Meu primeiro livro virtual

sábado, 31 de outubro de 2009

YES...IS A TRAMP



Nasceu lá para os lados do pantanal mato-grossense e veio para a cidade grande ainda menina.
Aquela vidinha que toda criança tem: grupo escolar,a casa, os amiguinhos e a vida...indo.
Mas se havia algo nela, era a capacidade de observar e comparar; foi percebendo que a casa da Juna, era mais bonita que a sua, que Luíza sempre tinha um vestido novo para sair, que o pai do Turcão tinha um carro novo.
Sobretudo, reparava no ar cansado da sua mãe, na falta de um sorriso mais amplo do seu pai e que sua irmã mais velha, evitava sair com as amigas e vivia trancada no quarto.
Sempre faltava um sapato melhor, uns trocos na carteira, um bilhete para o último ônibus.
Foi crescendo e cada vez se amargurava mais.
- Não sei o quanto vai me custar, mas comigo vai ser diferente; se a vida ou o destino querem fazer o mesmo comigo, estão enganados...aqui,o muro é mais alto.
Já na faculdade, conheceu Tibério. Tipinho mais tipinho, não seria possível...mas tinha dinheiro, grana, a chamada “ bufunfa”. Ai, pensou aquela nascida no pantanal, está a sua beleza.
-Oi Tibério, você já tem companhia para ir ao baile do diretório acadêmico?
Claro que não e ela sabia. Quem iria sair com uma coisa ruim daquelas. Foi alvo de risadinhas, de piadinhas e até comentários mais atrevidos:
Ei fofa! saiu com a placenta?
Ela...ah! sim, o nome dela é Cacilda. Então Cacilda pensou:
-Placenta ou não, vai resolver minha vida. Se pensam que vou passar a vida igual minha mãe e minha irmã, que se casaram com uns trastes, estão enganados.
-Cacilda, o ano que vem a gente se forma, eu retorno para a minha cidade e acho, então,que temos que conversar.
A sujeita se fez de desentendida e perguntou coma cara mais...mais deste mundo:
-Uai amor, conversar sobre o que ?
-Bem, eu te amo e você me ama, assim é natural que queiramos ficar juntos a vida inteira. A melhor maneira é a gente se casar.
-Eu te amo, você me ama...a sua famíla nos amará estando casados? Sou pobre ; eles não sabem nada sobre mim.
-Bem, eu não te disse, mas o meu pai faleceu e era viúvo. Sou filho único, o inventário foi concluído e sou dono da minha vida e dos bens que eu herdei. Só dou satisfação a mim mesmo.
-Oh! Querido, como eu lamento, como estou sofrendo por você.
Mas dentro do coração, se o ton...digo, o namorado pudesse , ouviria:
-Aleluia, aleluia, aleluia,aleluiaaaa!!!!!
O ano foi embora, a diplomação aconteceu e o casamento foi....com comunhão universal de bens.
E houve um fato importante. O noivo chamou para seu padrinho, um primo. Sujeito sarado, moreno, olhos verdes e um sorriso, daqueles que como se diz no pantanal, tirava pica-pau do oco.
Cacilda teve certeza que seriam felizes para sempre.
Não sei, teria sido por uma historia como essa que alguém fez a letra de That lady is a tramp?

José Hamilton Brito, membro da academia experimental de letras.




