Meu primeiro livro virtual

sábado, 15 de dezembro de 2012

TEMPO BOM
Tempo bom, que não volta mais...! Pudera, eu tinha entre quinze e dezoito anos. Acho que tudo é bom quando se tem... muito bom. Mas, podia melhorar e melhorou, mesmo tendo que enfrentar o Sargento Torres, lá no Tiro de Guerra, Ele sabia morder, mas sabia assoprar também. Uma vez nos pegou de farda, na Capitão Vitorino...Putz grila, era Campo Grande, com certeza. Mordeu doído, depois assoprou. Carinha maneiro; que esteja bem onde estiver. I.E., na frente, aquele murinho, a gente ficava por ali. Qualquer janela entre as aulas e íamos para lá. Até que veio a quermesse da creche Santa Clara de Assis. Assim que o Carlos Gonzaga começava a cantar Diana, não ficava ninguém nas salas de aula. Época do Cine São Francisco, seis horas e as filas imensas. As lindinhas fiavam sentadas e os lindinhos, a circularem, pisca daqui, pisca dali até... Bimba, a cadeira ao lado estava guardada para algum herói. Um dia, um conhecido estava com a mão no ombro da namorada; veio o lanterninha: - Tira a mão daí. - Moço, ela é minha noiva. - Tira a mão daí, moleque. Tirou. E colocou na fuça do camarada, que saiu rolando pelo magnífico e sujo tapete vermelho. Enquanto isso, respeitabilíssimo senhor que hoje circula pela velha senhora, como diz o Napo, queimava aqueles barbantinhos fedidos, lá em cima, no Pullmam. No toca discos cedido por uma firma, ouvíamos Agostinho dos Santos, Trio Irakitam, Xavier Cugat, Connie Francis, Eddie Gourmet, Los Panchos, Perry Como, Toni Bennet. Graças a Deus não haviam inventado o pagode e o funk e sertanejo, só se ouvia nos rádios. Depois, o fut, futi, fute, ,o footing...Ah! sei lá Se ontem fosse hoje, depois do cinema, em vez do footing, a moçada iria a procura dos videokês do Tom, da Rita, do Iari, do Sizar, destas pragas que infestam a cidade. Um interminável vai pra lá, vem pra cá. Agora, elas é que andavam. A moçada, parada na calçada, com aquele jeito Alain Delon de olhar, cigarro na boca pendurado a La Humphrey Bogart, cara de John Wayne enfrentando o Touro Sentado. Não sei como a gente não ficava cego de tanto piscar. Pingüim, Delícia, Marajoara, Saci, Bancários, T. Maia. Tudo ali na mão. Ai, a gente ia levar a eleita - em alguns casos, a coitada - até a sua casa. No velho oeste havia menos perigo, mesmo com Apaches, Chayenes, Sioux, Utes, Cavalo Sentado , Cochise, o diabo. As turmas dos bairros: turma do Santana, da Santa casa, da Estação, do Bairro São João... pelamordeDeus!!!! Nunca levei tanto tapa na oreia... -Hein! Tapa na orelha? Tapa na orelha era coisa de bambi; o correto para um macho era mesmo tapa na oreia. Levá-los-ia novamente. Dançar em Birigui, no Nipo-brasileiro era outro suicídio. Até a desgraçada da litorina chegar aqueles índios ficavam no cerco. Hoje Araçatuba é outra cidade, mais moderna e cheia de graça, mas aquela eu não esqueço. Também não sei se é dela que eu tenho saudade. Acho que tenho saudade mesmo é de mim...e dela. Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.cm
Tempo bom, que não volta mais...! Pudera, eu tinha entre quinze e dezoito anos. Acho que tudo é bom quando se tem... muito bom. Mas, podia melhorar e melhorou, mesmo tendo que enfrentar o Sargento Tôrres, lá no Tiro de Guerra, Ele sabia morder, mas sabia assoprar também. Uma vez nos pegou de farda, na Capitão Vitorino...Putz grila, era Campo Grande, com certeza. Mordeu doído, depois assoprou. Carinha maneiro; que esteja bem onde estiver. I.E., na frente, aquele murinho, a gente ficava por ali. Qualquer janela entre as aulas e íamos para lá. Até que veio a quermesse da creche Santa Clara de Assis. Assim que o Carlos Gonzaga começava a cantar Diana, não ficava ninguém nas salas de aula. Época do Cine São Francisco, seis horas e as filas imensas. As lindinhas fiavam sentadas e os lindinhos, a circularem, pisca daqui, pisca dali até... Bimba, a cadeira ao lado estava guardada para algum herói. Um dia, um conhecido estava com a mão no ombro da namorada; veio o lanterninha: - Tira a mão daí. - Moço, ela é minha noiva. - Tira a mão daí, moleque. Tirou. E colocou na fuça do camarada, que saiu rolando pelo magnífico e sujo tapete vermelho. Enquanto isso, respeitabilíssimo senhor que hoje circula pela velha senhora, como diz o Napo, queimava aqueles barbantinhos fedidos, lá em cima, no Pullmam. No toca discos cedido por uma firma, ouvíamos Agostinho dos Santos, Trio Irakitam, Xavier Cugat, Connie Francis, Eddie Gourmet, Los Panchos, Perry Como, Toni Bennet... Depois, o fut, futi, fute, ,o footing...Ah! sei lá. Um interminável vai pra lá, vem pra cá. Agora, elas é que andavam. A moçada, parada na calçada, com aquele jeito Alain Delon de olhar, cigarro na boca, pendurado a La Humphrey Bogart, cara de John Wayne enfrentando o Touro Sentado. Não sei como a gente não ficava cego de tanto piscar. Pingüim, Delícia, Marajoara, Saci, Bancários, T. Maia. Tudo ali na mão. Até a ZBM era ali perto. -Hein? Não sabe o que era ZBM? Não acredito...Zona do baixo meretrício. Por que baixo, eu não sei. Nunca conheci um alto. Vou perguntar para o Heitor Gomes, que conhece bem o assunto.
Ai, a gente ia levar a eleita - em alguns casos, a coitada - até a sua casa. No velho oeste havia menos perigo, mesmo com Apaches, Chayenes, Sioux, Utes, Cavalo Sentado , Cochise, o diabo. As turmas dos bairros: turma do Santana, da Santa casa, da Estação, do Bairro São João... pelamordeDeus!!!! Nunca levei tanto tapa na oreia... -Hein! Tapa na orelha? Tapa na orelha era coisa de bambi; o correto para um macho era mesmo tapa na oreia. Levá-los-ia novamente. Dançar em Birigui, no Nipo-brasileiro era outro suicídio. Até a desgraçada da litorina chegar aqueles índios ficavam no cerco. Hoje Araçatuba é outra cidade, mais moderna e cheia de graça, mas aquela eu não esqueço. Também não sei se é dela que eu tenho saudade. Acho que tenho saudade mesmo é de mim...e dela. Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia Araçatubense de letras -ciadosblogueiros.blogspot.com

