Marcos já beirava os quarenta anos e ainda não tinha suspirado por ninguém. Quantas “ conheceu” nem sabe responder. Exigente? Até que não.
Sua profissão fazia dele um andarilho.Quer dizer...andarilho.Era mais “ carrilho” ou “ aviaõzilho”.
Ora um contato em Porto alegre na terça feira, ora um em Belém, no Pará, na quarta.
A permanência nestes lugares era sempre pequena e assim não dava tempo de conhecer alguém mais profundamente. E olha que tinha encontrado uns “ alguéns “ de tirar pica pau do oco.
De certa feita conheceu uma morena muito bonita em Itaúna, Minas gerais e ficou encantado. Sentado em um restaurante notou-a mais à frente com uma colega. Percebeu que ela comia uma coxa de galinha olhando maliciosamente para ele, de um modo estranho, como se a chupasse...esquisito!
Como não houve o fechamento do negócio naquele dia, não deu baixa no hotel e voltou ao mesmo restaurante para o jantar.
Olha a morena lá, sozinha. Pediu licença e sentou.
_ Oi, você pede o que comer e eu escolho o vinho.
- Está certo, mas antes vamos combinar o meu preço. Meu nome é Maria.
Assim, na lata, na cara dura. Uma das mulheres mais lindas que já tinha visto na vida.
-Ave! Esta Maria....Santa Maria, pensou.
-Olha, vou ao meu carro pois esqueci a carteira e volto já. Enquanto espera, aproveita e faça a encomenda para mim:
peça um Gravas Del Maipo, da Concha y Toros Já volto.
Saiu, foi ao carro e se mandou dali.
-Desgraçada, vais pagar setecentos mangos pelo vinho e quem sabe para acompanhar um miojão alho e óleo.
E assim as coisas iam acontecendo e ele nunca se decidia por ninguém; umas mais assim, outras mais assadas e o seu coração continuava livre, por menos que estivesse gostando.
Férias de final de ano, passou a mão na mala e foi para a Europa. A crise estava bem acentuada, a moeda em baixa com o real em alta oferecia ótimas possibilidades.
Ficou zanzando à procura de bons programas, freqüentando bons restaurantes, bons teatros, até que viu na tevê um anúncio: André Rieu live at Acropolis.
-Ué, Yanni at Acrópolis até tá,,,,,,,, mas o “ cumpadi” André? Vou ver.
A passagem aérea na Europa é mais em conta do que a que permite ir de São Paulo ao Rio pela Reunidas. Mas a Reunidas tem que manter o Vôlei Futuro e só para ver a Paula Pequeno, mesmo que parada em quadra isto se justifica plenamente. E olha que além de linda é a alma do time.
Casa cheia conseguiu um lugar frontal bem perto do palco; como se diz no futebol: na zona do agrião. Não porque fosse um sujeito de sorte ou lindão e sim porque deixou metade do salário de um ano na bilheteria.
Que classe, que luxo. Quase igual aos shows do Chitãozinho e do Xororó no Credicar hall...Sed libero nos a malo.
Platéia em alvoroço até que começou a apresentação e as músicas famosas da orquestra foram se sucedendo. Ora silêncio, ora ovação estrondosa.
Se apresenta Carmem Monarca, uma brasileira que é considerada pelo próprio André como a mais bela voz do mundo. O maestro a anuncia cantando Ave Maria, de Johann Sebastian Back.
-Vote meu, este cara tá doido. È de Gounod.
Silêncio profundo.Emoção intensa. Quando se dá conta uma lágrima surge em sua face. Pega o lenço discretamente, mas olha de lado e vê uma loira, holandesa veio saber depois, aqueles cabelos, aquela boca, aqueles olhos azuis, aquele...aquele...Meu Deus!!!! Nela, uma lágrima também.
- Você sabia que a Carmem é brasileira?
- Você, sabia que o André é holandês?
-Mas ele disse que a Ave Maria é de Bach.
-Ele disse e é.
Como a holding da sua empresa ficava na Holanda, uma transferência foi arrumada e as duas lágrimas foi o preço que pagaram para ocuparem um espaço ali onde as terras são baixas.
O que um Ave Maria! separou, uma Ave Maria uniu.
Hamilton Brito, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de letras, ciadosblogueiros.blogspot.com, site aracatubaeregiao.com.br
2 comentários:
Hamilton bom dia!!
Adorei o comentário que no meu blog na postagem da nusica Moon River!
Gosto muito das crônicas mas, seus poemas são maravilhoso.
Seus posts são de um escritor nato, tem realmente o dom para ser escritor.
Parabéns pelo Ebook e pelo blog.
Um beijo da nova leitora de Recife!
Sucesso!
Elaine Crespo
Bacana, Hamilton. Humor sem perder a sensibilidade, num estilo que enternece e prende a atenção. Gostei muito! Abraços.
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