Meu primeiro livro virtual

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O FESCENINO


Não, não é.
Ele começou timidamente, colocando uma palavra aqui, outra ali...jogava tudo no lixo.

Estava dificil conservar o que escrevia; mostrar para alguém, nem pensar.

Mas o moçoilo gostava, amava ler e escrever.

Lia todas as poesias e poemas que lhe caiam nas mão.

Um dia ficou sabendo que na cidade, havia um grupo de pessoas que se dedicava a ler e escrever, sobretudo, poesias e poemas , recebendo orientação de pessoas abnegadas e pos -

suidoras da sapiência literária.

-Ué, vou lá. Se tem quem ensina, vou aprender.

Colocou sua camisa xadrez, sua melhor calça, que estava um pouco curta e se mandou para o local que o jornal indicava. Ah! esqueceu de limpar a botina, tirar os vestígios do curral.

Chegou com o seu jeito de matuto, meio sem graça:

-Licença moça?

Foi convidado a ocupar uma cadeira na sala,parcialmen- te ocupada e ficou na " escuita", como mais tarde ele mesmo relatou.

A reunião começou,alguém falou sobre composição li -

terária e convidaram uma linda moça para falar sobre Olavo Bilac...logo sobre Olavo Bilac, seu poeta de cabeçeira. O rapaz ficou extasiado.

Na segunda reunião, não abriu a boca; nem na terceira e quarta. Mas na quinta, um professor, com jeito de invocado, chamou o novato para falar sobre uma tal de Roda Crítica.

-Ah ! vô não; ainda num to apreparado.

-Vem aqui que estou chamando.Que negócio é esse de vergo -

nha? vou te transformar em um poeta.Não é isso que você quer?

-É sim sinhô.

Bem, se era para perder a vergonha, era com ele mesmo; tinha facilidade para esse tipo de coisa. Não demorou muito e o sujeito não podia ver uma caixa ou tijolo, que já subia em cima para declamar. Nas reuniões ,o grupo só faltava

amarrá-lo para não tomar para si todo o tempo disponível. À medida que aprendia, ia, como se diz popularmente, tomando boca.

Mas como nesta vida tudo pode piorar, o rapaz começou a ser convidado para os saraus e eventos afins para dar mostras da sua...genialidade.

E foi ai que aconteceu.

Como tinha tendência ao fescenismo e sendo encorajado pelo mestre, aquele loiro invocado,lascou uma poesia, à qual deu o nome de Mãe na Zona.

Nem o Roberto Carlos, nos seus melhores dias, alcançou tomanho sucesso. De cara foi chamado de Poeta das Multidões. Como já disse, perder vergonha era com ele mesmo e então aumentou seu patrimônio literário com patinha lesbi-

ca , porquinhos transviados, sagrada lascívia e afins.

Mas se a inveja não mata...mata. Começou a cortação:

_ Que nada, o cara é um histrião, sujeito ignavo, um verdadeiro hebetista.

-Mas que diabo ! Do que estão me chamando ? tem a ver com bambi? Estão ofendendo minha mãe?

Vieram lhe socorrer, principalmente o antigo mestre, agora transformado em amigo do peito.

Citou-lhe, então, palavras de Rubem Alves:

" A vida é assim mesm0. É sempre possível deixar o barco

atracado ou só navegar nas baías mansas. Ai não há perigo de naufrágio. Mas não há o prazer do calafrio e do desconhe -

cido".

Malditas palavras; agora, cada vez que o grande poeta toma a palavra, o calafrio e o medo do desconhecido, é dos amigos.



José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras.






















2 comentários:

Rita Lavoyer disse...

Ele é alguém com coragem de ser o que realmente é.

Ela disse...

E haja dicionário para tanto conto bom!