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nina voltou a Sorrento

Há muitos anos, na cidade de Sorrento, uma linda cidade que fica na extremidade meridional do Golfo de Napoli, nascia Natalina Ricci... A Nina. Veio visitar parentes no Brasil. Aqui conheceu um morenaço daqueles! Nunca mais Sorrento viu Nina, nunca mais Nina viu Sorrento. Mas nunca deixou de sonhar em um dia retornar à sua cidade querida. Não havia revista ou disco com músicas italianas que Nina não possuísse. Ouvia músicas o dia inteiro, sobretudo duas que amava: Ó sole Mio e Torna Sorrento, com Beniamino Gigli, para ela, o rei da voz italiana. Trabalhando na lavoura com o marido, no interior de São Paulo, viu o patrimônio crescer, a família crescer, a esperança de voltar à bela Itália crescer e.... Ficou viúva. Os filhos tomaram conta dos negócios, depois os netos incorporaram-se na administração, sempre prometendo à velha, que "o ano que vem a gente leva a senhora para ver o papa". _Io non quero ver o papa, filho de uma putana, quero voltar a Sorrento! Perto da sua propriedade rural, abriram uma lanchonete que recebeu o nome do dono: Lanchonete do Lindauro. Especializado em assados e cervejas estupidamente geladas, o ambiente passou a ter nas sextas feiras, período noturno, um videokê, administrado por uma simpática morena, a Rita Peres, que estranhamente tinha o apelido de “mundiça”. Como sucesso pouco é bobagem, a coisa “bombou”. Para arrumar uma mesa e quatro cadeiras, só com promessa para Nossa Senhora da Caropita. Há muitos anos , só que menos do que haviam passado desde o nascimento de Nina, nascia em Araçatuba, José Otirb. Otirb, enquanto levava a vida de formiga, só tinha tempo para a sua família e sua profissão. Só lia matéria destinada a melhorá-lo como profissional. Cantar? ...nem pensar. Mas a aposentadoria chegou. Ficou meio perdido. - E agora, José? -Agora, você é cigarra. Não viveu a vida inteira como formiga? Assuma o seu novo status e seja feliz, na medida do possível. Havia perdido o elo com os amigos de profissão. Quando com eles se encontrava, era só alegria, abraços... No começo do encontro. Depois, eles falavam das coisas que ele viveu a vida inteira, cessava a interação e vinha uma tristeza infinita. Nunca mais foi ao encontro da velha e querida galera. Tudo ficou no passado. Mas para Otirb, nunca houve a esperança da volta, de um reencontro, pois as leis de mercado são inexoráveis. Arrumaria uma nova turma... UMA NOVA VIDA. Perto da sua casa inauguraram o Cantinho do Lanche e colocaram para chamar a atenção dos passantes, um videokê. Começava aí a formação de uma nova turma.... O INÍCIO DE UMA NOVA VIDA. Otirb foi encostando aos poucos e mandava marcar o seu nome. O organizador chamava e ele não ia. Medo. Aconteceu umas três ou quatro vezes. Na última o sujeito ficou bravo; _ O senhor está me fazendo de besta? Ou canta ou vai se ver comigo. Se ver como? O cara era grandão, marombado. O jeito foi atender o seu pedido... pedido! Cantou, ainda se lembra, Brigas, do Altemar Dutra. . “Duas almas que o destino, um dia escolheu.....” Pois bem, na Lanchonete do Lindauro, o destino reuniu Nina e Otirb. Este havia cantado Ó sole Mio. Ela se emocionou. O neto dela, pediu que ele cantasse, se soubesse, Torna a Sorrento. Ele sabia. Pegou Nina pelos braços, ela apoiada na bengala e ao seu lado, começou a ouvir a canção. Um imenso e respeitoso silêncio recebendo a voz e a emoção da anciã. De repente, Nina desfalece e ambos vão ao chão. Um médico que estava presente constatou a morte súbita da velha senhora. Motivo: violenta emoção. Até o momento do enterro, Nina mostrava um teimoso sorriso nos lábios. Segundo o neto, o espírito de Nina havia retornado a Sorrento e lá ficará até o dia em que voltará a encontrar o seu corpo, quando Ele julgar os vivos e os mortos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O amanhã começa agora

.

-Bom dia, coisa ruim.

_ Vá pro diabo.

-Você tem visita.

_Não quero ver ninguém. Nem hoje, nem nunca.

-Problema seu. Mas a moça disse que é sua filha.

Rapidamente voltou para os seus vinte e dois anos de vida.

Colégio São Domingos Sávio, turma que se formava para o magistério primário. Como foi indicada para ser a oradora  procurou ajuda em Fernando, um aluno brilhante do curso noturno.

Dois ou três encontros, o discurso ficou uma beleza; no baile de gala da formatura, não saiu um minuto dos braços do amigo.

Mas , acabadas as festividades, veio a hora e encarar a vida. Início de carreira , foi  dar aulas no meio rural. Voltava à casa dos pais a cada 15 dias não só pela distância mas,  também para economizar algum dinheiro. Queria melhorar a casa paterna e comprar um carro. Estes eram os objetivos mais prioritários.

Ficou muitos anos sem ver Fernando. Mas lembrava-se dele com carinho. Nunca contou para ninguém mas, naquela noite após o baile, ela foi para a casa dele e passou noite. Entregou-se para o que seria o primeiro homem da sua vida. Amou-o, a principio, com recato, com limites mas, à medida que os carinhos dele intensificavam-se ele ia aumentando os pedidos; um Kama Sutra teria sido pouco para relatar o que fizeram.

Se naquela noite fez de tudo com um homem;  há muito tempo não fazia nada com homem algum.

Prestava os concursos para efetivar-se mas , ora não pegava classificação e quando pegava, anulavam-nos por irregularidades constatadas.

Oito anos deu aulas na roça. Quando começou a gostar da coisa , pois havia atrativos no meio rural, passou no concurso e assumiu uma classe em uma cidade satélite à sua.

Um ano e meio depois , ao entrar em uma livraria, algum colocou a mão no seu ombro:

_ Olá!

_Fernando.?!

