Meu primeiro livro virtual

quinta-feira, 31 de março de 2011

Não sei vocês



Texto publicado na Folha da regiao
Caderno Vida - soletrando
27/04/2010


Mas eu, apaixonado pela música popular brasileira, muitas vezes fico mais impressionado com certas frases do que pelo conjunto da obra. Claro, gosto muito de my way, love is a manny splendored thing, a certain smile, unchained melody, a left my heart in San Francisco e outras.
Mas é em Limelight também conhecida como Luzes da Ribalta que Chaplin esnobou ao frasear: se o ideal que sempre nos acalentou. renascerá em outros corações.
Cartola em O mundo é um moinho diz:... o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho, vai reduzir as ilusões a pó” e termina com: quando notares estás à beira do abismo, abismo que cavaste com teus pés.
Assis Valente, que colocou fim à própria vida por achar que não era devidamente valorizado, em Boas Festas fraseou:...vê se você tem a felicidade pra você me dar” e não estando satisfeito colocou a linda: e assim felicidade eu pensei que fosse uma brincadeira de papel.
Eu tinha uma bronca do Sergio Bitencourt, sobretudo quando ele fazia tipo no programa do Flávio Cavalcanti, mas quedei-me ao seu talento quando deparei-me com a música Naquela mesa. Duas frases me impressionaram: e nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã. A outra: se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doía assim.
E não foi só em Naquela mesa que ele mostrou imenso talento, ainda tem Modinha. ... e nesse pouco ou quase nada, eu dizia o meu amor.. Lindo, tão lindo quanto: eu me perco nos teus passos e me encontro na canção.
Até Adelino Moreira, para muitos um compositor “menos” cotado, em Sinfonia da Mata colocou: sinfonia do riacho e da cascata, minha viola, completa a orquestração.
-Hein! Uai, eu gosto...Que coisa!
Já o amigo Aurélio Rosalino gosta de: é preciso a própria mágoa disfarçar assim, dissimulando a dor à sombra de um sorriso” na composição Se ela perguntar, de Jair Amorim.
O músico e professor Beltrão e a esposa Lúcia, até no gosto musical andam no mesmo passo. Indicaram: nos seus olhos fundos, guarda tanta dor” presente em Carolina, do Chico. Ainda: ai então, dar-te eu irei, um beijo puro na catedral do amor, do samba Jura, do grande Sinhô.
Festival da Record. A cantora Evinha defende uma composição de Paulinho Tapajós e Edmundo Souto, Cantiga pra Luciana e: Luciana, Luciana, sorriso de menina dos olhos de mar, Luciana, Luciana, abrace esta cantiga por onde passar “... minha filha chama-se Luciana.
Ah! Este seu olhar, de Tom Jobim: este seu olhar, quando encontra o meu, fala de umas coisas, que eu não posso acreditar. O danado estraçalha quando em Eu não existo sem você, diz: eu sei e você sabe, que a distância não existe, que todo grande amor, só é bem grande se for triste”
A estrada da música popular brasileira é bem sedimentada e nela, pontificam momentos de rara sensibilidade poética.
Como em Manhã de carnaval, de Luis Bonfá: das cordas do meu violão, que só teu amor procurou, vem uma voz, falar dos beijos perdidos, nos lábios teus. Que me perdoem os intérpretes brasileiros, mas a música nas vozes de Carla, Susan e Carmem Monegal, essa, brasileira e santista, da orquestra de André Rieu, é incomparável.
Para finalizar, aquela que dentre todas as frases é a que me traz forte emoção.
Só poderia ser do Chico. Chico que é Buarque de Holanda. Gente Humilde: e eu que não creio, peço a Deus por minha gente.
Ai: alguma coisa acontece no meu coração”
Sabem de que é?


Membrodo grupo experimental da academia araçatubense de letras

segunda-feira, 14 de março de 2011


Recordar é viver


Eu hoje sonhei com...
Retornar, rever e ficar tomado por uma gostosa emoção...Mesmo que a princípio doa um pouquinho.
Seja à velha igreja da infância ou ao distante Líbano; eu também já vivi um momento assim...Acho que todos o vivemos.
Um dia resolvi abraçar o sacerdócio. . Levado pelas mãos de um padre da cidade, eu e mais alguns meninos, fomos para o seminário diocesano de Lins.
Fiquei lá algum tempo e assisti às inúmeras transformações físicas que o imóvel foi sofrendo com o tempo. Lembro-me que ele era quadrado. Uma entrada que dava para um pátio onde não havia nada; à esquerda algumas salas de aulas e a capela. Na outra extensão, o refeitório e à direita, mais salas de aula, sanitários, uma mesa de pingue- pongue e o apartamento do padre que nos ministrava aulas de música e era o regente do coral de três ou quatro vozes que fazia sucesso nas cerimônias na catedral. No piso superior, dormitórios e o apartamento do padre responsável pela disciplina e professor de latim. O danado ficava a noite inteira matando gato, no bosque de eucaliptos que havia ao lado ou bem-te-vi, sentado nos braços da santa que mais tarde foi colocada em um jardim, feito naquele pátio vazio. Era estudar, praticar esportes e rezar. Sai do seminário. Mais tarde fui trabalhar na indústria farmacêutica, assumi uma supervisão de equipe e fui trabalhar em Lins.
-Ah! Vou visitar o velho seminário....Não era mais .
Entrei pela mesma portaria da minha infância. Adentrei ao jardim, já não tão bonito. A santinha ainda estava lá. Sei não, mas acho que ela piscou para mim. Revi tudo como se estivesse acontecendo naquele momento. Vi-me jogando futebol, saindo da capela ou entrando no refeitório, levando bronca por alguma peraltice, xingando o latim. Se já estava morto, o desgraçado...
“Vi”o Batistela, o Amantéa, o Ficoto, o Eusígnio, o Gomes, o Cláudio, que morreu sacerdote recentemente, também o padre Lino, o padre Kondó, o monsenhor Pazzeto, nosso reitor. O Joaquim, hoje meu cunhado.
Quando me dei conta, soluçava.
Percebi que alguém chegou atrás de mim...Ficou em silêncio por algum tempo. Nada disse.
Quando percebeu que estava mais calmo, colocou a mão no meu ombro e perguntou:
- As lágrimas são de tristeza ou felicidade?
Olhei, era um jovem padre.
- São de saudade. Aqui vivi um bom tempo da minha vida.
Ele me levou a ver...Melhor, rever tudo.
E fui embora, feliz da vida.


Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.