Meu primeiro livro virtual

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Não é mera coincidência




Publicado no jornal Folha da Região
CADERNO VIDA -
quarta feira - 26 de maio de 2010





. ..e não é mera coincidência.



Pode ser; realmente as coisas ficam estacionadas em algum lugar e, de repente, afloram.
Elas têm importância para quem são importantes: para o Hamilton foram.
Um dia, ainda adolescente, saiu de um seminário e precisava se matricular na rede oficial de ensino. Os currículos das instituições eram diferentes. Então, precisou submeter-se ao exame de adaptação nas matérias de português, ciências e desenho... precisou de professores para prepará-lo.
Na matéria língua portuguesa, recebeu orientação de uma jovem professora: seu nome, Maria.
Fez o ginásio e depois matriculou-se no curso de formação de professores primários. Lá estava Maria, já formada e dona da cadeira de português. Encontrou-a novamente quando fez o curso de letras na faculdade da cidade. Não a encontrou na faculdade de direito, porque ela, bacharel , lá não foi lecionar.
O tempo não foi embora em um flash.
Demorou e Hamilton chegou à aposentadoria. Não estava preparado para ela; ficou perdido, sem rumo...infeliz.
Um dia, no jornal da cidade, leu: Grupo Experimental da Academia convida interessados que gostem de literatura para comparecerem...
Como passou a vida em uma profissão na qual o estudo era específico para desempenhá-la bem, nunca teve tempo para a literatura e seus deliciosos ingredientes.
Foi. Chegou quietinho, ouviu.
Na segunda vez...ouviu
Na terceira...não ouviu; um professor, daquele tipo invocado disse:
- Uai! A criança não fala?

Conheceu pessoas maravilhosas: cronistas, contistas, poetas fesceninos ou não e orientadores seguros e abnegados.
Como se diz no populacho: gamou.
Participando ativamente, evoluiu. Se incluiu em todos os eventos que envolvessem o grupo, como saraus e outros movimentos literários .Em um deles, patrocinado pelo melhor jornal da cidade, participou da publicação de um livro de crônicas, homenageando pessoas ilustres da terra; nele, teve a honra de biografar Maria, já então emérita professora e ocupando uma cadeira na Academia de Letras local. Seus textos, como os do grupo , eram publicados nesse jornal, posto ser ele um grande incentivador da cultura , sobretudo , da região.
Um dia, sonhou.
Sonhou que ganhara em primeiro lugar, nível nacional, um concurso de contos promovido pela Secretaria da Cultura da cidade. Prêmio a ser entregue na Câmara Municipal, com todos os membros da Academia de Letras presentes, seus amigos e famíliares.
Apresentou-se para recebê-lo acompanhado das netas; uma delas, de três anos. Foi convidado a falar...a neta mais nova não quis deixá-lo:
_ Ah! Vou ficar com você, vô.
Contou sua história e a importância do Grupo Experimental na tentativa de, outra vez, ser feliz.
_ Eu consegui! Por mim e por elas....Por ela.
Antes do encerramento, Maria pediu a palavra:
- Senhores e senhoras, é com muito prazer que...
- Bom dia! Oito horas - informa o serviço de despertador da telefônica.
Dizem que para Deus, nada é impossível, quem sabe...um dia.







Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

O REPRESENTANTE




O propagandista de laboratório farmacêutico, chamado de representante...se existe uma raça danada, essa é uma.
Eu pertenci a esse grupo por anos; hoje, aposentado, evito pensar nele. Dói...e doeu até eu descobrir que eu não precisava de uma pasta para ser feliz.
Trata-se de um profissional preparado para identificar problemas, encontrar soluções e criar oportunidades em um mercado altamente complexo e sofisticado, como o farmacêutico. Existem empresas especializadas em criar campanhas de comunicação estratégica mas ele é o responsável para colocar em prática, ali nos consultórios médicos, nos ambulatórios e pontos de vendas, sozinho, o que dezenas e até centenas de pessoas elaboraram..
Então, se aprimora em três princípios básicos: o da atenção, o da objetividade e o do respeito.
Um bom representante é assim . Eu fui um deles, se tenho um orgulho, é esse.
Havia um temor : a evolução da internet como nova mídia vai extinguir a profissão. .
Todavia,há um estudo que mostra que " as palavras" são responsáveis por nove por cento do entendimento; a " tonalidade da voz" representa trinta e seis por cento e a "linguagem corporal " cinquenta e cinco por cento.Ou seja, falar com ALGUÉM da mesma espécie é melhor do que " falar" com um email ou site.
O ser humano será sempre fundamental.
" os segredos da profissão estão na mala do propagandista"
Um bom treinamento ensina , além das técnicas de comunicação, questões de anatomia, fisiologia e farmacologia. Embasarão os contatos com médicos, enfermeiros (as) , profissionais esses, que dedicam carinho e atenção , não sendo raro o surgimento de amizades duradouras entre uns e outros.
Um representante é um ser solidário, basta um deles cair no desemprego para os demais sairem à procura de uma vaga onde colocá-lo.
-Então você o recomenda, você o conhece bem?
-Nossa Mãe! ponho minha mão no fogo por ele - mesmo que queime, pensa - é de dentro de casa, um irmão.
Quantas vezes um colega está dinheiro para as viagens no setor e trabalha no carro do amigo, concorrente direto. Como visitam o mesmo médico e na mesma hora, a coisa fica mais ou menos assim:
_Doutor, represento o laboratório tal e tenho aqui o melhor antibiótico do mercado pelas características e benefícios tais.
Em seguida, vem o outro e conta a mesma história de outro antibiótico do MESMO princípio ativo, só que de nomes fantasias diferentes.
E o médico ouve os dois atentamente, deve rir intimamente e o barco "anda" com os seus felizes ocupantes.
Isso, absolutamente,não acontece em outra ´profissões.
Vendo um deles por ai, com a famosa pasta na mão, pode crer: trata-se de um grande sujeito.
Ah! são tantos nomes : Pandolfi, Ailton, Turcão, Daniel, Patinha, Aleixo, Maniçoba, Borsári, Gamaliel, Norberto, Galdeano,Minoru,Delfino,Oswaldo,Fabião, Sadam, Isique, Senise, Toshio, Lima, Zazão, Carlinhos, Vanni...esse, um grande supervisor, a quem dedico esse texto.
Alguns, já assistindo ao espetáculo bem juntinho Dele.
Outros ainda na ativa.
...e eu, com saudade de tudo e de todos.


