Meu primeiro livro virtual

terça-feira, 2 de outubro de 2012

...Sorrindo







                          Melhor ser analfabeto. Quanto mais a gente lê, mais fica sabendo de coisas esquistas.
                          Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou o seu lugar de sempre.
-Bom tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo, manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
                           O bar-man se afastou. Marco Antônio abriu sua revista preferida, um semanário de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
                           Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
                          Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
                          Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim, de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido pros quiabos quando a sua namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um argumento de prova. Foi o senhor mesmo que me ensinou. Não vem, não...
                    O doutor pediu uma  salada completa como entrada, um Le Corti, um chianti clássio da região da Toscana; depois,  salmão ao molho de alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço, estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
                      Após os acertos e de ter tomado um último drinque, se dirigiu para o carro,  mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
                         No caminho para casa, vendo uma farmácia, resolveu ver como estava a sua pressão.
-Doutor, vou atender o senhor mas as farmácias não estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as coisas para o povo, porque não fazê-lo, não é mesmo?
                          Pressão normal; tranqüilo, foi para casa. Até se esqueceu da matéria lida.
                          Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava, ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
                          A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor ouvindo a canção.
                           Ele também gostava muito.
                           Por volta das onze horas, Marina, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou deitado, sereno.
                           Tinha um sorriso nos lábios.

José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.



Um comentário:

Rita Lavoyer disse...

Deixei o meu comentário lá no site Litertura entre amigos.