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PODER DA PALAVRA


PODER DA PALAVRA


Foi em GRANDE SERTÃO: VEREDAS que Guimarães Rosa escreveu que viver é perigoso.
Falar também pode ser.
Tem até aquele ditado que anuncia que quem fala o que quer, ouve o que não quer... isso, quando não recebe uma bala.
-Hein! Fala o que quer e ainda recebe uma bala, tá doido?
-Bala, do inglês Bullet, sua anta.
Alguém já disse que as pessoas não foram preparadas para escutar o que falam. São poucos os que “se escutam”; daí, o alto grau de desgraceira que o fato provoca.
Segundo o mestre AURÉLIO, palavra é a unidade mínima com som e significado, que pode, sozinha, constituir enunciado.
Ela pode sozinha fazer lindas coisas se houver a boa vontade das pessoas; assim, só usando verbos em ar: reatar, consolar, curar, educar, namorar. Todavia, se a pessoa não se escuta, podemos ter: destruir, desunir, mentir...
A palavra pode fazer com que surja o amor, mas também o ódio.
Um grupo de palavras pode redundar em Ave Maria, gratia plena, dominus tecum, benedicta tui in mullieribus et...
Uma palavra sozinha: tramp, morra... mas pode ser: amor, querida, mamãe, filha...
Ela pode dar confusão entre pessoas e entre povos; ela pode dar prazer à vida e fazê-la menos perigosa. Basta que nos ouçamos antes de dispará-la, pois ai ela pode ser bala... não a de chupar. Pensar para falar é fundamental.
Rubem Alves, citando Guimarães Rosa diz que feiticeiro é aquele que diz uma palavra e, pelo puro poder desta palavra, sem o auxílio das mãos, o dito acontece.
Entre os normais, quando a palavra é mal usada, acontece o dito e a desdita.
- Certo. Então o melhor é ficar de boca fechada, até porque segundo consta, com ela fechada, mosquito não entra e ainda que o silêncio é ouro e finalizando, se falar fosse mais importante que ouvir, a gente teria duas bocas.
Mas falar é preciso.
Sobretudo nos dias atuais que compõem a chamada era da comunicação.
Nunca as pessoas se comunicaram tanto; a tecnologia,favorecendo-a, aproximou fronteiras e a distancia está na tecla do enter.
Tem muita gente que se preocupa em falar bonito, quando deveria se preocupar com o pertinente, o correto; palavras de conforto e incentivo e fazer-se acompanhar de gestos e expressões que transmitam carinho. Quando houver motivo justo para um descontentamento, fazê-lo com parcimônia e respeito pelo próximo.
Apenas para não deixar de fora, nenhum lugar-comum, ainda temos o: é conversando que a gente se entende.
Mas não é somente falar, é preciso fazê-lo com coerência, com ênfase.
-Mano, o que é coerência?
-É conexão, harmonia entre as partes que compõem um todo, é a existência de um nexo entre os pensamentos.
-Ah! Tá. E o que é ênfase?
- Ênfase é energia, vitalidade, realce no jeito de falar; é triste ficar ouvindo uma voz monocórdica , como se estivesse em um Ora pro nobis...ora pro nóbis...
-Pois é mano, havia tudo isso, todos estes trens ai que você falou: energia,ênfase, realce na palavra adeus, no momento em que ela foi embora.
Não fosse o dom da palavra, quem sabe...
José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PURCINA DE ALMEIDA

PURCINA ELISA DE ALMEIDA

José Hamilton da Costa Brito

Purcina Elisa de Almeida é natural de São Manoel,no Estado de São Paulo. Nasceu em 01 de novembro de 1881. Filha de José Mariano de Almeida e Maria Jacintha de Jesus. Concluiu os seus estudos, em São Paulo, no colégio Caetano de Campos em 1917, e em 1918 foi nomeada a primeira professora efetiva de Araçatuba, no Grupo Escolar Cristiano Olsen. No dia 07 de janeiro de 1921 casou-se com Antônio Ribeiro. Teve uma filha, Júlia Guiomar Ribeiro Gomes e três netos, Purcina, Paulo Boanerges e Heitor Gomes....

E ASSIM SE FEZ PROFESSORA.

