Sei porque estive na comemoração dos 2000 anos de São Paulo – do santo, claro – e a pompa e a circunstância do momento, com a presença do governador, do prefeito, do cardeal Primaz do Brasil foi algo inenarrável.
O projeto é inovador e visa democratizar o acesso do grande público à música erudita.
Assim, na quinta feira, tivemos o quinteto de sopros. Não houve lotação completa. Digamos dois terços da sala.
Já na sexta feira, houve maior frequência. Mas no sábado a fila lembrou aquela do filme Marcelino, Pão e Vinho. Ia lá pro fim do mundo.
Parece, no entanto, que todo mundo se acomodou. As crianças e os mais jovens, atendendo ao apelo dos organizadores, deram os seus lugares para os mais idosos e os corredores ficaram abarrotados com a galerinha sentada no chão.
E ainda ficou gente em pé. E o mais bonito, até o final do espetáculo. E mais bonito ainda é que havia uma juventude na sala, aplaudindo calorosamente após cada apresentação.
Eu, particularmente, gostei mãos do quinteto de sopros, pois um dos músicos estabeleceu uma empatia com a plateia e ia explicando cada música, cada instrumento usado... até as palmas ele coordenou.
Com a aceitação do público, acredita-se que o projeto será mantido e até ampliado.
E fica provado: o público sabe o que é bom. É só trazer arte que ele saberá separar o joio do trigo e, sobretudo, o jovem poderá a vir gostar de Debussy, de Verdi, dos nossos compositores clássicos da mesma forma que gosta dos sei-la-das-quantas que puliulam por aí.
Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
TUGÚRIO
Na verdade, não chega a ser um
tugúrio.
Existem muitos pelo mundo; o meu,
apesar da simplicidade não equivale a
um.
Mas, seja como for, não existe
lugar onde uma pessoa possa sentir-semais segura.
Agora mesmo, 04h50 e eu aqui no computador com vontade de produzir um texto e sem saber exatamente
sobre o que falar.
Perto daqui ouço alguém dar um grito esquisito, angustiado
e fico prestando atenção.
Nada mais se ouve. Volta o
silêncio da madrugada. Ainda bem que por aqui ninguém aproveitou o silencio para roubar
o meu violão seresteiro e nem foi embora levando a minha inspiração.
De repente sinto uma segurança
que há muito não sentia. Ouço uma música com a Orquestra de Henry Mancini, um coral
bem regido... Paz.
Não sinto a ansiedade se
manifestando ante um momento de alerta provocado por um grito mais ao longe de
casa, pressupondo um perigo em potencial.
O mundo é um lugar perigoso
quando a pessoa é ansiosa e eu tento não ser, pois este estado reduz a qualidade de vida.
Quando ouço alguém dizer que não vai a determinado lugar
porque é perigoso, pode haver um assalto, uma bala
perdida e se priva de sair com os amigos, deixando bons momentos sem serem
vividos fico até com pena.
São “clientes” para a ansiedade
generalizada, para a fobia social, um mal que atinge boa parcela da sociedade.
Ah! Agora escuto When
you tell me that you Love me ainda com o
Mancini...
Atenção, com o Mancini e não com
o Mazzini apesar deste ser um grande músico aqui mesmo da
terrinha.
Continuando com o tema segurança,
ansiedade, li que todos têm e que ela é útil como mecanismo de defesa mas , quando se torna exagerada
torna-se um problema de saúde.
O que poderia ser apenas um
ligeiro arrepiar dos cabelinhos , um sinal de alerta, passa a ser
algo maximizado para uma secura na boca, um suor
frio, uma vertigem e sensação de pânico.
Não permita que esta fase se
instale em você, tente combatê-la com racionalidade e bom senso.
Não é para deixar de esquentar a cabeça mas, simplesmente, não
deixar que ela surta. Hoje existe
medicamentos e especialistas para
atenuar a doença mas, melhor é não atingir este estágio.
Melhor do que ingerir doses generosas do ácido Gama-aminobutírico é fazer como o André Rezek
que se delicia com os Pinot
Grigio Delle Venezze e Domene de Solitude da vida.
Onde você estiver faça como se
estivesse no seu tugúrio pois ele é um recôndito que só você conhece e
jamais poderá ser atingido.
Sêneca disse :” A alma é mais
forte que qualquer tipo de sorte”.
Não acredito muito em destino,
sobretudo naquele que dizem já vir traçado para as pessoas mas, se existe mesmo, podemos moldar o nosso espírito para
vencer as dificuldades da vida, fazer com
que a boa sorte sorria para nós.
Nenhuma má sorte vai atingir você
se a sua mente estiver sempre confiante.
Ficar atento às influências
negativas, escolher bem os lugares que possa frequentar , saber como
proceder com responsabilidade são
as providências que uma pessoa
deva tomar para diminuir a probabilidade de um acontecimento
nefasto...Mas deixar de viver, mergulhada em eterno medo, em constante e
exagerada ansiedade é, como se diz no
popular, marcar bobeira...Ou ainda,
ter morrido e esquecido de
deitar.
A irmã lua foi embora. Ainda deu
uns beijinhos no seu eterno namorado que apareceu radiante, jogando os
seus raios luminosos pelo mundo.
Com ele, o romantismo da noite se
foi como foram também os perigos existentes na sua calada. O dia é
menos romântico mas é mais prático e seguro pela maior clareza que propicia
às nossas decisões.
Assim decida: se tiver que ser,
que seja.
Vou sair do meu tugúrio para a
vida.
Eu sai e me dei bem.
Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com
terça-feira, 2 de outubro de 2012
...Sorrindo
Melhor ser analfabeto. Quanto mais a gente lê, mais fica sabendo de
coisas esquistas.
Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou
o seu lugar de sempre.
-Bom tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo,
manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
O bar-man se afastou. Marco Antônio abriu sua revista preferida, um semanário
de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu
articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por
Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som
começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e
caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel
Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de
Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia
a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim,
de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso
verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido pros quiabos quando a sua
namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um
argumento de prova. Foi o senhor mesmo que me ensinou. Não vem, não...
O doutor pediu uma salada completa como entrada, um Le Corti, um
chianti clássio da região da Toscana; depois, salmão ao molho de
alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço,
estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
Após os acertos e de ter tomado um último
drinque, se dirigiu para o carro, mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
No caminho para casa, vendo uma farmácia,
resolveu ver como estava a sua pressão.
-Doutor, vou atender o senhor mas as farmácias não
estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as
coisas para o povo, porque não fazê-lo, não é mesmo?
Pressão normal; tranqüilo, foi para casa.
Até se esqueceu da matéria lida.
Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava,
ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor
ouvindo a canção.
Ele também
gostava muito.
Por
volta das onze horas, Marina, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou
deitado, sereno.
Tinha um sorriso nos lábios.
José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da
academia araçatubense de letras.
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