Texto publicado na Folha da Região - Caderno Vida -Soletrando - 28/03/12
Podemos mostrar a evolução da nossa sociedade com a sua história. Se somos uma praia, cada graãozinho tem ou teve a sua importância.
É comum passarmos por uma rua e estar lá um nome: rua fulano de tal. Como nem todas indicam quem seja o homenageado, ficamos sem saber o mérito.
Ontem perguntei a uma pessoa porque o nome Oliveira Salazar dado a uma rua no bairro Santana. Quando lhe disse quem era a figura, respondeu-me:
-Grande coisa, aqui mesmo tem gente mais merecedora.
O que sei de Oliveira Salazar para justificar um nome de rua em Araçatuba é pouco, mas o pouco que sei tem a ver com a limitação à concessão de vistos para a entrada de judeus em Portugal, tendo infelicitado a vida de um cônsul que lhe desobedecendo, concedeu quantos vistos pode, salvando muitas vidas.
Só por isso eu mereço mais do que ele uma homenagem e muito mais do que eu, merecem o Carlos Santiago, grande nome na história da música Araçatubense, a professora Lucia Milani Piantino, a também professora Odete Costa Bodstein, damas das letras e fundadoras da Academia Araçatubense de Letras; não sei se há uma rua Lauresto Rufino ou José Raab e se não houver....que pena!
Foram pessoas sábias, leram a premissa deixada por Platão:
“ a utopia é a forma de sociedade ideal para a qual a humanidade deve evoluir. Talvez seja impossível realizá-la na terra, mas é nela que um sábio deve depositar todas as suas esperanças”.
Uma destas pessoas que muito respeito angariou na sua época:
OSCAR MOTTA
Nasceu em São Simão e em 1940 veio para Araçatuba. Amou esta terra como poucos o fizeram. Polivalente e de espírito empreendedor aqui foi alfaiate de escol, músico e cantor sendo uma das, mas belas vozes da cidade nas décadas de 40 e 50.
Chegou a ter um programa semanal na rádio Cultura de Araçatuba chamado “ recordar é viver”, acompanhado pelo professor Walter Delamagna ao piano, por Milton Bernardes ao violino sob o comando do também professor e poeta Adelino Moreira Marques.
Foi filatelista ativo e entusiasta dos movimentos em toda a região.
Torcia para os dois tricolores: o da Capital e o de Araçatuba...fino trato!.
Um ponto a nos unir era o gosto pela literatura. Ele gostava de livros que tivessem cunho social. Esta preferência moldou a sua atividade pró-democrata. Era parte da sua natureza ser socialista e por ela dirigir as suas ações.
O seu jeito de ser e de entender a vida passou aos filhos: Oscar Motta Filho, professor e contador, hoje aposentado pelo Banco Itaú S. A, Oscir e Oscer Motta, cirurgiões-dentistas.
Era primo do senhor Oswaldo Paupitz, também alfaiate, que por sua vez é o falecido pai da minha amiga Marianice Paupitz, dama da poesia, ganhadora de prêmios literários e membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras...família danada de boa, sio!
Com o falecimento da esposa, senhora Yolanda Dantas Motta, deixou de exercer a profissão de alfaiate. Passou a viver com os filhos...há muito o piano havia emudecido.
Um pedido constante aos filhos: quero ser sepultado em Araçatuba, não importa onde eu dê o último suspiro. Isto aconteceu em São Paulo na casa do filho Oscar.
Pedido feito. Pedido atendido.
No of. D3. 281/01 o senhor prefeito , doutor Jorge Malully Netto , reconhecendo-lhe os méritos justifica a homenagem que o povo de Araçatuba lhe faz com a Lei n.6009 de 20 de setembro de 2001 dando à rua 1(um) no Jardim Concórdia o seu nome: rua Oscar Motta.
Sua esposa dona Yolanda, dá nome a uma rua no conjunto residencial Hilda Mandarino.
Rubem Alves disse: “ No fundo o que se deseja é a imortalidade: continuar vivos naqueles que comem o que lhes oferecemos como herança”
Está aí um casal que não passou em vão por este mundo.
Hemilton Brito, membro do grupo experimental da academoia araçatubense de letras, ciadosblogueiros.blogspot.com
2 comentários:
Bom-dia, Hamilton! Gostei demais desta crônica. Li com afinco no jornal. Está tomando gosto pelo estilo saudosismo reacendedor, trazendo à vida aqueles que não podiam ser esquecidos, mas que jaz estão por conta do distanciamento do homem com ele mesmo.
Não conhecia a família da Marianice, bom saber que que teve pais que tiveram grande significado para a cidade.
E essa foto aí, que publicou? Não me parece araçatubense.
Sugeriria uma foto da rua cujo cidadão araçatubense é homenageado.
Grande abraço
Rita
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