A principio não levou o reencontro a sério. Uma coisa estranha, algo no sorriso dele, no jeito de olhar. Não sabia explicar, mas houve uma inexplicável rejeição. Todavia, a beleza madura que ele mostrava, o assédio e as promessas de amor eterno foram solapando a sua resistência e as noites de amor intenso e louco foram tornando-se mais frequentes.

Apresentou o amigo-namorado-amante à família e não achou estranho quando o pai lhe disse:

_ Filha, algo neste seu amigo não me agrada. Ele fala com a gente mas, não encara. Foge dos nossos olhos.

Q desejo dela de terminar a relação foi pressentido por Fernando que tratou logo de estabelecer um elo forte com ela e o fez através de um filho.

Mas tiveram uma filha.

Ela percebeu que um carro escuro costumava passar lentamente pela sua casa. Às vezes estacionava, ficava horas. Falou com Fernando e ele disse que não era nada, impressão dela.

Um dia, Fernando sumiu. Telefonou dizendo que ela deveria sair daquela casa o mais rápido possível e deveria viajar sem o carro. Ir de ônibus.

Mesmo sem entender nada, foi para a casa do pai, mas foi com o seu carro. No caminho foi interceptada e colocada sob a custódia do estado. No veículo foram encontrados vários quilos de cocaína, dentro dos pneus, nos bancos, no teto . Pior, foi encontrada uma arma e esta fora usada para matar um policial. Tinha as impressões digitais de Fernando.

Como cúmplice foi julgada e a pena máxima lhe foi aplicada. Mas o pai de sua filha sumiu e nunca foi encontrado.

Foi tomada de um sentimento mortal de ódio por homens. Na cadeia, quando assistida por um, dava-lhe o maior trabalho, com ofensas,, ataques físicos. Na sua cabeça, alimentava o sentimento de vingança. Um dia se vingaria , se não em Fernando e um outro homem qualquer.

Nunca mais viu a filha. O seu pai morreu; a mãe doente sempre cuidou da menina , providenciou os estudos e tudo o mais....Mas nunca levou a neta para ver a mãe.

Dezenove anos se passaram.

-Então coisa ruim. Mando a moça embora ou você vai recebê-la?

Medo, desejo de ver a filha, vergonha de ver a filha....filha, filha., filha...


De repente viu-se repetindo indefinidamente : filha...

-Vou receber minha filha, por favor, tragam-na até mim.

_Vou recomeçar a viver, esquecer todos os maus sentimentos; esta visita da minha menina marcará minha mudança e se é verdade que o amanha é a soma de todos os “agoras” , este será o primeiro de muitos que formarão um mundo maravilhoso para nos duas.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com











terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amém, o escambau





No teatro Castro Alves, foi encenada a peça AMÉM.

Deu origem a uma crônica e nos comentários viu-se como o absurdo ainda pode dividir pessoas.

Qual o absurdo?

Bem,   a crônica já informa que o autor- ator da peça gosta de escandalizar com o nu, tendo-o como último argumento para convencer o público. Logo, o juízo de valor sobre a qualidade do ator já começa por aí.

Questiona-se o cristianismo, a forma como ele trata a sexualidade e afins.

Questionar o cristianismo... ate eu que já estudei para ser padre, questiono. São tantas coisas: celibato, Inquisição, Venda de indulgências, posição discutida da igreja na figura do seu papa da época da segunda guerra, José Pacelli, o Pio XII, Teoria da Libertação, aborto e outras. Tudo fruto de dirigentes circunstanciais que erraram e não da religiao.

Assim, creio que um ateu também tem o direito de fazê-lo. Mas é o como fazer que discuto aqui.

Na peça, o ator passa o crucifixo na sua genitália “como forma de abençoá-lo” (sic).

Fiz um cáustico comentário desaprovando o ato e nele emito a minha opinião fazendo referência à qualidade de um ator que precisa do escândalo para fazer-se notar, como disse  o autor do texto e dono do blog.

Logo, discordaram veemente da minha opinião. Por sinal, acho que os discordantes advogam em causa própria. Um gosta de poesias feceninas, tendo declamado algumas até em capelas santificadas. Claro, aconteceu por um descuido do padre, que se o pega, iria capá-lo. O outro é ateu de carteirinha. Têm o direito de serem assim, pelo menos não são Corinthianos.

Os dois foram taxativos: o ator-autor pode tudo em nome da arte, expressar-se como queira. Que o autor-ator tem conflitos com a sua sexualidade e é normal expressá-los em sua arte. Tem conflitos com a sua sexualidade...! tá bão”! Não fui eu a fazer tal afirmação, que fique claro,

O outro diz que Deus e religião são criações do homem e não estão isentos de contestação. Um  inverte e diz que o homem criou Deus à sua imagem e semelhança...Só rindo.

