Meu primeiro livro virtual

sexta-feira, 20 de abril de 2012


                                                     EXCREVIVENCIA
                                  Coordenação da professora Cidinha Baracat
                                                               Tema
                                           Quem mudou o rumo do meu comboio?


Em um dia de janeiro, ainda com os canhões jogando as suas bolas de fogo para todos os lados, eu subi no comboio da vida onde já estavam os meus pais e parentes e todos os passageiros deste mundo.
Ali foi dada a partida e eu iniciei a minha viagem, desta feita guiado pelas mãos seguras dos meus pais. Tudo na mão a tempo e  hora.
Uma viagem tranqüila e sem atropelos até mais ou menos aos seis anos. Neste ponto, a primeira mudança no itinerário do meu comboio. Morava na fazenda da minha avó, sob a administração dos meus pais e tios e o meu pai não deu sinal de que se mudaria para a cidade para que eu pudesse estudar. E olha que era bem ali, no Córrego Azul, propriedade ao lado da fazenda do famoso Padre Antônio.
-Uai, mãe. Por que a senhora está fazendo a trouxa do José Hamilton. Ele não vai a lugar nenhum.
-Vai, quer ver como vai?
E assim eu fui morar com a minha avó e tia até a minha formatura e posterior casamento.
O primeiro grande desvio então foi provocado por Ana Vieira de Brito, minha avó e Elza Zonetti, minha tia.
Foi uma fase muito bonita: estudar, brincar, levar porrada porque elas não amaciavam...Até aulas de piano no conservatório.
Já mais crescidinho conheci o monsenhor Vitor Mazzei e uma turminha que circulava em torno da igreja, como o Arnaldo Amantéa, o Bento Batistela, o Eusignio e lá fomos para Lins com a intenção de ser padre.
Como podeis ver, outra mudança de rumo.
Saia nesta fase dos amores endógenos, ou seja, de dentro da minha família para os exógenos, aqueles nascidos do outro lado do muro. Dentre eles alguém que não era simplesmente um alguém, mas que nunca chegou a ser um quem na minha vida...coisas.
Por isso ou por aquilo, sai do seminário.  O Brasil perdeu a chance de ter um grande arcebispo e o mundo de ter o seu Papa mais fofo.
Mas ainda o comboio prosseguia sem maiores alardes e com os serviços de bordo muito satisfatórios.
Enfim, durante este tempo só tive contato com o amor-amor; com o amor-dor teria mais tarde, mas que bem me faria falar dele...
Começaram a aparecer no vagão que eu ocupava, pessoas maravilhosas; elas começaram a fazer a minha viagem mais confortável e gratificante. Dentre elas destaco particularmente duas: Lázaro Fagundes Penteado e Maria Aparecida Baracat. È possível que o meu gosto pela literatura tenha nascido com eles. Tive a honra de biografá-la na coletânea NOS TRILHOS DO CENTENÁRIO editado pela Folha da Região.
Há quem diga que eu vim a este mundo a passeio...sabe que pode até ser?
Bem, cansado de viajar sozinho – certas coisas a gente não pode fazer com os parentes - eu mesmo dei uma mudada no rumo do meu trem. Arrumei uma passageira, casei-me, mas em uma determinada estação ela desceu para umas necessidades, o homem apitou, o trem partiu e ela ficou por lá mesmo.
Prestando tributo a um passageiro importante, cito o meu amigo Avaro Vanni Neto que me ensinou, teve paciência comigo, me apoiou e me fez um bom profissional. No meu vagão ainda pessoas queridas: Cláudio Pandolfi, Ailton Santos, Antônio Fabião, Galdeano, Toshio, Paulo Preto, Sadan, Zezão, Valtinho, Maniçoba, Mussi, Zé Teodoro, Rubão, Pazé, Mingo, Bozó, Luis Delphino, Cunha e tantos outros.
A mudança de rumo mais drástica se deu com a aposentadoria. Fiquei à deriva, a beira de uma crise de depressão.
Mas ai, outra mudança de rumo. Conheci o grupo experimental da academia araçatubense de letras e nele um contato mais direto com a literatura que eu gostava. Antes, só aquela específica para fins profissionais. Troquei o estudo do sistema cardiovascular e as questões ligadas à insuficiência cardíaca congestiva pelos textos de Fernando Pessoa, Clarice Lispector, pela poesia de Marianice Paupitz e Wanilda Borghi, pelos textos de Elaine Alencar e Heitor Gomes pelos contos de Emília Goulart e Maria Luzia Vilela e até me aventurei a duetar com uma grande poetisa: Rita Lavoyer. Nesta área com a orientação segura de Helio Consolaro, Mariludes Campezzi, Cecília Vidigal Ferreira., Yara Pedro.
Quer saber, eu vim mesmo a passeio....
Para dourar mais ainda a minha pílula entrei para o Amigos da Seresta apenas para que pudesse comprovar o que se diz: quem canta os seus males espanta.
Como foram os vagões nas fases ruins da viagem...Não quero nem saber.
Agora viajo em um muito chique, bonito: o vagão da escrevivência.
Parece que escuto a voz do Pai:
-Negão, aproveita que eu estou te dando muito mais do que você merece neste final de viagem.
Mas antes de ir embora, ainda quero realizar um último sonho. Mas este eu só conto quando realizá-lo.

3 comentários:

Cidadão Araçatuba disse...

Camarada seu trem deu voltas heim! Rs...
O importante é a caminhada, a estação pode nem ser tão interessante assim.
Abração!

Cecilia Ferreira disse...

Caro José Hamilton, você tem o raro dom de nos fazer rir e emocionar à beira das lágrimas em poucas palavras. Excelente depoimento, como muitos dos anteriores, mas este está particularmente especial. O defeito fica por conta de uma passageira,uma tal de Cecilia, que nem tanto acrescenta, mas que se diverte por pensar que tem paricipação positiva nas possibilidades de suas letras. Abraço e obrigadapor citar-me.

HAMILTON BRITO... disse...

Sou grato a todos vocês que nos dão carinho la nos grupos da academia.Que Ele vos atenda em todas as suas necessidades.