Meu primeiro livro virtual

terça-feira, 22 de maio de 2012

TIÃOZINHO


                                       


-Bom dia senhor, esperamos que se sinta bem a bordo da Lufthansa. Meu nome é Cristina  Rotchild  e ficarei contente em servi-lo .
- Você pertence a que ramo da  família. Dos vinicultores famosos?
-Sim  , mas é um parentesco bem distante. Com licença.
Afastou-se com um caminhar elegante , mas mostrando um derriere maravilhoso, ornamentando um par de pernas esculturais. Ele olhava embevecido e baixinho resmungou:
Bem , este cálice o Senhor pode aproximar de mim.
Engenheiro , proprietário de uma firma especializada em construção de barragens para usinas elétricas,  Sebastião, que na intimidade era conhecido por Tião, dirigia-se à Europa para fechar contrato.
Ele não tinha problema em ser chamado de Tião...Era rico. A desgraça é ser chamado de Tião e ser pobre....Tiãozinho, que ridículo!.
-Aceita algo para  beber , senhor?
Quando ia responder sim, notou que não era ela. Nada quis.
Não demorou e ela passou ao seu lado.
-Cristina, você poderia trazer-me um Bourbon.
Quando ela foi entregar o copo com a bebida, ele , de propósito , deixou cair o líquido em seu colo, provocando na moça imenso constrangimento.
Ela o convidou para o lavabo onde providenciou a limpeza da calça. Enquanto ela o atendia, o danado se fazia de vítima. Ela ficou inconsolável.
-Bem, para compensar você pode indicar-me um bom hotel em Paris.
Alcançar o que desejamos só depende das nossas escolhas e atitudes, só depende dos caminhos que escolhemos percorrer.. Vou percorrer o dela, pensou.
-Vocês  das companhias aéreas costumam ficar em bons hotéis. Em qual  estão hospedados?
Ela sorriu e se afastou, sem responder. Todavia, Tião que se preza não desiste assim fácil. No balcão, mediante um substancial mimo, ficou sabendo: Hirondelle Inn.
Naquela tarde,  após alguns contatos preliminares com correspondentes da sua empresa , voltou correndo para o hotel,  colocou-se no prumo e encostado ao balcão do piano bar, ficou a espera.
_ Olá  madame de Rotchild, que feliz coincidência.
-Olá, você sabe o meu nome  mas eu não sei o seu.
-Sabe sim, está na lista dos  passageiros. Sebastião,  enchantê!
Por mais que ela se esquivasse não conseguiu recusar o convite para um jantar no Chardenoux, que oferece uma cozinha leve, onde produtos frescos da mais alta qualidade são oferecidos
-Desde que você não faça questão de tomar um Montrachet Domaine de La Romanee Conti 1978, pois a minha empresa iria à falência, podemos pedir , por exemplo, um  Hermitage  La Chapelle de safra mais recente, que tem ainda muita qualidade.
-Tiãozinho, quer dizer, senhor Sebastião, você é  um bom conhecedor de vinhos....Que prato pediremos para acompanhá-lo?
-Ah! Um de porcelana chinesa, quem sabe da dinastia Ming.
-- Seu fi...Só mesmo um Tiaozinho para uma tirada indecente como esta. Tenha uma boa noite.
De Paris ela iria  para a Itália, depois Alemanha e retornaria à Paris, pois era a sua escala de trabalho. Uma semana ausente.
O nosso herói terminou o seu compromisso ,mas não retornou ao Brasil. Esperou e numa tarde de sexta feira ela entra gloriosamente pelo hall do hotel.
-Uai Tião, você por aqui ainda?
-Sei que amanhã e domingo você estará de folga e estou pedindo, melhor, implorando para que acompanhe-me em um passeio pela cidade. Quero conhecê-la.
-Conhecer Paris?
-Paris!?
-Quero  conhecer você. A cidade eu conheço.
De  bateau-mouche navegaram pelo Sena, fizeram o que se chama de passeio obvio pela cidade,  indo até a Torre Eifell, depois Louvre, Notre-Dame, Praça do Trocadero, Palácio de Versalhes.
Ela foi descobrindo nele uma rara sensibilidade, um jeito meigo e poético ao referir-se aos lugares mais bonitos e famosos da cidade. E o jeito que ele a olhava. 
-Ah! Tião desgraçado...
-Será possível , meu Deus, que eu possa casar-me com um Tiãozinho destes?
Casou.
Na viagem de núpcias, ao acomodarem-se nas poltronas que os levariam para um resort nas Filipinas, ao receberem as taças de champagne da aeromoça, ela disse:
-Preciso tomar cuidado para não derramá-la em você novamente.
-Querida, eu derramei...
-Só mesmo um Tiãozinho muito do filho ...uma hora eu falo. Juro que uma hora eu esqueço minha educação
....Foram felizes para sempre. Um Tiãozinho e uma Rotchild....Rothscild?
Não, só Rotchild.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras e da ciadosblogueiros.blogspot.com
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quinta-feira, 17 de maio de 2012

O QUE QUERO DE VOLTA


                                               ESCREVIVÊNCIA
                                              TEMA - QUERO DE VOLTA
                                               Coord.     Cidinha Baracat



“ Quero que voltes, quando volta a primavera...”
O homem, muito antes de ter sido formulada a famosa teoria Cartesiana, já observava e pensava no que via. Pensando foi agindo e modificando as coisas para si e os seus. O velho e bom René, que de tonto não tinha nada, formulou a teoria e partiu para colocar o seu nome no panteon da glória.
Assim o progresso foi surgindo provocando mudanças cujas conseqüências eram ora boas, ora não tão boas assim e algumas vezes, verdadeiras desgraças.
Como já foi pedido aqui com o tema “Quem mudou o comboio da minha vida” comecei a sair da condição de ser passivo para o de ativo quando passei a ter as minhas próprias experiências e com elas assumindo atitudes e comportamentos para melhorar o caminho que eu iria percorrer. Eu começava um ciclo que se repete desde que o mundo é mundo...Um elo para formar a corrente chamada humanidade e sua história.
A história universal mostra as particularidades de cada época, o que nela se fez de bom ou de ruim e o que ela provocou no caminhar do homem. Sempre foi assim e assim será sempre.
Como se diz, o mundo caminha para frente. Uma geração sucedendo a outra e cada uma com um script escrito por ela mesma.?   A que nos antecedeu deixou, por exemplo, o avião. Maravilha! Mas foi também arma de destruição. Como enfrentar uma doença dolorosa sem a morfina. Mas ela também provoca estragos se mal usada. Dá para imaginar extrair um dente sem anestesia?
Quem gostaria que a fase anterior a estas conquistas voltasse?
Voltar ao primitivismo...Nem pensar. Lá também havia problemas.
Bem, então o que eu gostaria que voltasse?
Difícil dizer.
Vejo as mazelas de cada época como coisas naturais que as pessoas têm que aceitar. Eu aceito bem as da minha época.
Saudades eu tenho...Muitas.  De ver as crianças nas ruas nas tardes com os seus jogos, enquanto os pais, nas calçadas e em suas cadeiras conversavam com seus vizinhos. Das velhas tardes de domingo, como cantou Roberto Carlos, nas filas compridas para a sessão das seis no cine São Francisco para depois ir desfilar no footing. Da cerveja antártica do casco verde bebericada nas mesas do Pingüim ou ainda das brincadeiras dançantes na rua Floriano Peixoto, Bancários ou T. Maia. Quando passo em frente ao Instituto de Educação Manoel Bento da Cruz, tenho saudade das conversas naquele murinho que fica em frente e também ouço perfeitamente o Carlos Gonzaga abrindo os trabalhos da quermesse para a construção da Creche Santa Clara de Assis, cantando Diana. Houve aqui na sala quem teve saudade dos malhos,  nos escurinhos e nas poltronas durante os filmes.
Nós construímos aquela vida e querê-la de volta...Não dá. Haveria conflito com esta geração que quer construir a sua própria história, para chorá-la depois. Como fazemos hoje,
Talvez se houvesse hoje a mesma proximidade uns dos outros que tínhamos naquele tempo, a mesma solidariedade e não houvesse a busca desenfreada de sucesso e bens materiais, as coisas poderiam ser melhores. Não que não tivéssemos nossas ambições, mas não éramos escravos delas.
Acho que este espírito eu queria de volta.
O resto, não é possível e como sou um homem pragmático, o impossível...
Mas alguma coisa eu faço. Todos as manhãs eu me pergunto:
-O que posso fazer, hoje, para melhorar um pouquinho mais?
_ Respondo e procuro fazê-lo.
É o jeito de me adaptar aos novos tempos.