“A missão da gente na vida é encontrar e seguir o próprio sonho”, Anne LeClaire.
Pois foi o que dona Purcina fez.
Acho que estamos aprendendo com a cultura oriental a expressar o sentimento de gratidão e prestar reverência àquelas pessoas que nos antecederam e que, com sua energia, dedicação e espírito de luta, deixaram um grande legado.
Ontem, o livro “Nos Trilhos do Centenário” em homenagem, segundo o mestre Hélio Consolaro, aos pioneiros que apostaram em Araçatuba; hoje, uma homenagem mais do que justa aos professores.
Dona Purcina foi uma mulher admirável e resoluta que soube transformar as dificuldades em realizações; acreditou que podia converter os seus sonhos em realidade, ao longo da vida.Ela sempre foi a gestora da sua carreira. Se o envelhecimento pode ser considerado um obstáculo, sempre soube se adaptar às novas necessidades que a vida lhe ia impondo.
Se houve momentos de crise, soube aproveitá-los para se reorganizar e seguir em frente..., dizia não ter tempo para perder.
Angústias, tristezas e problemas, os mais diversos, que são da natureza humana, nunca fizeram dela presa fácil das adversidades. Enfim, não temia o futuro. Olhava sempre para a frente e não compartilhava do pessimismo que grassava entre alguns dos seus parceiros de magistério.
Aprendeu a ser calma e perseverante para lidar com sua vida e com a vida daqueles que a circundavam.Se a compaixão é inata no ser humano, nela então foi a característica mais marcante;preocupava-se com as dificuldades e com as dores dos outros.
Segundo palavras do neto Heitor Gomes – “o poeta das multidões” – Dona Purcina não foi à procura do seu futuro nas cartas do Tarô; buscou-o no trabalho árduo, na dedicação à sua família e à sua profissão.Ainda, segundo Heitor, ela foi a primeira professora formada de Araçatuba e, além do seu trabalho oficial no Estado, no qual se revelou estupenda alfabetizadora, dava aulas particulares.
E como era ser professora na região de Araçatuba, naqueles tempos? A cidade era carente de recursos materiais e culturais, se sustentava, sobretudo na atividade agropecuária.Foi o contexto no qual se sobressaiu Dona Purcina.
Foi pioneira no magistério Araçatubense e por suas mãos, passaram ilustres figuras da nossa sociedade contemporânea. E não aconteceu por acaso. Ela possuía a capacidade de ouvir e aceitar os seus alunos. Estabelecia com eles uma relação de simpatia; compreendia as suas ações e reações; aceitava ou recusava suas atitudes, mas sempre estimulando e incentivando... Possuía o dom da flexibilidade.
Para ela, o aluno era uma pessoa digna de confiança. E, como foi também uma grande professora, imortalizaram o seu nome como patrona do então GESC do Jardim Juçara, desde 1971. Foi o reconhecimento da sociedade Araçatubense pela sua abnegação.
Segundo Thomaz Handy : " A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos"
Assim se fez professora.

José Hamilton da Costa Brito, membro do grupo experimental da academia



terça-feira, 20 de outubro de 2009

...SORRINDO

Artigo publicado na Folha da Região
Caderno VIDA - Soletrando
dia 22 de outubro de 2009
...Sorrindo


Melhor ser analfabeto.
Quanto mais a gente lê, mais fica sabendo de coisas esquistas.
Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou o seu lugar de sempre.
-Boa tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo, manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
O bar-man se afastou. Marco Antônio pegou sua revista preferida, um semanário de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim, de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido "pros quiabos" quando a sua namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um argumento de prova. Foi o senhor mesmo quem me ensinou. Não vem, não...
O advogado pediu uma salada completa como entrada, um Le Corti, um chianti clássico da região da Toscana; depois, salmão ao molho de alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço, estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
Após os acertos e de ter tomado um último drinque, se dirigiu para o carro, mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
No caminho para casa, vendo uma farmácia, resolveu ver como estava a sua pressão.
-Olha, vou atender o senhor mas as farmácias não estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as coisas para o povo, por que não fazê-lo, não é mesmo?
Pressão normal; tranqüilo, foi para casa. Até se esqueceu da matéria lida.
Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava, ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor ouvindo a canção.
Ele também gostava muito.
Por volta das onze horas, a santinha, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou deitado, sereno.
Tinha um sorriso nos lábios.

José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

TUDINHO


TUDINHO

Até que a manhã
Não era tão feia assim.
Mas... um vislumbre
Algo não vai bem!
O selinho...quase nada.
Um sorriso sem graça
Sintoma de desgraça...
-Eu preciso te falar
Confessar, não há mais jeito.
Quase um plágio...
É só ouvir o Roberto
Lembro aquele adeus!
A mão foi acenando
Ainda te vejo, partindo.
Agora, este teu email...
Que se repete a toda hora
Mas te pergunto: agora?
Agora, não quero mais
Curti em silêncio a desdita
Sofri a dor mais maldita
mas consegui te esquecer.
Agora, com esta cara lambida
Você vem pedir aconchego
No seio dos braços meus?
Escuta bem o que te digo
Vá pro diabo que te carregue
Mas passa em casa, primeiro
Esqueço tudo, tudinho
guardo as mágoas, num cantinho
pra te amar, mais uma vez.


