Meu primeiro livro virtual

quarta-feira, 31 de março de 2010

Uai!






Naquele lugar, só podia se assim. Ficava muito longe, mas não chegava a ser no fim do mundo. Pelo contrário, parecia mais com o início. Tudo muito natural, via-se pouco a mão do homem. Uma bonita fazenda, constituída de ricas campinas, cursos naturais de água, uma porção mais elevada dando um caráter de serra, onde uma neblina estava quase sempre presente.
Em uma tarde particularmente fria, durante as águas de março, ele veio ao mundo. Lindo, forte, olhos nervosos e atentos, demonstrando rara vivacidade. Como era de ´ótima estirpe, foi-lhe providenciado tudo de bom e do melhor. Seu pai, um grande campeão e sua mãe, uma dama vinda de um lugar distante, chamado Índia.
Viveu cercado de carinho e atenção.
Com mais idade, começou a fazer incursões pela fazenda; gostava de ir até o açude quando não houvesse chuva. Com ela, a água ficava barreada. Corpo de perfeita simetria e boa dose de agressividade não impediram que fosse picado por uma cobra peçonhenta.
Tratamento a altura de um pequeno príncipe.Melhor médico, melhor hospital, melhores condutas terapêuticas e ótimas companhias.
Notaram-se. Quiseram-se mas o melhor que conseguiram foi terem seus corpos bem próximos e sentirem o mútuo calor.Ela era belíssima, altiva, orgulhosa, verdadeira dama e bem digna de ser a nora predileta de sua mãe.
Mas um dia, vieram buscá-lo.
Grande aparato, recepção festiva...não achou graça em nada.
Sentiu que algo havia mudado dentro de si.
A diferença é que antes, ele se bastava. Não precisava de ninguém para ser feliz...agora.
O tempo passando ,ele definhando, não estavam gostando e dos melhores cuidados, foi se afastando. Não achava graça mais em nada. De rei a plebeu, rapidinho foi que desceu.
No ambiente dela e com ela, tudo seguia como antes,
Pois é, quem já foi rei...foi.
Um dia, um veículo estranho veio buscá-lo.Chegou em um lugar limpinho, até que bonito, onde vários companheiros mais ou menos assemelhados estavam perambulando.
De repente, ela.
Mas o lugar era outro, mais bonito, mais confortável.
-Ah! Deus, como está linda.
Caminhando por um caminho esquisito, um corredor estreito, ficou sabendo que naquele lugar onde ela estava, ficam as top que participariam de exposições.
Ele, no entanto, estava andando com outros, em uma espécie de agulha:
- Por que aqueles amigos estão pendurados naqueles ganchos...uai!

sexta-feira, 26 de março de 2010

HOMEM-O CENTRO DO CÍRCULO




HOMEM - o centro do círculo.



De você, meu, ninguém se lembra

Tampouco tem um dia só seu

E por mais que você faça

Há quem diga: é uma desgraça

Sim, você foi até bárbaro

Mas pontificou em outros papeis:

De Papas, guerreiros e menestréis,

desde o tempo que se perdeu no tempo;

quanta luta para prover quem você ama...

Lutando contra Corinthianos e filisteus

e porque não citar os palmeirenses

outra racinha de plebeus...

Você, que no deserto da vida, é oásis

Onde abrigo encontra o necessitado

Sendo um porto seguro, nunca miragem,

garantia de dar o que esperam de ti.

Você , se gentil : ah! é biscateiro.

Se generoso...olha o perdulário.

Só você é que conhece o calvário

de agüentar sogra, sogro, cunhado

para não falar de amigo solitário

aparecendo pra comer de mão vazia,

e ainda tem o tapewere da irmã da mãe...

Ah! Deus do céu, quanta agonia!

Você, que no peito tem a pureza

de um santo , ou do anjo querubim,

se imola no altar da lealdade,

expulsa de você toda maldade

pra ser exemplo de paz e amor.

Já disseram que o mundo é um moinho,

mas você não tem um só sonho mesquinho;

está sempre a fazer o bem,

mesmo que seja para um ninguém.

Bem, eu fiz o que pude, meu amigo,

tentei fazer um belo poema,

mas não sou a Rita Lavoyer.

Se essa joça não te agradou,

Delete, ninguém vai saber.

quarta-feira, 24 de março de 2010

SAUDADE DE VOCÊ


Saudade de você



Quando você me olha...
Não consigo me conter.
Vem-me sensação de paz.
Você me faz sonhar
Entrego-me a devaneios
e procuro por todos os meios,
deles , não mais sair.
O brilho das estrelas no seu olhar
Serafins e querubins a cantarem
O canto suave de uma onda do mar
São figuras muito pobres...
De outro modo, deve haver um outro
Outro que revele o sublime que você é.
Não vejo em você o pecado
Não te relaciono com a serpente
Está relacionada com salvação
Mas como disse, são sonhos, devaneios
E eu não encontro os meios
Oh! Deus, eu preciso acordar
Você não é pecado e nem salvação
Para meu erro maior, não é a remissão
Eu fiz da vida o que ela é
Apenas, uma saudade de você.


Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras

sexta-feira, 19 de março de 2010

SILHUETA





Divagar, estar em devaneio, deixar que o pensamento voe, fazer abstrações e ficar por ai, sem saber precisamente onde até chegar a determinado ponto.
E assim, imaginando, flutuando de quimeras em quimeras, fui parar em um tempo distante , no qual a quimera de então deixou de ser o sonho e se transformou na realidade dos dias atuais.
Era uma cidade pequena mas dotada de grande beleza, uma rua tranqüila onde a garotada jogava pião, fazia” guerrinha” com mamona, atirada com estilingue e brincava de esconde-esconde, até que alguém gritasse ser a hora do banho e do jantar.
O menino de então se transforma em um adulto, chefe de sua própria família mas não repete o que os seus pais faziam nas tardes quentes e por um único motivo: não há mais crianças nas ruas, as brincadeiras são outras e geralmente in door, até porque não dá para brincar carregando um computador e sem ele...
A cor morena e a pele queimada pelo sol, o esparadrapo no joelho protegendo o ferimento conseguido na “ pelada” na rua, as camisas rasgadas com seus botões perdidos , não mais se vê. Hoje, o computador e os seus jogos, confinam nossas crianças em quartos abafados durante horas e os corpos malhados e másculos deram lugar aos macilentos e arredondados de hoje.
-O que o senhor faz para evitar que os seus filhos façam isso?
-Quer saber mesmo? De verdade?
Nem no terreno da malícia, daquela sacanagenzinha que acontecia nas brincadeiras , nas quais havia amigas e amigas das amigas, as brincadeiras de médico, esconde-esconde onde os “pega aqui”, “ estica ali” aconteciam; nem o pé-de-ouvido ou o chute na bunda, vindo de algum pai ou irmão mais velho, acontece mais. A inocência de antigamente foi substituída pelo “ ficar” escancarado dos dias de hoje
-Inocência, o cara de pau?.
Mas uma lembrança...
Onde ela andará?
Era moreninha, muito da lindinha, corpo se formando mas já deixando vislumbrar o mais lindo poema da criação, olhos mais para o verde e o jeito inocente de olhar e de sorrir...e era brava que só ela.
Um domingo, na matinê, consegui permissão para sentar-me ao seu lado; tudo ia bem, até na mão eu peguei. “ Sem querer” toquei o seu joelho... nem a bomba de Hiroxima fez tanto barulho. Primeira descompostura pública da minha vida e um ano “ di mau”.
Hoje sou adulto e me pergunto: eu a amei um dia? Se não era amor, porque é só dela que eu me lembro ? Eu a amaria hoje?

Não sei como ela é...Então dou a resposta, sem vacilar:
-Sim, eu a amaria.
Quando o devaneio se prolonga, fecho os olhos e vejo o que poderia ser hoje, a sua silhueta.
E reitero:
-Sim, eu a amaria.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

quinta-feira, 11 de março de 2010

...SE LÁ !


......SEI LÁ !


Hamilton de Brito





Eu caminho ruma à vida

faço o recomendado

nem de um ou outro lado

mas não sei...não dá !

sou modelo de otimismo

me empenho em ser feliz.

Nasceu torto...morre torto

pelo menos , é o que se diz.

Há quem diga que é inato

sei lá !

Sou mesmo é bicho do mato.

Nunca matei passarinho,

canela de tia, não chutei;

no cruzeiro, não mijei

diabo!

o que se passa comigo?

