EXCREVIVENCIA
Coordenação
da professora Cidinha Baracat
Tema
Quem
mudou o rumo do meu comboio?
Em
um dia de janeiro, ainda com os canhões jogando as suas bolas de fogo para
todos os lados, eu subi no comboio da vida onde já estavam os meus pais e
parentes e todos os passageiros deste mundo.
Ali
foi dada a partida e eu iniciei a minha viagem, desta feita guiado pelas mãos
seguras dos meus pais. Tudo na mão a tempo e hora.
Uma
viagem tranqüila e sem atropelos até mais ou menos aos seis anos. Neste ponto,
a primeira mudança no itinerário do meu comboio. Morava na fazenda da minha
avó, sob a administração dos meus pais e tios e o meu pai não deu sinal de que
se mudaria para a cidade para que eu pudesse estudar. E olha que era bem ali,
no Córrego Azul, propriedade ao lado da fazenda do famoso Padre Antônio.
-Uai,
mãe. Por que a senhora está fazendo a trouxa do José Hamilton. Ele não vai a
lugar nenhum.
-Vai,
quer ver como vai?
E
assim eu fui morar com a minha avó e tia até a minha formatura e posterior
casamento.
O
primeiro grande desvio então foi provocado por Ana Vieira de Brito, minha avó e
Elza Zonetti, minha tia.
Foi
uma fase muito bonita: estudar, brincar, levar porrada porque elas não
amaciavam...Até aulas de piano no conservatório.
Já
mais crescidinho conheci o monsenhor Vitor Mazzei e uma turminha que circulava em
torno da igreja, como o Arnaldo Amantéa, o Bento Batistela, o Eusignio e lá
fomos para Lins com a intenção de ser padre.
Como
podeis ver, outra mudança de rumo.
Saia
nesta fase dos amores endógenos, ou seja, de dentro da minha família para os
exógenos, aqueles nascidos do outro lado do muro. Dentre eles alguém que não
era simplesmente um alguém, mas que nunca chegou a ser um quem na minha
vida...coisas.
Por
isso ou por aquilo, sai do seminário. O
Brasil perdeu a chance de ter um grande arcebispo e o mundo de ter o seu Papa
mais fofo.
Mas
ainda o comboio prosseguia sem maiores alardes e com os serviços de bordo muito
satisfatórios.
Enfim,
durante este tempo só tive contato com o amor-amor; com o amor-dor teria mais
tarde, mas que bem me faria falar dele...
Começaram
a aparecer no vagão que eu ocupava, pessoas maravilhosas; elas começaram a
fazer a minha viagem mais confortável e gratificante. Dentre elas destaco
particularmente duas: Lázaro Fagundes Penteado e Maria Aparecida Baracat. È
possível que o meu gosto pela literatura tenha nascido com eles. Tive a honra
de biografá-la na coletânea NOS TRILHOS DO CENTENÁRIO editado pela Folha da
Região.
Há
quem diga que eu vim a este mundo a passeio...sabe que pode até ser?
Bem,
cansado de viajar sozinho – certas coisas a gente não pode fazer com os
parentes - eu mesmo dei uma mudada no rumo do meu trem. Arrumei uma passageira,
casei-me, mas em uma determinada estação ela desceu para umas necessidades, o
homem apitou, o trem partiu e ela ficou por lá mesmo.
Prestando
tributo a um passageiro importante, cito o meu amigo Avaro Vanni Neto que me
ensinou, teve paciência comigo, me apoiou e me fez um bom profissional. No meu
vagão ainda pessoas queridas: Cláudio Pandolfi, Ailton Santos, Antônio Fabião,
Galdeano, Toshio, Paulo Preto, Sadan, Zezão, Valtinho, Maniçoba, Mussi, Zé
Teodoro, Rubão, Pazé, Mingo, Bozó, Luis Delphino, Cunha e tantos outros.
A
mudança de rumo mais drástica se deu com a aposentadoria. Fiquei à deriva, a
beira de uma crise de depressão.
Mas
ai, outra mudança de rumo. Conheci o grupo experimental da academia
araçatubense de letras e nele um contato mais direto com a literatura que eu
gostava. Antes, só aquela específica para fins profissionais. Troquei o estudo
do sistema cardiovascular e as questões ligadas à insuficiência cardíaca
congestiva pelos textos de Fernando Pessoa, Clarice Lispector, pela poesia de
Marianice Paupitz e Wanilda Borghi, pelos textos de Elaine Alencar e Heitor
Gomes pelos contos de Emília Goulart e Maria Luzia Vilela e até me aventurei a
duetar com uma grande poetisa: Rita Lavoyer. Nesta área com a orientação segura
de Helio Consolaro, Mariludes Campezzi, Cecília Vidigal Ferreira., Yara Pedro.
Quer
saber, eu vim mesmo a passeio....
Para
dourar mais ainda a minha pílula entrei para o Amigos da Seresta apenas para
que pudesse comprovar o que se diz: quem canta os seus males espanta.
Como
foram os vagões nas fases ruins da viagem...Não quero nem saber.
Agora
viajo em um muito chique, bonito: o vagão da escrevivência.
Parece
que escuto a voz do Pai:
-Negão,
aproveita que eu estou te dando muito mais do que você merece neste final de
viagem.
Mas
antes de ir embora, ainda quero realizar um último sonho. Mas este eu só conto
quando realizá-lo.
3 comentários:
Camarada seu trem deu voltas heim! Rs...
O importante é a caminhada, a estação pode nem ser tão interessante assim.
Abração!
Caro José Hamilton, você tem o raro dom de nos fazer rir e emocionar à beira das lágrimas em poucas palavras. Excelente depoimento, como muitos dos anteriores, mas este está particularmente especial. O defeito fica por conta de uma passageira,uma tal de Cecilia, que nem tanto acrescenta, mas que se diverte por pensar que tem paricipação positiva nas possibilidades de suas letras. Abraço e obrigadapor citar-me.
Sou grato a todos vocês que nos dão carinho la nos grupos da academia.Que Ele vos atenda em todas as suas necessidades.
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