José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CANÇÃO DE AMOR

Canção de amor

Os olhos... tinham uma cor de...sei lá, acho que Deus ainda não revelou ao homem um adjetivo que possa descrever tanta beleza.
A boca, lábios carnudos; os cabelos pretos e levemente ondulados desciam sobre os ombros, qual singelos fios de água, correndo pelas pedras.
O corpo... não era apenas uma questão de simples simetria. Passava mais que isso. Estava mais para sinfonia. N ao uma daquelas tipo Nona, daquele alemão , primo do Alzheimer e sim uma lembrando Vivaldi, bem suave. Olhando para ele, ouviam-se os querubins e serafins sussurrando uma canção de amor.
Depois chamam de fetiche a fixação por determinada parte do corpo. Alguns, mais tontos, gostam de pés e mãos... eu acho que mamei pouco.
Se há um lugar na terra no qual quero morrer, este é em um colo de mulher; melhor, daquela mulher. Ainda nem tão mulher assim. O criador ainda trabalhava naquele corpo de menina-moça e vocês sabem como Ele é generoso quando escolhe uma para tornar realmente bela.
Já tentei compará-la com tantas coisas: com uma flor, com a estrela mais brilhante, com a ravina mais verde, com o canto do pássaro mais canoro, com um sorriso de criança, com a dignidade de um rosto marcado pelo tempo.
Aqueles olhos... seriam verdes? Olhos verdes, já disse um poeta, são traição. O modo direto de olhar, a firmeza em sustentá-lo revelavam, no entanto, dignidade de caráter.
Pernas longas em um corpo longilíneo mostrando um equilíbrio entre as belas partes que compunham um todo mais que perfeito.
Não vou dizer que é uma deusa para não desmerecê-la; as deusas que conheço, inclusive aquelas mais bonitas da mitologia grega ou romana, ficam a lhe dever. As do mundo contemporâneo, as chamadas fashion, top model ou sei lá mais o que... tadinhas.
Cristo, que mulher é essa?
Então, estou aqui tentando descrevê-la, mas não encontro palavras. Comprar um dicionário? não vai adiantar.
Existem mulheres que são a imagem viva do pecado; o que ela passa não tem nada a ver. O Criador não daria a ela esse papel, mas eu adoraria pecar com ela, mesmo que tivesse de queimar eternamente em todos os fogos de todos os infernos e ter ainda como castigo, torcer pelo Corinthians.
São tantos os detalhes perfeitos. Pintá-la como descrevê-la só mesmo, só mesmo... só mesmo quem? Deus já a fez, retratá-la cabe a nós e nós, pobres de nós...
Se eu pudesse pararia o tempo, prendê-la-ia; mandaria em seu coração, penetraria na sua alma e faria das nossas vidas, uma linda canção de amor.


José Hamilton da Costa Brito, membro do grupo experimental da academia experimental de letras.



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

...acabou.