Diz ainda que quem precisa assistir à peça não estava lá e sim assistindo a algum culto. Eu estava cantando e dançando em Água Limpa.

Quem abraça tudo o que de insensato o mundo oferece abraça a teoria do absurdo.

Não se trata da crítica, mas repito, de como ela foi feita.

Já assisti Paulo Autran, Nanini, Raul Cortês, Fernanda Montenegro e nunca vi ou ouvi falar que fizeram estas palhaçadas para projetarem os seus nomes.

O su]eito tem suas limitações, não acredita em nada, nada é verdadeiro então arremata: tudo é permitido.

O teatro como a poesia, é totalmente livre. Não é o que diz o mestre Consolaro:

_Mirto, liberdade plena não existe.

Em Irmãos Karamazov há esta fala: “se não existe a imortalidade da alma, então não existe tampouco a virtude, logo, tudo é permitido.”.

Deus morre quando a civilização conclui pela irremediável ausência de valores e sentidos definitivos.

È o acontece com o grande, maravilhoso ator de Amém e com os seus defensores.

Palavras de um ateu:,  " acho que o ateísmo em si, quando desvinculado de políticas concretas ou sistemas éticos, acho-o estéril . Depois do deslumbramento, ficar só no ateísmo é como recusar-se a sair da puberdade filosófica, e dormir no jardim da infância do pensamento e da liberdade"

Querem discutir Deus, religião, política, futebol, sexualidade, o Lula, o diabo façam-no mas com classe. Discordem em alto nível respeitando sempre o antagonista de suas ideias. Um argumento será sempre forte na medida em que você se preparou para defendê-lo. Caso contrário é o que se vê, a linguagem da apelação, da baixaria.
-Ah! nao quis defecar sobre valores alheios .
Nao quis mas defecou.

Um chuta uma imagem de santa, outro passa um crucifixo na genitália... outros defendem uma desgraceira dessa. Daqui a pouco, em nome da arte, vão invadir sua casa, pegar a sua filha, levá-la para um palco e estuprá-la.

Uai, tudo não é permitido em nome dela?

Hamilton Brito é membro do grupo experimental da academia araçaubenswe de letras-iadosblogueiros,.blogspot.com

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Uma vela




Eu nem queria tanto da vida

Sempre tive desejos modestos.

Gente que sonha com riqueza

Levar a vida na boa, na moleza

Eu nunca pensei nestas coisas...

Acho que foi influência materna

Vinda de uma mãe rica e terna

Que nunca se prendeu ao material.

Só busquei a riqueza do espírito

Em um mundo que só valoriza o ter

Fiz então o que precisava ser feito

Dando à riqueza o valor exato

Do exato valor que ela tem.

Mas na vida nada faltou-me

Só agora na iminência de deixá-la

Vejo que algo pra mim deu errado.

Não tenho ninguém ao meu lado

É a única queixa que eu levo dela:

Não ter quem que me acenda uma vela


Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspo.com



Opa, que bom!





Não que não haja mérito, uma vez que em matéria de arte, o ruim é inexistente. Existe a que você não gosta. Não há juízo absoluto, definitivo e sim relativo quando se analisa arte.

Ipso facto, hoje em dia Christian e Ralf, Matogrosso e Matias, Chitãozinho e Xororó, Sergio Reis, Roberto Carlos, a turma do sertanejo universitário são conhecidos de qualquer um, por menos que ouça música.

Poucos sabem, por exemplo, da existência de um Rachmaninov, grande compositor de peças para teclado posto ter sido grande virtuoso no instrumento; ou ainda Holst, que se interessou pelo folclore do seu país; Elgar, responsável pela valorização da música erudita britânica e outros ainda menos conhecidos.

Sem falar nos badalados Verdi, Schubert, Chopin, Mozart, Bach, Debussy e mesmo no nosso Villa-Lobos, que soube compor obras de raro talento e beleza.

Villa-Lobos não é o compositor apenas das Bachianas Brasileiras. Possui vasta obra para musica orquestral, música de câmara, para coral, piano e violão. Por incrível que pareça a sua obra é mais conhecida e executada no exterior do que aqui na sua terra.

Não mudou muita coisa se atentarmos para o século 19, época em que a música erudita não despertava muito o interesse das pessoas. Ouvia-se muito os italianos.

