Meu primeiro livro virtual

domingo, 29 de maio de 2011

SAUDADE



SAUDADE


Hamilton Brito


Não sei o porquê
agora.
Não era bem o que eu queria.
Sozinho
É solidão...madrugada.
Sem tevê,computador
sem nada.
Recordei o que tive
um dia.
A casinha dos meus pais
naquela linda roça
de algodão.
Mais adiante
para as pescarias com
os amigos
um límpido, cristalino
rubeirão.
Corria solto no meu
cavalo baio
mandando beijos
para Maria.
Ah! eu era o rei daquele mundão...
Saudade do carro de boi
e também das festas juninas
brincando com as meninas
não via o tempo passar.
Mas, da Maria,
que saudade.
Lembro do pai
nas madrugadas
com suas peias
indo ao curral.
Deus,onde aquelas peias
que me prendiam ao local?
Deixei o radinho de pilha
no qual o pai,na Nacional
ouvia o Luiz Gonzaga
como diz o Martinez
um artista bestial.
Fui em busca dos estudos
perdi cavalo, radinho, riozinho
perdi tudo.
Hoje é solitate
soledade
até soydade.
Chame lá do que quiser.
Esta dor na minh'alma
não há remédio para o mal.
Não sendo um corpo físico
ela é insubstancial
Não era o que eu queria...
e por falar em saudade:
cadê você Maria

Membro do grupoexperimental da academia araçatubense de letras, ciadosblogueiros.blogspot.com aracatubaeregiao.com e Academia virtual poética do Brasil.

"Saudade é sentimento de quem ama e perdeu o objeto do amor;Quem não amou e não perdeu não sente saudade"
Rubem Braga

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O PORTÃO












O portão





Se a memória não me prega uma peça, lembro-me que a primeira lição de uma aula de filosofia fala sobre a felicidade e à sua busca. Todavia essa busca implica em desenvolvimento.
O que é desenvolvimento?
Mestre Aurélio ensina que é crescimento, progresso e dá até um verbete: desenvolução. Nunca o ouvi na vida mas está lá.
É esse então o caminho especial que Deus nos legou para o nosso crescimento e por meio dele, alcançarmos a felicidade.
E o que é felicidade?
Recorrendo ainda ao mestre: ventura, contentamento, boa fortuna.
Então, para compreender as coisas, saber trabalhar com elas e ser feliz, é preciso um grau de conhecimento. Ter uma cultura que seja o bastante para que possa ser instrumento do desenvolvimento do ser humano.
Mas cultura não é apenas saber ler e escrever ou ser PhD em um segmento do saber, mas principalmente “ estar inserido no complexo de códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico e que se manifestam em todos os aspectos da vida: modo de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais e outros”.
Não vendo na ciência um meio que supra suas necessidades, o homem busca respostas para as suas perguntas no esoterismo, no misticismo, pois segundo ele, nesses caminhos pode estar a explicação de todas as manifestações da natureza.
Então, à primeira vista, parece que o caminho é suave, sem fazer alusão à famosa cartilha na qual iniciei para chegar até a estas mal traçadas .
São amplas as alternativas que se oferecem a todos nós.
Mas então, como explicar o desencontro, a tamanha insensatez que parece ser as características mais marcantes do ser humano.Parece que ele tem prazer de se confrontar com a miséria do mundo, que via de regra, ele mesmo dá origem. A explicação repousa, a meu ver, no interior de cada um.
Não adianta adquirir toda a cultura do mundo se não houver a preocupação de respeitar-se . Somos únicos na face da terra mas vivemos em sociedade e estamos , assim, ligados por menos que queiramos.
Percebe-se que não existe caminho suave, não existe entrada sem fechadura e que algum portão, em algum momento, não se abriu para que o homem pudesse alcançar-se. A consciência é um guia e também a guardiã do portão; ele estará aberto ou fechado quanto maior for a consciência do homem quanto às suas responsabilidades para consigo e, como decorrência, para com os seus iguais.
Essa responsabilidade dependerá de cada um, do empenho e de como se enxerga. Drumond disse: “Mas se desejarmos fortemente o melhor, e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossas vidas. Sou do tamanho daquilo que vejo , e não do tamanho da minha altura”
Ainda lembrando o grande escritor, a gente aprende muito no portão fechado.
Aprende muito mas a considerar o que se vê pelo mundo , tanta discórdia , tanta beligerância, tanto descaso de uns mais favorecidos para com outros e quanta falta de fé, fica-se sem saber se o muito preconizado pelo grande escritor possa ser o bastante .

