Deus
do céu, cada uma...
Marilda
era uma pacata dona de casa após ter sido professora secundária; o marido ainda
trabalhava gerenciando um banco ali perto da sua casa.
Três
filhos, um já casado e que lhe dera dois netinhos e os outros dois ainda
estudando: Marina fazendo o curso de direito e Fernando o vestibular para
medicina,
A
vida corria sem maiores atropelos haja vista que a renda do casal era mais que
suficiente para as necessidades da família.
Mas
parece que quando Deus provê de um lado o capeta faz um sangradouro do outro,
acho que para dar vazão quando a felicidade é muito grande.
Ouvindo
uma emissora de rádio da cidade percebeu que estavam dando a notícia da fuga da
professora aposentada Marilda, que fugira da penitenciária local.
_
Tadinha, minha xará se fu... Mas que coisa, de tanto ouvir o Fernando usando
esta expressão e de tanto dar uma dura nele, olha eu também.
De
repente, irrompe pela sala o seu amigo Marinho e começa a puxar-lhe
pelos braços em direção ao carro estacionado no meio fio, dizendo que a polícia
já estava a caminho para prendê-la.
_
Tá doido, seu “coiso”, o que eu tenho a ver com isso? Por acaso eu estava presa
em algum lugar?
-Nada
disso, primeiro você abandona sua casa, se esconde e depois vamos buscar um
advogado para acertar esta situação. A polícia não vai querer saber de
conversa. Prende você e depois é uma burocracia dos diabos para provar que a
Marilda que você é não é a Marilda que procuram.
Quando
ela se deu conta o carro voava a 120 por hora, igual na música do Roberto
Carlos.
Mas
ela estava inconformada, esbravejando e esperneando dentro do carro. Marinho
não quis saber da conversa da amiga e a levou para a clínica de massoterapia e
estética facial do seu amigo Baltazar.
Mas
ali era uma rua de bom tráfego, via de acesso ao centro da cidade e de vez em
quando um carro da polícia passava zuando... Até que um parou.
Baltazar
imediatamente colocou Marilda na maca, encheu-lhe a cara com uma mistura
gelatinosa para recuperação de rugas impossibilitando a identificação da sua
paciente.
Imediatamente
suspendeu-lhe a saia e fez umas marcas na coxa direita como se fosse iniciar
algum procedimento.
_Mama
mia, não é que a coroa ainda tem umas pernas fenomenais.
Entraram
dois investigadores, fizeram perguntas e quiseram ver quem estava sendo
atendida no momento. Entraram, fizeram mais perguntas e dirigiram-se até
Marilda. Perguntaram o seu nome. Ela resmungou algo, eles não entenderam e
foram embora,
Do
início da fuga até aquele momento, quatro horas já haviam passado. Estava
querendo escurecer, hora dos seus filhos e do marido chegarem em casa e ela
ali fugindo da polícia.
_Onde
está ó advogado? Cadê o diabo do advogado?
Pulou
da maca, arrancou tudo o que lhe haviam colocado no rosto e na perna e foi
direto para a porta para ir para a casa. Baltazar tentou segurá-la, mas foi em
vão, ela estava possessa.
Como
o vou-não vai se estendeu para o meio da rua e aos gritos, um carro da polícia
parou, desceram quatro brutamontes e sem a devida identificação deram-lhe voz de prisão.
Sob
a mira de revolveres, levantou os braços como mandaram, mas continuou gritando
os seus direitos:
_
Vocês têm mandado de prisão...
_
Cala a boca, sua vadia.
-Vadia
é a puta da sua mãe. Mostra um mandado de prisão com o meu nome, seu corno.
Um
clímax perigoso foi atingido. A polícia sem mandado de prisão e sem ter feito
uma investigação preliminar para esclarecer que aquela Marilda não era a
fugitiva que procuravam.
Marilda
não suportou a situação. Abaixou os braços, deu as costas aos policiais e
começou a correr rumo à sua casa.
Está numa sala de cirurgia com o seu futuro
nas mãos de Deus.
A
polícia agora sabe que aquela Marilda é a professora aposentada, esposa do
gerente de banco logo ali esquina, mãe de três filhos e dois netos.
Membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de letras e da ciadosblogueiros.blogspot.com
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