Não tenho por rei, meu umbigo,

sou amigo de amigo e nem assim a coisa anda...

Me empenho numa luta

e aquela filha da puta

de mim, nem quer saber.

Filho:

no fim, tudo dá certo.

Sabedoria popular

ou

das massas, estupidez ?

Como diz aquele sobrinho

que mais doido

nunca se viu

vou cuidar da minha vida

e o resto

que vá pra puta que o pariu



Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

quinta-feira, 4 de março de 2010

MON DIEU !

ARTIGO PULICADO NO JORNAL
FOLHA DA REGIÃO
CADERNO VIDA - D2
dia 10 de março de 2009
- SOLETRANDO - artigo@folhadaregiao.com.br



Ricardo, de repente, estava com o bolso cheio de dinheiro....e sem emprego. Qual a providencia nessas ocasiões? Sem dúvida, buscar logo uma nova ocupação e se possível, tão boa como a anterior.
Mas qual o que...
-Não quero nem saber...” se eu morrer amanha..." hoje eu vou viajar, completou, usando a mesma melodia.
E foi assim, como esse pensamento, tirado de uma letra de samba que tomou a decisão.
-Pai, vou conhecer Paris.
-Tá doido, filho. Desempregado e vai viajar para a Europa. Quando você voltar, vai estar mais duro que...bem, hoje em dia, não sei mais.
-Olha meu velho, vou trazer uma nora francesa, muito da linda e doida, daquelas que saibam dançar o can can.
O pai duvidou, a princípio achou que era da boca para fora mas de repente.
-Pai, leva-me para pegar o avião em São Paulo?
_Uai, eu falei que iria...
Quando chegou no aeroporto de Paris, sentiu até falta de ar; não acretitava, aquilo era muito mais do que imaginava.
-E agora, meu Pai, o que faço, por onde começo.
Pegou um táxi, tentou conversar com o motorista:
-Mon amie, je sui três fatigué. Je querrô um bonne hotel.
-oui, oui.
Enquanto o táxi percorria as ruas, foi vendo: primei-
Ro a famosa Torre Eiffel, os grandes magazines, até chegar ao hotel. Nem descansou direito.Banhou-se, colocou uma roupa limpa e rua.No saguão, pensando que estava no Brasil, perguntou em tom , lá alto, aqui natural, como chegava ao metrô. Logo foi admoestado:
-Docteur, silence; qui est-ce!
-Cacete, povinho cheio de frescura.
Comprou um carnê do metrô e começou a turnê pelo centro. Champs Ellysées; chegou à Estação Charles De Gaulle Etoile, dando logo de cara com o Arco do Triunfo...gelou, quase caiu das pernas. Mas precisava delas e continuou.Logo mais o largo Place de la Concorde.
-Monsieu, pardon...
-Hein! não entendo. Je ne parle pas votre...não, não estou falando...diabos!
Não entendia muita coisa...mas via, que cego o tonto não era.
Alta, cabelos pretos, olhos mais verdes que o mais verde das águas do mar, o sorriso era uma canção de ninar.
-Por favor, entendes a minha língua?
-Sim, eu faço curso de línguas e estudo a sua. Se você quiser , eu posso servir de cicerone, assim pratico um pouco.
-Que lindo, então aqui é o Jardin des Tuilleries, Musée du Louvre. E assim ela foi mostrando.No outro dia, encontraram-se novamente e pela Rue de la Varenne chegaram até Museu Rodin. Também conheceu o Musée D’Orsay. Atravessou o Senna pela ponte de pedestres Solferino e tirou varias fotos.
Ainda teve tempo de conhecer Église de Sacre Coeur e mais um dia se foi.
Convidou a deusa para passar a noite com ele no Reginne...
-Você não acha que é prematuro, nos conhecemos há pouco. N’est-ce pás, monsieur?
-C' est vrai, madame...
-Bem, já que concordou, eu aceito.
O coitado quase teve um infarto.
-Escuta, você sabe dançar o can can?
Ela sorriu um sorriso que parecia mais um hino ao amor que um sorriso e disse:
-Filho, acorda, você me pediu que te chamasse as oito.


José Hamilton da costa brito, membro do grupo experimental da academina araçatubense de letras.