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras ganhador do troféu Odete Costa, da ciaciadosblogueiros.blogspot.com e do sire araçatubaeregiçao

segunda-feira, 16 de maio de 2011

PIÓSES










Pióses


Voando lá nas alturas
Ou pousado numa falésia
Obedecendo ao meu instinto
Eu conseguia ser feliz.
Eu sempre fui elegante
apesar de nunca galante
... precisava sobreviver.
Eis que voando bem alto
noteilá em baixo, na relva,
um movimento de vida
vida que me daria a vida.
Seguindo o instinto predador,
atirei-me em ataque mortal
e assim cheguei até você.
Contive meu ímpeto a tempo
impedido por sorriso divinal,
então, como em passe de mágica
começamos uma história trágica
de predador, em caça me tornei.
Foi você alimento da minh’alma,
Amei você como ninguém amou.
Quem pode evitar o proprio carma...
O meu era a total liberdade...
Assim eu te fiz infeliz
em pobre infeliz me tornei.
Deixa que eu siga meu caminho,
preciso ganhar as alturas.
Preciso voltar ao que sou.
Sei, sou ave de rapina
mas é assim que eu sei viver.
Então , peço em nome de Deus
solte os pióses que me prendem.
Serei novamente falcão peregrino
em paz com meu próprio destino.


Hmilton Brito é membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras, ca ciadosblogueiros.blogspot.com e so site aracatubaeregiao.com

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Oi !