Era um sítio de duzentos alqueires; uma fazenda. Ficava nas margens de um rio com águas cristalinas e celeiro de bons peixes.
Uma casa de único cômodo, chão de terra batida , abrigava o velho Antenor, sua mulher Gervásia, o filho Tarcísio e a filha “ di menor”, Tereza.
Perto da casa um poço, que não era raso e mais distante, um chiqueiro. Quando fazia muito calor, o cheiro dos porcos e seus detritos entravam pela alma.
Infelizes?
Que nada.
Relógio e despertador eram obsoletos ali; o velho galo e o canto das maritacas no seu vai-e-vem mostravam o início de um novo dia, que de novo...
Cafezinho no fogão, cigarro de palha, um enroladino atrás da orelha e outro na boca, a foice na cacunda e lá iam, menos a “ di menor” para o roçado.
E assim eram todos os dias; feriado eles mesmo escolhiam quando fazer. Geralmente, pegavam a jardineira e iam para a vila fazer as compras daquilo que não produziam.
De tarde, ao voltar para a casa, pai e filho paravam no rio, cavucavam umas minhocas e sempre havia uma fritura ou ensopado na panela.
Duas coisas não conheciam: fartura e falta do essencial. É pouco, quase nada, mas muitos por este mundão de Deus não têm.
Todos os dias, ai pelas oito da noite, a lamparina era apagada e a paz reinava no pedaço. Como tinham muito amor para trocar mas não o faziam, cada um se ajeitava com sua esteira em um canto e...boa noite pai, boa noite mãe, a benção.
-Pai, to cansado dessa vida.
-Ah! Sabe que não penso em mim, que já me acostumei e não saberia viver em outro lugar, mas penso em você e, principalmente, na sua irmã. Que futuro tem a menina, vivendo assim.
-Intão, pai. O que a gente vai fazer. Dinheiro a gente não tem nem para mudar. Eu quero ir para a cidade. Gosto daqui . Onde mais eu posso pegar meus peixes, ouvir o canto do xororó, o galo-da-campina, o jaó, ver um por do sol como o daqui, pai?
-Fio, pega a jardineira amanha e vai lá na cidade; procura o cumpadi Zelão, fala se ele pode te arrumar aquele quartinho dos fundos inté você arrumá um emprego. Antonce nóis aluga uma casinha, eu arrumo tomem um emprego, sua mãe pode trabaiá nas casas de família e a gente se arruma ; com o tempo a coisa vai miorá.
Assim pensaram, assim fizeram. Logo o emprego foi arrumado, a casinha alugada, o pai foi ser guarda de posto de gasolina, a mãe lavava e passava “pra fora” e a menina entrou para a escola.
Mas quem trazia mais dinheiro para a casa, era o filho.
-Fio, onde é o seu emprego?
-Ah!Pai, trabalho com uns amigos, sou vendedor ambulante. Ganho comissões. Com pouco tempo, pai, arrumo nossa vida.
-Deus te abençoe, fio.
Realmente, em pouco tempo, até carro, um fusca velho mas em bom estado, o rapaz comprou.
E a vida ia bem, muito bem...
Até que um carro com as cores vermelha, preta e branca, parou na porta... Tarcísio foi levado.
-Pai, e agora, a gente volta pro mato? Eu não quero, pai.
-Fia, to muito desgostoso. Nossa vinda pra cidade, só trouxe desgraça. Aqui não é lugar pra gente.
-Mas pai, quero estudar, ser alguém nesta vida. Lá na roça, o que vai ser de mim.
Não teve jeito. Voltaram. A roça os recebeu de volta... e no rio, um corpo, foi encontrado, boiando...era o corpo de uma moça.


José Hamilton Brito, mmbrodo grupo experimental da academia araçatubense de letras.