Hamilton Brito é membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras e da ciadosblogueiros.blogspot.com

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Documento, por favor

                                


Como já disse um famoso jornalista, ninguém foi visto levantando a bandeira do atraso e não é preciso ser nenhum gênio para saber que devemos defender todas as medidas que se tome para buscar o equilíbrio e a paz social, de modo que tenhamos uma conduta que favoreça este objetivo.
As instituições políticas são de fundamental importância para fomentarem o desenvolvimento; precisamos acreditar nelas.
Medidas justas, oportunas são esperadas por parte das pessoas e quando são tomadas pelo governo, merecem aplausos e apoio.
Como, de resto, até que vem acontecendo. O país realmente caminha em direção ao desenvolvimento; há quem diga que ele já é desenvolvido, ocupa lugar de destaque no concerto das nações, pleiteia em função desta conquista lugar de mérito no topo diretivo dos órgãos representativos mundiais.
Quando você se enleva e diz, agora vai...vem. E vem “ brabo”.
Estava eu absorto em uma fila de supermercado, um que fica ali na rua do Fico, do meu amigo Yuzo Makinodan   quando...Tenho vergonha ate de contar.
-Bom dia, “ seo” Brito.
-Bom dia, fofa.
-Quer a nota paulista?
Ante a resposta afirmativa ela começou:
312190...e como sabia de cor o meu CPF de tanto que faço minhas compras ali e, sobretudo porque, além de ser uma morena lindíssima também é inteligente, fez a nota e vendo umas latas de cerveja, disse:
-“Seo Brito”, preciso de algum documento com foto,.
-Nossa lindinha, para quê , você me conhece de outros carnavais, sabe até o meu CPF.
-Olha, se eu deixar passar as latinhas de cerveja sem que o senhor mostre o documento e um fiscal der um flagrante, o supermercado é multado e eu ganho as contas na cara.
Aquela rostinho lindo, por minha culpa, não iria receber nenhuma conta na fuça;
Mas a risada que eu dei....
Ecoou pelo supermercado. Na rua houve engavetamento de carros, pois uma senhora ficou assustada pensando haver chegado o fim do mundo ,  brecou de súbito e assim um carro foi entrando no outro.
Um avião que fazia a manobra para descer na pista do aeroporto, com o estrondo, arremeteu e foi pousar em Rio Preto.
Todo mundo começou a rir, mesmo sem saber do quê. Uma senhora que estava ao meu lado, rindo qual bandeira ao vento, assim que se recompôs, perguntou-me:
-Senhor, estamos rindo do que, de quem?
-Senhora, estamos rindo simultaneamente do que e de quem.
Pensando bem no caso depois do acontecido, fico ate preocupado com um simples fato: fiquei com a sensação combinada de medo e apreensão de que os meus cabelos brancos já não servem pra coisa alguma, minha barriguinha alimentada só com boas cervejas e comidinhas em bons restaurantes da época de representante de laboratório farmacêutico - esta corja come bem enquanto a família fica em casa comendo ovo frito -   não representam mais um documento honesto da minha idade.
Lembrei-me das palavras do meu amigo Consa::
-Mirto, deixa mão de ser besta, ninguém é verdadeira e totalmente livre.
Aí entendi porque dizem que liberdade é coisa que cada um tem de definir para si mesmo a cada momento.
Havia chegado o meu momento. Não levaria a desgraçada da cerveja e todos fazendo a mesma coisa, as fábricas faliriam, haveria caos social, revolução e deixariam de pedir o diabo do documento.
Entenda-se que não sou contra que peçam-no para menores de idade, para quem tem idade indefinida....pedir para quem tem quase quatro vezes  mais de dezoito anos? A própria imagem já é um libelo.
Mas aí olhei nos demais caixas e todo mundo mostrando os documentos para poderem levar as “ birrinhas” para casa.
Pensei, não trouxe a lança, estou de carro e não montado no Rocinonte e não poderei atacar o moinho, por mais burro que ele seja..
Lembrei-me do Kennedy quando disse: “ o conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento”
Que ele vá pro diabo, o que eu poderia fazer? Ficar sem a “ cevezinha” ?

 Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras e da ciadosblogueiros.blogspot.com

segunda-feira, 7 de maio de 2012


                      Sou. Então, acho que sim


Ainda outro dia estava a olhar alguma correspondência e notei que eu era chamado de escritor. Na hora fiquei meio assim assim, pensando naquilo.
Quando fui apresentado em uma solenidade como tal, fiquei até envergonhado e pensei:
-Ah! Dizer só o meu nome bastaria. Este negócio de escritor ainda é muito cedo pra mim.
Mas me soou agradável, fiquei gratificado. Afinal, quem me chamou de escritor, realmente o era...melhor, é. Ainda não morreu apesar da palidez.
Sempre tive pendores para o estudo das línguas apesar de nunca ter como me aprofundar nele. Coisa da escola de antanho onde a matemática, a aritmética, não sei se por culpa da gente ou por culpa da pedagogia de então, sofria resistência por parte da maioria dos alunos.
O Clássico era muito mais procurado que científico naquele tempo.
Basta dizer que fugi, ou fugimos, do ultimo ano do ginásio no Instituto de Educação para inaugurarmos o ginásio do Paraisão da então diretora Abigail Barbanti.
Durante o curso no seminário de Lins o estudo do latim tinha preferência sobre o de língua portuguesa, pois para o padre o latim era ferramenta a ser mais usada. Padre que não sabia latim não era padre e sim um cara usando batina.
Fiz o curso de letras aqui na Toledo e lembro-me bem que um dia estava só no diretório acadêmico quando o doutor Eufrásio entrou e sentou-se para um papinho, como de resto, tinha o costume de fazer e sempre levava algo em termos de conselho, orientação para aquele que estivesse no diretório.
Falei-lhe da vontade de fazer Lingüística. Ele me falou de um curso muito avançado em Campinas. Fui ver e o preço....
Bem, fui para o ramo farmacêutico que me oferecia melhores ganhos, segurança e mordomias e nunca teria  no magistério.
Como de resto, aconteceu com o curso de direito.
Como largar a fartura de uma profissão para começar a advogar? Quem pagaria as minhas contas nos primeiros anos?
Não é um lamento, apenas uma constatação.
Durante todos os anos da vida profissional era ler e estudar e escrever sobre as matérias pertinentes à profissão. Não havia tempo nem para um mini conto, mesmo que soubesse fazê-lo.
Como representante eu era ensinado e o estudo tinha uma dimensão; depois, virei supervisor e teria que ensinar. Aí sim, não poderia fazer feio.Imagine dando uma aula de produto para cardiologia e um perguntar o que era angiotensina ou tricúspede ou ainda placa de ateroma e não responder.
Assim, comecei a escrever o que gostava com a aposentadoria, ao entrar para o grupo experimental da academia araçatubense de letras.
Pensei que seria coisa passageira, que não ficaria muito tempo por lá. Tinha uns caras chatos, um tal de Picasso, Heitor Gomes, um tipinho metido chamado André, um professor invocado.  Tinha também a beleza de uma Simone Gava, Maria Rosa Dias, a simpatia de uma Rita Lavoyer e da Wanilda Borghi. Fui ficando e lá estou.
Um dia o tal de professor apresentou-me a um publico em um evento cultural:
-Agora vamos ouvir o escritor e poeta Mirto Fricote.
Desgraçado, ainda bem que o apelido não pegou. Mas espero que o escritor e poeta tenham sido aceitos...ou foram porque não aconteceram vaias.
Depois, conhecendo o blogue como ferramenta de comunicação, descobri que por meio da crônica eu agradava muito mais, era mais aceito e comecei a estudar toda a sua estrutura, ler grandes cronistas como Flávio Rangel, Diaféria, Luis Fernando Veríssimo. Afinal, temos uma tradição muito forte de cronistas com João do Rio, Ribeiro |Couto, Antônio Maria, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, Clarisse Lispector e mais.
Nunca chegarei a ser um deles e nem quero, mas fico contente quando, ali na fila do supermercado Pioneiro, esperando para pegar a minha lagosta ou o meu camarão diário ouço de alguém:
_ Oi Zé Mirto, adorei a sua crônica hoje.
Como falam sempre é sinal que....uai!  Ainda acabo acreditando. Que sou mesmo.

Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras, ciadosblogueiros.blogspot.com