-


- Oi, você por aqui.
- Pois é, estava passando, vi você aí quietinho; resolvi fazer um carinho.
-Ah Legal, obrigado.
-Como vai a vida?
-Nada muda. Sempre a mesma rotina. Daqui a pouco já estou longe de novo.
- Rotina? Andando pelo mundo você vê a cada momento uma coisa nova, um fato acontecendo.
_ Bem, é verdade. Outro dia havia um grupo de alpinista escalando o Himalaia, veio uma tempestade que não estava no programa e foi o caos. Mas vi atos de desprendimento, de solidariedade e de amor ao próximo que me deixaram sensibilizada...Justamente no meu turno de serviço. Só meu amigo, que vejo também tanto desamor. Tem gente que pensa que fazendo amor, está amando.Ainda se fizesse um amor que prestasse!
-Você a tem visto por ai?
-Olha, por mais que preste atenção, não tenho.
- Onde ela se enfiou...
-Quando eu cheguei você estava pensando no que ou em quem?
-Mais no que do que em quem. Quando penso em quem, penso nela.
_Menino, não foi você mesmo quem escreveu aquela poesia Escombro, na qual uma voz diz baixinho: filho tire-a do ombro, pois é escombro, coloque-a no coração e vá ser feliz outra vez?
-Foi. Fazer a poesia foi fácil. Tirá-la do ombro está sendo outros quinhentos...
-Você está com vontade de chorar? Então chora, já vi você chorando tantas vezes...Outro dia quase parei para um papo, mas você estava uma desgraça e eu não estava melhor. Só que eu trago as tristezas do mundo em mim, posto que as vejo sempre no meu caminhar. Mas você , meu amigo, sofre de tonto que é.
-Mas eu também estou achando você triste e quer saber, não sei a razão uma vez que semeia a poesia e o amor nos corações enamorados.
_Criatura, a esta hora todos os dias, entristeço-me. Fim de jornada, sei que vou ser esquecida.
_Ah! Deixa mão de coisa. Nunca vi ninguém tão cantada em verso e em prosa como você.
Mas diga: você não tem visto....Tem ou não?
_ Que coisa de doido. Já não disse que, apesar de procurar, não a vejo. Até que gostaria de poder dizer onde ela está. Mesmo que estivesse entre os lençóis , cruzando os dedinhos dos pés com alguém. Quem sabe assim você criasse jeito e se arrumasse na vida.
-E você minha amiga, como tem se arrumado sem ele?
-Com as migalhas, como sempre foi ...O desgraçado só aparece quando termina minha jornada. Leves e míseros carinhos que até chegam a me excitar, mas que....Engolirei para sempre os meus orgasmos. Serão sempre só meus.
-Como diz uma pessoa da vossa literatura: “ para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E quando chegamos, é a surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto”.
_Uai! Bonito, quem é a pessoa?
- É o...o...ah! sim: o Rubem Braga.
-Ah! tá. Só podia!
- Uai amiga, então é bom para você. Todo dia é um novo dia e assim a sua esperança se renova.
- Quer saber, estou com o sa...Perdão, estou com a paciência esgotada de ter a minha esperança renovada. Não preciso de esperança, preciso de uma boa noite só de amassos...Que seja só umazinha.
-Vichi, a coisa é mais grave...Vamos mudar de assunto.
-O que você está vendo de bom neste momento?
-Lá no sertão, um retireiro está indo tirar o leite das suas vacas. Leva o café quentinho que a patroa fez, também as peias, necessárias ao trabalho.Você sabe o que é uma peia, seu anarfa? Uma enfermeira termina o turno e caminha só pela rua indo para a sua casa. Está triste pois a paciente do quarto doze faleceu ao dar à luz...Mas ela fez o que pode e isso a conforta.
-Vejo ainda a professora Rita Lavoyer preparando uma palestra sobre bullyng...grande Rita. Olha lá o Ze Marcos Taveira já trabalhando no ciadosblogueiros com todo o carinho e o Beltrão afinando o seu violão logo cedinho.
-Mais o que você está vendo?
_Vejo um maridão preparando-se para o trabalho...deve ser bancário.
-Vai, conta, o que ele está fazendo.
_ Mas você continua o mesmo safado de sempre... É isso aí mesmo que você está pensando. Prestasse e não dormiria sozinho.
-Falar em dormir sozinho, presta mais atenção por ai, quem sabe....
-Quem sabe eu não sei. Eu sei que desisto.
_Olha quem está chegando.
-Já percebi. Já deu sinal de vida há algum tempo. O filho da ... é bonito, sabe esquentar as coisas, meus hormônios entram em ebulição. Quer saber, xau. Quando ele aparece, “ me voi” e assim será sempre...Vingo-me, levando comigo o romantismo da minha presença.

Hamilton de Brito e membro do grupo experimental da AAl, da ciadosblogueiros e do aracatubaeregiao

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domingo, 1 de maio de 2011

Um caso de amor em Portugal






-O desfribilador, rápido.
Uma, duas vezes e a paciente não reagia. Lembrou-se da frase do Chico: “ e eu que não creio, peço a Deus por minha gente”.
Adaptou-a para a situação; pediu pelo seu amor.
Conheceu-a em Lisboa, andando despreocupado pelo Parque das Nacões , depois de ter descido do teleférico. Uma esbelta morena ia à sua frente. De repente, escorregou e caiu. Ajudou-a levantar-se.
-Bom dia, senhorita, você esta bem?
-Bom dia, estou sim, foi só o susto.O senhor é brasileiro, que bom ter caído para ser socorrida por um conterrâneo; estava precisando falar um pouco do português da minha terra. Cheguei ontem mas o sotaque já me dá nos nervos.
-Heloisa é o meu nome, Eduardo.
-Como você sabe o meu nome?
-Está escrito no bolsinho da sua camisa, pode olhar.
-Deus, que estúpido eu sou.
Continuaram a caminhada dando sonoras risadas, chamando a atenção dos transeuntes, aos quais Eduardo, sorrindo, acenava.
Aquela tarde passaram andando pela cidade, até depararem-se com o famoso Vértigo Café, com os seus móveis da década de 50 e 60, com o seu visual retrô. O interessante é que mesmo com toda a pompa e circunstância , serviam uma refeição simples e saborosa.
Como estavam cansados, ela havia chegado um dia antes, resolveram que após o jantar, recolher-se-iam para um merecido descanso. Estavam hospedados no mesmo hotel e....mão de Deus, no mesmo andar.
Descobriram estar em apartamentos contíguos.
-Heloisa, na minha geladeira, tenho um champagne no ponto exato.
-Na minha também tenho. Boa noite.
-Tenho algumas garrafas de vinho do |Porto e....
Ficou ali, com a maior cara de besta...mas prometeu vingança.
No outro dia saíram para passear, conhecer mais a linda cidade. Perguntaram ali mesmo no hotel um roteiro a seguir e foram sem preocupação alguma. Caso se perdessem, um táxi os traria de volta . Sem que tivessem feito uma pergunta a alguém, de repente estavam no Culturgest. Trata-se de uma galeria de arte localizada no porão do maior banco Português, cuja sede os de Lisboa acham feia.
Assim como navegar era preciso, alimentarem-se também era.
-Amigo, somos brasileiros e queremos ir a um bom restaurante. Pode nos indicar um?
-Claro, será um prazer, amo a sua terra. Minha filha está fazendo direito lá na Instituição Toledo, em Araçatuba, Estado de São Paulo. Recomendaram-me por tratar-se de uma conceituada faculdade.
Das palavras aos fatos, chamou um táxi e disse ao motorista:
- Leve estes amigos até a rua Marquês de Fronteira, 37, restaurante Elevem e, por favor, diga ao Maitre que eles são meus convidados. Não esqueça dessa recomendação.
Heloisa e Eduardo se olharam...será?
O táxi já estava com a porta aberta, esperando. O jeito foi aceitar a oferta.
Não era um restaurante dos mais bonitos, sofisticados mas tinha um salão de jantar confortável e moderno. Tinha a melhor vista da cidade para o rio e para o castelo e uma cozinha inspirada no Mediterrâneo.
_Heloísa, teremos que tomar vinho nacional.
Ah! Não quero nem saber, eu quero um....desgraçado!
Tomaram o vinho nacional acompanhado pelo bacalhau mais apetitoso, cheiroso, maravilhoso de suas vidas.
-Helô, menina, vai ficar uma grana; só valeu a pena porque durante toda a refeição eu estava olhando para você e pensando:
-Quem é mais linda, ela ou aquela vista do rio?
-Por favor, veja a despesa.
-O que ! Que despesa, querem ver-me no olho da rua? Vocês são convidados do dono do restaurante. Aquele que chamou o táxi é o proprietário do restaurante.
Foram para o hotel e aquele champagne da geladeira dele introduziu uma linda noite de amor. O da geladeira dela, deu o arremate romântico que faltou devido à sofreguidão com a qual se atiraram sobre os límpidos lençóis.
Retornaram ao Brasil. Ele para o hospital onde era cirurgião geral e ela para a universidade, onde era mestra em Filosofia. Mas a casa onde passaram a residir, era a mesma.

E a vida caminhava como pediram a Deus, até o dia no qual ela teve um problema cardíaco, em plena sala de conferência para um grupo de professores Escandinavos.
Era caso de cirurgia urgente. Foi chamado pelo interfone, o cirurgião chefe, pois o caso era complexo.
-Doutor Eduardo, comparecer urgente na sala de cirurgia número três.
Eduardo saiu na correria, preparou-se para a intervenção e:
_Meu Deus, você?
Alegou as razões pelas quais não poderia fazer o atendimento, não estaria emocionalmente apto para intervir naquela paciente.
_Doutor, não dá mais tempo de convocar outro cirurgião, ou é o senhor ou ela morre.
Quando gritaram alto pela segunda vez, pedindo o uso do desfibrilador, ele, superando-se, deu o melhor de si e mais ainda , pediu, não por sua gente, mas por ela....e por ele mesmo.
Ao sair do hospital, o dia estava radiante. Ele não percebeu.Tinha pedido, foi atendido mas estava envergonhado.
Havia pedido muito mais por ele....Não poderia mais viver sem ela.

Hamilton de Brito é membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras, da ciadosblogueiros.blogspot.com e do site aracatubaeregiao.com.br. Também integra o Conselho Municipal de Políticas Culturais.