Artigo publicado na Folha da Região
Caderno VIDA - Soletrando
dia 22 de outubro de 2009
...Sorrindo
Melhor ser analfabeto.
Melhor ser analfabeto.
Quanto mais a gente lê, mais fica sabendo de coisas esquistas.
Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou o seu lugar de sempre.
-Boa tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo, manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
O bar-man se afastou. Marco Antônio pegou sua revista preferida, um semanário de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim, de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido "pros quiabos" quando a sua namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um argumento de prova. Foi o senhor mesmo quem me ensinou. Não vem, não...
O advogado pediu uma salada completa como entrada, um Le Corti, um chianti clássico da região da Toscana; depois, salmão ao molho de alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço, estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
Após os acertos e de ter tomado um último drinque, se dirigiu para o carro, mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
No caminho para casa, vendo uma farmácia, resolveu ver como estava a sua pressão.
-Olha, vou atender o senhor mas as farmácias não estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as coisas para o povo, por que não fazê-lo, não é mesmo?
Pressão normal; tranqüilo, foi para casa. Até se esqueceu da matéria lida.
Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava, ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor ouvindo a canção.
Ele também gostava muito.
Por volta das onze horas, a santinha, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou deitado, sereno.
Tinha um sorriso nos lábios.
José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.
Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou o seu lugar de sempre.
-Boa tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo, manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
O bar-man se afastou. Marco Antônio pegou sua revista preferida, um semanário de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim, de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido "pros quiabos" quando a sua namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um argumento de prova. Foi o senhor mesmo quem me ensinou. Não vem, não...
O advogado pediu uma salada completa como entrada, um Le Corti, um chianti clássico da região da Toscana; depois, salmão ao molho de alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço, estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
Após os acertos e de ter tomado um último drinque, se dirigiu para o carro, mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
No caminho para casa, vendo uma farmácia, resolveu ver como estava a sua pressão.
-Olha, vou atender o senhor mas as farmácias não estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as coisas para o povo, por que não fazê-lo, não é mesmo?
Pressão normal; tranqüilo, foi para casa. Até se esqueceu da matéria lida.
Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava, ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor ouvindo a canção.
Ele também gostava muito.
Por volta das onze horas, a santinha, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou deitado, sereno.
Tinha um sorriso nos lábios.
José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.
4 comentários:
Excelente o teu texto. Soube mandar a mensagem,não enfeitou as palavras. Mandou o recado de verdade e eu entendi tudo, tudo mesmo. Você melhora a cada lida. Continue assim, tem sucesso o rapaz!
Põe meu blog ai.
PB-AMABRASIL.blogspot.com
Este é o meu amigo Brito de ATA. Pessoa que conheci nas minhas viagens pelo estado de São Paulo. Homem talentoso, criativo, culto, amigo dos seus amigos. Sucesso Brito!
Parabéns pelo conto. Está ficando bom nisso. Gostei. Abraços. Heitor Gomes.
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