Meu primeiro livro virtual

domingo, 1 de maio de 2011

Um caso de amor em Portugal






-O desfribilador, rápido.
Uma, duas vezes e a paciente não reagia. Lembrou-se da frase do Chico: “ e eu que não creio, peço a Deus por minha gente”.
Adaptou-a para a situação; pediu pelo seu amor.
Conheceu-a em Lisboa, andando despreocupado pelo Parque das Nacões , depois de ter descido do teleférico. Uma esbelta morena ia à sua frente. De repente, escorregou e caiu. Ajudou-a levantar-se.
-Bom dia, senhorita, você esta bem?
-Bom dia, estou sim, foi só o susto.O senhor é brasileiro, que bom ter caído para ser socorrida por um conterrâneo; estava precisando falar um pouco do português da minha terra. Cheguei ontem mas o sotaque já me dá nos nervos.
-Heloisa é o meu nome, Eduardo.
-Como você sabe o meu nome?
-Está escrito no bolsinho da sua camisa, pode olhar.
-Deus, que estúpido eu sou.
Continuaram a caminhada dando sonoras risadas, chamando a atenção dos transeuntes, aos quais Eduardo, sorrindo, acenava.
Aquela tarde passaram andando pela cidade, até depararem-se com o famoso Vértigo Café, com os seus móveis da década de 50 e 60, com o seu visual retrô. O interessante é que mesmo com toda a pompa e circunstância , serviam uma refeição simples e saborosa.
Como estavam cansados, ela havia chegado um dia antes, resolveram que após o jantar, recolher-se-iam para um merecido descanso. Estavam hospedados no mesmo hotel e....mão de Deus, no mesmo andar.
Descobriram estar em apartamentos contíguos.
-Heloisa, na minha geladeira, tenho um champagne no ponto exato.
-Na minha também tenho. Boa noite.
-Tenho algumas garrafas de vinho do |Porto e....
Ficou ali, com a maior cara de besta...mas prometeu vingança.
No outro dia saíram para passear, conhecer mais a linda cidade. Perguntaram ali mesmo no hotel um roteiro a seguir e foram sem preocupação alguma. Caso se perdessem, um táxi os traria de volta . Sem que tivessem feito uma pergunta a alguém, de repente estavam no Culturgest. Trata-se de uma galeria de arte localizada no porão do maior banco Português, cuja sede os de Lisboa acham feia.
Assim como navegar era preciso, alimentarem-se também era.
-Amigo, somos brasileiros e queremos ir a um bom restaurante. Pode nos indicar um?
-Claro, será um prazer, amo a sua terra. Minha filha está fazendo direito lá na Instituição Toledo, em Araçatuba, Estado de São Paulo. Recomendaram-me por tratar-se de uma conceituada faculdade.
Das palavras aos fatos, chamou um táxi e disse ao motorista:
- Leve estes amigos até a rua Marquês de Fronteira, 37, restaurante Elevem e, por favor, diga ao Maitre que eles são meus convidados. Não esqueça dessa recomendação.
Heloisa e Eduardo se olharam...será?
O táxi já estava com a porta aberta, esperando. O jeito foi aceitar a oferta.
Não era um restaurante dos mais bonitos, sofisticados mas tinha um salão de jantar confortável e moderno. Tinha a melhor vista da cidade para o rio e para o castelo e uma cozinha inspirada no Mediterrâneo.
_Heloísa, teremos que tomar vinho nacional.
Ah! Não quero nem saber, eu quero um....desgraçado!
Tomaram o vinho nacional acompanhado pelo bacalhau mais apetitoso, cheiroso, maravilhoso de suas vidas.
-Helô, menina, vai ficar uma grana; só valeu a pena porque durante toda a refeição eu estava olhando para você e pensando:
-Quem é mais linda, ela ou aquela vista do rio?
-Por favor, veja a despesa.
-O que ! Que despesa, querem ver-me no olho da rua? Vocês são convidados do dono do restaurante. Aquele que chamou o táxi é o proprietário do restaurante.
Foram para o hotel e aquele champagne da geladeira dele introduziu uma linda noite de amor. O da geladeira dela, deu o arremate romântico que faltou devido à sofreguidão com a qual se atiraram sobre os límpidos lençóis.
Retornaram ao Brasil. Ele para o hospital onde era cirurgião geral e ela para a universidade, onde era mestra em Filosofia. Mas a casa onde passaram a residir, era a mesma.

E a vida caminhava como pediram a Deus, até o dia no qual ela teve um problema cardíaco, em plena sala de conferência para um grupo de professores Escandinavos.
Era caso de cirurgia urgente. Foi chamado pelo interfone, o cirurgião chefe, pois o caso era complexo.
-Doutor Eduardo, comparecer urgente na sala de cirurgia número três.
Eduardo saiu na correria, preparou-se para a intervenção e:
_Meu Deus, você?
Alegou as razões pelas quais não poderia fazer o atendimento, não estaria emocionalmente apto para intervir naquela paciente.
_Doutor, não dá mais tempo de convocar outro cirurgião, ou é o senhor ou ela morre.
Quando gritaram alto pela segunda vez, pedindo o uso do desfibrilador, ele, superando-se, deu o melhor de si e mais ainda , pediu, não por sua gente, mas por ela....e por ele mesmo.
Ao sair do hospital, o dia estava radiante. Ele não percebeu.Tinha pedido, foi atendido mas estava envergonhado.
Havia pedido muito mais por ele....Não poderia mais viver sem ela.

Hamilton de Brito é membro do grupo experimental da Academia Araçatubense de Letras, da ciadosblogueiros.blogspot.com e do site aracatubaeregiao.com.br. Também integra o Conselho Municipal de Políticas Culturais.

2 comentários:

Rita Lavoyer disse...

Então, conheci alguns pontos de Portugal navegando nas tuas palavras. Espero que eles existam mesmo, mas se não existirem tanto faz, pude estar junto do Eduardo e da Helô. Isso que eu chamo de texto convidativo, entrei nele e segurei vela o tempo todo. Se não bebessem aquele champanhe eu daria um jeito de entrar novamente no texto. Quanto ao desfribilador, quase pensei que o narrador fosse chamar um vereador daqui de Araçatuba.

Cidadão Araçatuba disse...

Você entrou no google map?
Tem uma linda vista da rua que você se referiu, veja: http://maps.google.com.br/maps?q=Marqu%C3%AAs%20de%20Fronteira%2C%2037%20portugal&um=1&ie=UTF-8&sa=N&hl=pt-BR&tab=wl .
Acesse, ficarei aqui imaginando a continuação dessa bela história.
Grande Abraço!