José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O QUE FAZER







Trabalhou a vida inteira.Amava o que fazia; era uma atividade dinâmica. A competição , acirrada.Justificava-se tanta garra com a necessidade de ganhar o sustento da família. Havia, no íntimo, uma mola poderosa que o impelia cada vez a dedicar-se mais. Queria, na verdade ser o melhor. A estrela que mais brilhasse. Ser apontado como o de carreira mais promissora. Havia sempre dois ou três que deveriam ser observados, pois eram os que com ele mais competiam pelo lugar mais alto no podium. Não há quem não queira o sucesso e isso não é pecado. Colocar o produto no melhor ponto de venda, fazer a operação mais lucrativa e fazer convergir sobre ele os olhos admirados dos superiores. Ganhar os prêmios e comissões, chegar em casa e ver o orgulho estampado nos rostos da esposa e dos filhos. Quantas noites em claro, lutando para entender o desgraçado do tal de ciclo RAA, uma maldita de uma renina que sob a ação de um angiotensiógeno se tranformava em angiotensina um e que...puxa vida.E não soubesse essas desgraceiras todas pra ver. Mas era bom chegar nas convenções e ganhar o videocassete dado ao primeiro lugar na simulada médica.
Quantas foram as madrugadas nas quais pegava o carro e ia cobrir o setor de trabalho ou para as reuniões de ciclo, nas quais os resultados eram cobrados , os novos objetivos traçados e as avaliações de conhecimento eram feitas.
Toda essa carga de responsabilidade, tendo, em muitas ocasiões, um filho doente no berço ou uma dívida pendente.
Havia é verdade, toda uma acessória auxiliando na preparação do profissional e dando-lhe suporte mas, em quantos momentos foi decisivo o fato eles se bastar. Não tinha essa de se tornar celebridade, mas quando os holofotes o procuravam nos eventos internos da empresa, tudo se ajustava na cabeça, as emoções do reconhecimento fazendo esquecer todas as agruras.
A alternância entre os momentos de doçura e os de amargura eram tão repentinas, que não havia tempo para o prazer ou o sofrer...Mas o pouquinho de prazer que se conseguia, era eterno. Esquecia-se do resto.
Mas essas coisas não são próprias somente dessa atividade. E daí, não se está falando de todas, mas de uma só...A dele.
De repente, um flash de amargura vem com o quantum de tempo já ido. Olha em volta, vê uma garotada, vê antigos colegas, competidores dignos já com os chinelos e pensa: está chegando a hora. E quando chegar a minha ?
-Deus, afaste este cálice de mim.
Mas Ele não tem muito a ver com isso, tudo fruto da nossa própria organização de vida. Será procurado para dar conforto nas horas de amargura, servir de lenitivo, fazer o papel de Pai.
De repente e não mais que de repente.."cadê você, cadê você...outros repetem as suas jogadas...no vídeo taipe da vida,a história gravou"
Um dia, levantou-se para a jornada diária de trabalho. Como fazia sempre, foi barbear-se.
No espelho, o "outro" lhe disse, quase que sussurrando:
_ Vai dormir, seu tonto. Você já era.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Possível...sim.



.

Beijos e afagos.
Entrega...
Saciedade.
Sempre com emoção.
Corpo e coração.
Carinhos continuados.
Procura redobrada
Mãos que se tocam
Mãos que tocam...
Um recomeçar.
Quem fala mais
O amor ou o desejo?
Há um sem o outro?
Novamente, entrega.
Pontos distantes
...alcançados
Inversão...solução.
Mordidinhas
Beliscos
Tapinhas e risadas
Tudo a um tempo
Não contado.
Ah! O tempo
Languidez
Olha o desejo
Outra vez
Amar, então
É preciso.
Não há saciedade
Seja como jovem
Ou na idade.
Sempre é possível
Quando se ama.

Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras