Meu primeiro livro virtual

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

                                   Janela da vida -parte 1


   Pela janela do tempo, “garrei” a pensar em cada dia que foi ficando, que foi ” fondo” como dizem os jogadores e torcedores dos Corínthians. 
Tenho imagens perfeitas em minhas lembranças do noturno, o trem que passava já anoitecendo por engenheiro Taveira e que vinha lá do Mato Grosso, pelo ramal de Lussanvira. 
Ora com meu pai, ora com meus tios, carregando aquelas trouxas cheias de legumes, de carnes, de queijos que a fazenda da minha avó produzia... Deus, eu tinha um ódio daquelas trouxas. Coisa mais brega. Eu era um tonto e não sabia. 
Tivesse eu ainda hoje aquela fazenda para andar cheio de trouxas com as coisas produzidas nela. 
 Depois, já mais moço, no mesmo trem, a gente ia visitar meu tio Anísio de Brito, coletor em Pereira Barreto. O trem ia lotado de pescadores e voltava com os mesmos pescadores, todos carregados de peixes. Nas pedras da corredeira, ali por perto de Valparaíso, lindos dourados, gordos pacus ou barbados pescados e aguardando o trem passar para o retorno à cidade. 
Os vagões viravam um balcão de peixes. De Lussanvira até Pereira Barreto, uma jardineira que “andava” por obra e graça do Espírito Santo, cheia de peixes, galinhas, farofas e o diabo... Represaram o rio, acabaram com o ramal de Lussanvira, com as corredeiras, com os pacus, com os dourados e barbados e acabaram com os vestígios de uma época em que era muito mais fácil ver poesia em tudo. 
Meu amigo, Carlos Rodrigues, Peruzinho, radiotelegrafista da estrada antes de se aventurar pela propaganda médica, chora ao falar da poesia das pequenas estações. 
Como diria um francês : c’est La vie. 
Como diz o poeta Heitor Gomes, o Poeta das multidões: é uma merda. 
Quando o Baguaçu ficava cheio, os ingazeiros ficavam no meio do rio. Tudo madurinho. A correnteza forte obrigava-nos a pular na água bem acima da árvore e vínhamos na força dela para agarrar nos galhos e subir para comer os frutos. Quem conseguia se agarrar, bem; quem não conseguia descia mais de quilometro abaixo caso outra árvore não se lhe apresentasse no caminho. 
De repente, alguém gritava: _ Quem chegar na margem por último, é a mulher do padre. 
Um tchibum atrás do outro e a molecada nadando rápido para não chegar por último. 
Gostávamos de fazer guerra com mamona atiradas com estilingue. Para fazer um estilingue que prestasse, precisávamos de uma boa forquilha e uma boa forquilha só era fornecida por um arbusto chamado buceteira e.... 
-Hein! Que diabo de nome é este? Que pouca vergonha.!
 _Eu que tenho pouca vergonha ou a sua cabeça é que é imunda? Que faz associações inadmissíveis? 
-Fique sabendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Buceteira é um arbusto. Boceta é uma caixa de rapé. O nome ora abominado não existe. A parte da anatomia feminina chama-se vagina. Assim, quem tem pouca vergonha, mente poluída e escassa cultura é você. 
Mas prosseguindo: um dia fomos pescar e uma cobra picou o Boró. Foi um Deus nos acuda. Põe torniquete aqui; não, põe ali. Colocamos o desditado amigo nas costas e o levamos para a Santa Casa. Deram uma injeção deste tamanho na barriga do coitado e ali terminaram nossas incursões noturnas no rio da integridade regional. 
 De repente, quase mesmo que de repente, a cerca de arame farpado que havia na rua bandeirantes, separando a horta do pai do Mário japonês, sumiu. Uma residência, ali na esquina da Rua Bandeirantes com a Oscar Rodrigues Alves, virou a padaria Bandeirantes. Na outra esquina, onde havia uma parreira onde a gente roubava uvas, virou padaria e hoje é farmácia. 
A loirinha que morava com o irmão, na esquina da Afonso Pena com a Bandeirantes, sumiu e tempo depois apareceu como dona de uma cadeira na academia araçatubense de letras. 
 Hoje, dos ecos do passado, ainda escuto a Suzue Furukawa, irmã da Lídia e do Tuneo,  em cima do muro chamando a irmã: -
Mariaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa, mamãe tá chamandooooooooooooooooooooooo... 

 Membro do grupo experimental da academia Araçatubense de letras – ciadosblogueiros.blogspot.com.

2 comentários:

Ventura Picasso disse...

Cê num falô que o trem apitava na curva; e que a Rufinada morava na Bandeirantes antes da farmácia, naquela casa que tem uma escadaria e que até pouco tempo abrigava uma loja da Benetton.
Valeu Zemirtus - quanta porrada no pedaço, hein?

Anônimo disse...

Zé, ^você é mais que um ""ginasiano". De fato seu texto, como sempre está apropriado. Como disse antes - tanto eu quanto a ana Morena pensamos que você é mesmo mais que um "ginasiano". Apenas o Heitor - o gomes pensa o contrário, depreciando-lhe os escritos. Isto é porque ele não sabe nada de coisas boas e só pensa "naquilo" e das grandes!