Já tínhamos um Alberto Nepomuceno, Brasílio Itiberê de Carvalho, hoje só conhecidos dos estudiosos da música clássica e por mais ninguém. Salvou-se, pelo sucesso que fez na Europa, o compositor Carlos Gomes.

Muitos conhecem Radamés Gnatalli, Francisco Mignone, Guerra Peixe, Camargo Guarnieri, pois a mídia, sobretudo a televisiva, por eles se interessou e os seus nomes chegaram ao grande público.

Opa, que bom!

Bom por quê?

Tivemos no final de semana a visita da Osesp Itinerante, projeto da Orquestra Sinfônica de São Paulo, que percorre o interior levando a música erudita à população que não tem a oportunidade de frequentar, por exemplo, uma Sala São Paulo, onde a música toma uma dimensão de grandiosidade e beleza que emociona e muito.

Sei porque estive na comemoração dos 2000 anos de São Paulo – do santo, claro – e a pompa e a circunstância do momento, com a presença do governador, do prefeito, do cardeal Primaz do Brasil foi algo inenarrável.

O projeto é inovador e visa democratizar o acesso do grande público à música erudita.

Assim, na quinta feira, tivemos o quinteto de sopros. Não houve lotação completa. Digamos dois terços da sala.

Já na sexta feira, houve maior frequência. Mas no sábado a fila lembrou aquela do filme Marcelino, Pão e Vinho. Ia lá pro fim do mundo.

Parece, no entanto, que todo mundo se acomodou. As crianças e os mais jovens, atendendo ao apelo dos organizadores, deram os seus lugares para os mais idosos e os corredores ficaram abarrotados com a galerinha sentada no chão.

E ainda ficou gente em pé. E o mais bonito, até o final do espetáculo. E mais bonito ainda é que havia uma juventude na sala, aplaudindo calorosamente após cada apresentação.

Eu, particularmente, gostei mãos do quinteto de sopros, pois um dos músicos estabeleceu uma empatia com a plateia e ia explicando cada música, cada instrumento usado... até as palmas ele coordenou.

Com a aceitação do público, acredita-se que o projeto será mantido e até ampliado.

E fica provado: o público sabe o que é bom. É só trazer arte que ele saberá separar o joio do trigo e, sobretudo, o jovem poderá a vir gostar de Debussy, de Verdi, dos nossos compositores clássicos da mesma forma que gosta dos sei-la-das-quantas que puliulam por aí.


Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com







quarta-feira, 3 de outubro de 2012

TUGÚRIO



                                       

Na verdade, não chega a ser um tugúrio.
Existem muitos pelo mundo; o meu,  apesar da simplicidade não equivale a um.
Mas, seja como for, não existe lugar onde uma pessoa possa sentir-semais segura.
Agora mesmo, 04h50 e eu  aqui no computador com vontade de produzir um texto e sem saber exatamente sobre o que falar.
Perto daqui  ouço alguém dar um grito esquisito, angustiado e fico prestando atenção.
Nada mais se ouve. Volta o silêncio da madrugada. Ainda bem que por aqui ninguém aproveitou o silencio para roubar o meu violão seresteiro e nem foi embora levando a minha inspiração.
De repente sinto uma segurança que há muito não sentia. Ouço uma música com a Orquestra de Henry Mancini, um coral bem regido... Paz.
Não sinto a ansiedade se manifestando ante um momento de alerta provocado por um grito mais ao longe de casa, pressupondo um perigo em potencial.
O mundo é um lugar perigoso quando a pessoa é ansiosa e eu tento não ser, pois este estado reduz a qualidade de vida.
Quando ouço  alguém dizer que não vai a determinado lugar porque é perigoso, pode haver um assalto, uma bala perdida e se priva de sair com os amigos, deixando bons momentos sem serem vividos fico até com pena.
São “clientes” para a ansiedade generalizada, para a fobia social, um mal que atinge boa parcela da sociedade.
Ah! Agora escuto   When you tell me that you Love me  ainda com o Mancini...
Atenção, com o Mancini e não com o Mazzini apesar deste ser um grande músico aqui mesmo da terrinha.
Continuando com o tema segurança, ansiedade, li que todos têm e que ela é útil como mecanismo de defesa mas , quando se torna exagerada torna-se um problema de saúde.
O que poderia ser apenas um ligeiro arrepiar dos cabelinhos , um sinal de alerta, passa a ser algo maximizado para uma secura na boca, um suor frio, uma vertigem e sensação de pânico.
Não permita que esta fase se instale em você, tente combatê-la com racionalidade e bom senso. Não é para deixar de esquentar a cabeça mas, simplesmente, não deixar que ela surta. Hoje existe
medicamentos e especialistas para atenuar a doença mas, melhor é não atingir este estágio. Melhor do que ingerir doses generosas do ácido Gama-aminobutírico  é fazer como o André Rezek
que se delicia com os Pinot Grigio Delle Venezze e Domene de Solitude da vida.
Onde você estiver faça como se estivesse no seu tugúrio pois ele é um recôndito que só você conhece e jamais poderá ser atingido.
Sêneca disse :” A alma é mais forte que qualquer tipo de sorte”.
Não acredito muito em destino, sobretudo naquele que dizem já vir  traçado para as pessoas mas,  se existe mesmo, podemos moldar o nosso espírito para vencer as dificuldades da vida, fazer com
que a boa sorte sorria para nós.
Nenhuma má sorte vai atingir você se a sua mente estiver sempre confiante.
Ficar atento às influências negativas, escolher bem os lugares que possa frequentar , saber como proceder com responsabilidade são
as providências que uma pessoa deva tomar para diminuir a probabilidade de um acontecimento nefasto...Mas deixar de viver,  mergulhada em eterno medo, em constante e exagerada ansiedade é, como se diz no popular, marcar bobeira...Ou ainda,
ter morrido e esquecido de deitar.
A irmã lua foi embora. Ainda deu uns beijinhos no seu eterno namorado que apareceu radiante, jogando os seus raios luminosos pelo mundo.
Com ele, o romantismo da noite se foi como foram também os perigos existentes na sua calada. O dia é menos romântico mas  é  mais prático e seguro  pela maior clareza que propicia às nossas decisões.
Assim decida: se tiver que ser, que seja.
Vou sair do meu tugúrio para a vida. 
Eu sai e me dei bem.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras-ciadosblogueiros.blogspot.com





terça-feira, 2 de outubro de 2012

...Sorrindo







                          Melhor ser analfabeto. Quanto mais a gente lê, mais fica sabendo de coisas esquistas.
                          Marco Antônio saiu do seu escritório de advocacia, passou no piano-bar e tomou o seu lugar de sempre.
-Bom tarde, doutor, como foi o seu dia hoje?
-Oi, boa tarde Carmelo, até que não foi mal. Amigo, manda o de sempre. Quem atira no meio, não erra.
                           O bar-man se afastou. Marco Antônio abriu sua revista preferida, um semanário de boa tiragem , abriu na última página e começou a ler seu articulista predileto: A ARTE DE MORRER era o tema.
                           Nele era relatado o caso de um conhecido crítico de música, apaixonado por Villa-Lobos e que ia dar uma palestra sobre o grande maestro. O sistema de som começou a tocar FLORESTA AMAZÕNICA. O crítico ficou extasiado, deu um suspiro e caiu morto. Morreu porque se emocionou com algo que era belo e que amava.
                          Era uma morte semelhante a uma outra: a de Bergotte, personagem de Marcel Proust, que em uma exposição de arte, fica extasiado com VISTA DE DELF, de Johannes Vermeer e passa para o degrau de cima, na hora,
                          Estava absorto lendo a matéria, quando foi interrompido pelo garçom, que trazia a bebida.
-Luizinho, será que é possível a gente morrer, assim, de repente, só por olhar algo ou alguém de muita beleza?
-Acho que não, doutor. Posso provar.Uai, fosse isso verdade, tanto o senhor como eu, já teríamos ido pros quiabos quando a sua namorada entra ali pela porta,
-Opa! Olha o respeito...
=Doutor, toda afirmação precisa levar junto um argumento de prova. Foi o senhor mesmo que me ensinou. Não vem, não...
                    O doutor pediu uma  salada completa como entrada, um Le Corti, um chianti clássio da região da Toscana; depois,  salmão ao molho de alcaparras, pois resolvera jantar. Chegando em casa, iria após breve descanço, estudar um processo de inventário dos mais intrincados.
-Luizinho, vê a minha despesa, por favor.
                      Após os acertos e de ter tomado um último drinque, se dirigiu para o carro,  mas ainda ouviu do garçon:
=Cuidado doutor, não vá se emocionar.
                         No caminho para casa, vendo uma farmácia, resolveu ver como estava a sua pressão.
-Doutor, vou atender o senhor mas as farmácias não estão mais prestando o serviço à população.Sabe como é, se podem complicar as coisas para o povo, porque não fazê-lo, não é mesmo?
                          Pressão normal; tranqüilo, foi para casa. Até se esqueceu da matéria lida.
                          Após o banho, tendo vestido o roupão que lhe agradava, ligou o som para ouvir Harry Jerome e acomodou-se no sofá.
                          A música era moonlight serenade; Marina, sua namorada, gostava de fazer amor ouvindo a canção.
                           Ele também gostava muito.
                           Por volta das onze horas, Marina, que tinha a chave da casa, entrou e o encontrou deitado, sereno.
                           Tinha um sorriso nos lábios.