domingo, 4 de outubro de 2009

EDILEUSA





Naquela manhã, Edileusa não acordou legal.
- Quibe desgraçado.
Era uma jovem desinibida, acostumada a ganhar no grito; palavreado remonta ao cais onde seu pai trabalha.
Cresceu no meio de homens e mulheres rudes; os de sua idade, eram um grande desafio para a sociologia
Caçula, cozinhava, lavava as cuecas e as calcinhas impregnadas dos fluidos dos irmãos e irmãs adolescentes.
Se mandava tudo à merda, desaforo e até alguns tapas do pai.
- Pô, depois vem o padre dizer que tudo acontece porque Deus quer... Quis levar minha mãe?! Mando esse padre...
A vida corria em sua rotina.
Namorado?
- Quem vai querer namorar uma merda de garota igual a mim, com uma família de ignorantes.
Foi jogar o lixo em um terreno baldio e viu. Devia ter uns cinco ou seis anos mais que ela; alto, cabelos loiros... e sarado.
- Deus, se tudo acontece porque o Senhor quer, manda este sujeito para cima de mim... encaro.
O carinha jogou o pacote dentro do terreno e Edileusa, o dela, em cima dele.
-Perdão, não tenho pontaria.
- Perdôo, mas presta atenção na próxima vez.
- Qual é o seu nome?
- Mariano.
- Mariano, vai pra puta que te pariu.
O que Deus jogou, Edileusa rebateu de primeira.
O Criador não desistiu. Uns três ou quatro dias depois, dançava na discoteca da Associação dos Amigos do Cais. Estava lá o Mariano.. sorriu para ela.
-Maldito, se me convida para dançar, vou mandá-lo para... o meio do salão e corro atrás.
Um sorriso, um vou te levar pra casa, um ta bom, u”a mão na mão, u”a mão naquilo, um aquilo na mão e a vida seguiu o seu santo curso.
Edileusa amou com paixão e assim foi amada. Gentilezas, expressões e gestos de carinho, nem pensar... e era o que recebia de Mariano.
- Hoje recebi o salário; comprei o jogo de cozinha para a nossa casa.
Assim foi pedida em casamento. Ela vinha se esquivando aos desejos dele aos seus próprios e tomou uma decisão.
- Amor, se você quiser dou o que você quer.
- Legal! Você comprou?
-Uai, que história é essa de comprou.
-O CD do Leonardo que eu quero?
-Escuta aqui, seu filho... que cacete de Cd...vai pro diabo.
O “beicinho” criou um clima de deixa disso, vem pra cá. Os zíperes se abriram, as casas dos botões ficaram vazias e o amor se deu. Nas preliminares parecia uma brisa suave. Logo depois, verdadeiro tornado.
Alternando brisas e tornados o tempo passou, a casa foi montada e chegou o grande dia... quer dizer, o dia do casamento. O grande dia havia acontecido há algum tempo.
E foram felizes.
- Amor, tá esquisito; uma azia, sei lá que diabo é isso...
-Ah! Não dá nada, não. Toma um trem qualquer para o estômago, que logo passa.
- A gente vai no pesque-pague?
-Claro. Se arruma logo; você na frente do espelho é uma desgraça. Vai logo tomar seu banho.
-Vai primeiro . Fico um pouco mais aqui na cama; terminando, me chama.
Mariano no banho, ia conversando com Edileusa, que respondia às suas perguntas.
-Amor, esqueci a toalha; dá uma , por favor.
-Edileusa, a toalha, amor.
- Cacete, vai me trazer a toalha ou não?
-Edileeeeeuuuusaaaa!!!!!!!!!!!
- Desgraçada, dormiu.
Sim, ela tinha dormido.
O sintoma que parecia ser um transtorno estomacal ou hepático... não era.
José Hamilton da Costa Brito é membro do grupo experimentl da Academia Araçatubense de Letras

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

...IGUAL A VOCÊ



...IGUAL A VOCÊ


Você não olha nos meus olhos

É por causa da sabedoria popular:

O olho é o espelho da alma.

Do que você tem medo?

Será que esconde um segredo

Que não é para eu saber ?

Não tenha essa preocupação

pois as coisas de um coração

se mostram em inúmeros sintomas.

provocam efeitos colaterais

e quando a gente percebe

esconder, já não dá mais.

Por exemplo, presta atenção

aqueles teus beijos de língua

se transformaram em selinho

os teus agarras sarados

viraram meros tóquinhos

e do orgasmo, outrora, pontual

não há vestígio, não há sinal.

Enquanto o meu corpo se saceia

o teu famoso tesão...escasseia

Era um puro amor, quase divino

agora é uma merda, amor de cretino

Não há mais nada a fazer

então, pega o teu rumo, querida

Vá em busca da felicidade

Existem outras mulheres no mundo

Eu vou buscar, na verdade, uma

uma que seja igualzinha a você


JoséHamilton Brito, membro grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras.


EU SABIA


EU SABIA


Eu sabia...advinhava.

pudera, eram tantos os sinais.

Nossos olhares...distantes.

Nosso humor...inconstante.

Um sei lá...um não sei o quê!

Intervalos bem maiores

...no ir e vir.

por boa que fosse a piada

...apenas um sorriso.

Nunca mais a gargalhada...

Enfim...não havia mais nada

Mostrando existir um amor.

Os grandes, os maiores sinais

Vieram do aparelhinho

O tal do celular.

Eu...atendendo sem graça.

Você atendendo mais longe...

Era um tal de: dá licença?

A fortalecer a crença

De que algo acontecia.

E fui tendo a certeza

Um sonho comum, se perdia.

Então, em fio de vóz

falando, até por nós, você disse:

Vamos manter a nossa amizade

Nos encontraremos se houver desejo

Não vamos perder o ensejo...

Hoje, os amigos fazem amor.

O que me resta, pensei eu...

Antes pouco do que nada.

Mas, ao pensá-la em outros braços

Tropecei nos meus próprios passos

E nunca mais me levantei


José Hamilton da Costa Brito é membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras.