Meu primeiro livro virtual

segunda-feira, 7 de maio de 2012


                      Sou. Então, acho que sim


Ainda outro dia estava a olhar alguma correspondência e notei que eu era chamado de escritor. Na hora fiquei meio assim assim, pensando naquilo.
Quando fui apresentado em uma solenidade como tal, fiquei até envergonhado e pensei:
-Ah! Dizer só o meu nome bastaria. Este negócio de escritor ainda é muito cedo pra mim.
Mas me soou agradável, fiquei gratificado. Afinal, quem me chamou de escritor, realmente o era...melhor, é. Ainda não morreu apesar da palidez.
Sempre tive pendores para o estudo das línguas apesar de nunca ter como me aprofundar nele. Coisa da escola de antanho onde a matemática, a aritmética, não sei se por culpa da gente ou por culpa da pedagogia de então, sofria resistência por parte da maioria dos alunos.
O Clássico era muito mais procurado que científico naquele tempo.
Basta dizer que fugi, ou fugimos, do ultimo ano do ginásio no Instituto de Educação para inaugurarmos o ginásio do Paraisão da então diretora Abigail Barbanti.
Durante o curso no seminário de Lins o estudo do latim tinha preferência sobre o de língua portuguesa, pois para o padre o latim era ferramenta a ser mais usada. Padre que não sabia latim não era padre e sim um cara usando batina.
Fiz o curso de letras aqui na Toledo e lembro-me bem que um dia estava só no diretório acadêmico quando o doutor Eufrásio entrou e sentou-se para um papinho, como de resto, tinha o costume de fazer e sempre levava algo em termos de conselho, orientação para aquele que estivesse no diretório.
Falei-lhe da vontade de fazer Lingüística. Ele me falou de um curso muito avançado em Campinas. Fui ver e o preço....
Bem, fui para o ramo farmacêutico que me oferecia melhores ganhos, segurança e mordomias e nunca teria  no magistério.
Como de resto, aconteceu com o curso de direito.
Como largar a fartura de uma profissão para começar a advogar? Quem pagaria as minhas contas nos primeiros anos?
Não é um lamento, apenas uma constatação.
Durante todos os anos da vida profissional era ler e estudar e escrever sobre as matérias pertinentes à profissão. Não havia tempo nem para um mini conto, mesmo que soubesse fazê-lo.
Como representante eu era ensinado e o estudo tinha uma dimensão; depois, virei supervisor e teria que ensinar. Aí sim, não poderia fazer feio.Imagine dando uma aula de produto para cardiologia e um perguntar o que era angiotensina ou tricúspede ou ainda placa de ateroma e não responder.
Assim, comecei a escrever o que gostava com a aposentadoria, ao entrar para o grupo experimental da academia araçatubense de letras.
Pensei que seria coisa passageira, que não ficaria muito tempo por lá. Tinha uns caras chatos, um tal de Picasso, Heitor Gomes, um tipinho metido chamado André, um professor invocado.  Tinha também a beleza de uma Simone Gava, Maria Rosa Dias, a simpatia de uma Rita Lavoyer e da Wanilda Borghi. Fui ficando e lá estou.
Um dia o tal de professor apresentou-me a um publico em um evento cultural:
-Agora vamos ouvir o escritor e poeta Mirto Fricote.
Desgraçado, ainda bem que o apelido não pegou. Mas espero que o escritor e poeta tenham sido aceitos...ou foram porque não aconteceram vaias.
Depois, conhecendo o blogue como ferramenta de comunicação, descobri que por meio da crônica eu agradava muito mais, era mais aceito e comecei a estudar toda a sua estrutura, ler grandes cronistas como Flávio Rangel, Diaféria, Luis Fernando Veríssimo. Afinal, temos uma tradição muito forte de cronistas com João do Rio, Ribeiro |Couto, Antônio Maria, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, Clarisse Lispector e mais.
Nunca chegarei a ser um deles e nem quero, mas fico contente quando, ali na fila do supermercado Pioneiro, esperando para pegar a minha lagosta ou o meu camarão diário ouço de alguém:
_ Oi Zé Mirto, adorei a sua crônica hoje.
Como falam sempre é sinal que....uai!  Ainda acabo acreditando. Que sou mesmo.

Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras, ciadosblogueiros.blogspot.com


3 comentários:

Anônimo disse...

Hamilton,
E agora? Acredita, ou acha que tem algum espírito maligno aqui na sua página impedindo-nos de deixar nossos comentários. Ótima crônica, Mirto Fric..., quer dizer, caro amigo Hamilton. Parabéns!

Rita Lavoyer disse...

Pelo menos eu o considero. E você, quem você é para você mesmo? É melhor sair do armário.

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Deus do céu! Que armário?
Deste quem tem que sair é o Consa.