José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um velho, um barco



                     



Debaixo da figueira que ficava pouco acima da queda d’água, o velho barco estava preso à margem por uma cordinha que mais cedo ou mais tarde seria rompida pelo tempo
Acontecesse durante a noite e  ficaria à deriva e sabe-se lá onde iria parar...Mas era um velho barco, que se danasse.
-Ingrato, quantas vezes você me acordou de madru-
gada para irmos ao rio; quem  adorava remar de manhãzinha para ver o sol nascer? . Lembra que eu, você e o barco formávamos uma trindade, que se não era santa, era uma verdadeira poesia: um velho, seu neto e um barco emoldurados pelos primeiros raios de sol da manhã.
Maurício, já engenheiro formado, veio passar férias no sítio que pertenceu ao avô e que agora era administrado por um tio; de posse de umas latinhas de cerveja, tinha se ajeitado perto do velho curral e estava ali a observar o  rio da sua infância, enquanto o cine do tempo fazia passar cenas de sua vida.
-Puxa vida, vô , para que serve esse velho barco, ninguém mais está a usá-lo, se ele se romper de sua amarra, irá parar nas mãos de alguém que ainda possa dele usufruir.
-Filho, esse barco sou eu; você quer que eu me vá?
O jovem engenheiro acendeu um cigarro e riu.Lembrou-se da primeira vez que fisgou um belo barbado e não agüentava trazê-lo para o barco.Pediu ajuda do avô e esse disse não:
-Você o fisgou, o peixe é seu, arrume-se com ele.
Comeram-no ensopado, preparado pela avó; vencera a sua primeira batalha, dela se lembraria para sempre e seu velho avô era personagem importante no feito.
Outro personagem era o barco; algumas tábuas soltas, o número da licença já apagado mas a proa ainda apontando firme para frente, pronto para seguir, obediente aos remos se não tivessem ido com as águas da última cheia.
Alguém já disse que o silêncio é uma janela   fechada para a rua; ali naquela paz, o seu mundo e tudo o que amou um dia estava à mostra de maneira escancarada, sentia até o cheiro do fumo do cigarro de palha que o velho fumava.
Abriu outra cerveja; seus pensamentos fizeram com que esquecesse a latinha já aberta e o líquido esquentou....Estava chorando.
-Vô, onde está aquele molinete e aquela vara amarela que o senhor comprou para mim?
-Uai, vai lá no celeiro, tira aqueles arreios para um lado, que ela deve estar ali em baixo do girau; inclusive, seu moleque, é preciso engraxar o molinete.
-Ah! Tá...
O avô, apesar de ter comprado para ele um molinete, gostava mesmo de pescar com as grandes e fortes varas de bambus.Não permitia que ninguém pescasse com elas:
-_Sabe filho, se outro usar,  tira a embocadura.
_ Vô, o que é embocadura?
-Embocadura é...olha lá, sua avó esta chamando.
_ Não quero ir agora, vamos ficar mais um pouco.
Não é que ele escutou mesmo a voz da avó chamando
e dando bronca :
-Leôncio, você coloca mau costume no Maurício, vou falar pra Ritinha não deixar mais ele vir aqui no sítio.
-Você agora é um doutor, meu neto; meu orgulho maior.Nunca permita que este sítio se perca e, sobretudo, cuide do velho barco. Ele é um elo muito forte entre nós dois. Eu, você, o rio e ele seremos eternos, pois somos um só.
Como já era noitinha, um vento mais frio vindo do lado sul, os últimos raios de sol se misturando com as águas calmas que iam;  Maurício saiu do seu enlevo e caminhou em direção à casa.
No caminho, lindas flores silvestres; fez um pequeno e lindo buquê, contornou o velho poço artesiano, abriu a pequena grade e depositou o mimo entre duas sepulturas.