Meu primeiro livro virtual

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

só um par a mais


Só um par, mais nada



Era uma casinha pequenina, um bangalô pequeno; ficava do meio de um terreno bem arborizado, um vasto gramado verde, enfeitado por canteiros bem arranjados de flores. Via-se um balanço, indício de que ali morava uma criança ou alguém com a alma equivalente.
Os vizinhos morriam de inveja...diabo, como eles conseguem?
Nunca ninguém ouviu um grito, um falar alto, que fosse. O casal era visto, estava sempre abraçado, sorrindo; acenavam pra todos, eram cordiais e hospitaleiros.
Não que fossem de receber com constância, mas quando o faziam, eram elegantes, sóbrios e pródigos.
Ele, com uma carreira já engatilhada de médico. Era cardiologista. Ela, uma assistente social das mais conceituadas e queridas.Ambos, reconhecidos pela competência e responsabilidade profissional...Eram muito meticulosos, detalhistas.
Um dia, coincidentemente, tiveram que, atendendo às suas responsabilidades profissionais, se ausentarem; ele, para um congresso médico na capital do Estado. Ela, para fazer a auditoria em uma das praças mais longínquas da sua sede.Ambos ficariam vários dias ausentes.
-Qual de nós chegará primeiro?
-Bem, eu não sei, disse ela. No meu caso, depende dos pepinos que encontrar pela frente. Já o seu, tem dia marcado para terminar.
-Se o congresso terminar no dia programado, te telefono e se você não chegou, dou uma esticada até a casa da mamãe.
Assim acordados, foram felizes.
No retorno, como os seus vôos
faziam conexão, terminaram a viagem juntos. Quinze dias haviam se passado.
Não se sabe o porquê, mas, dias depois, cada um tomou um rumo na vida.
No banheiro, havia um par de chinelos a mais.




José Hamilton Brito, membro do grupo experimental da acaddemia araçatubense de letras

Um comentário:

Rita Lavoyer disse...

A melhor saída e não entrar mais no banheiro, enquanto o par de chinelos estiver por lá.
Nossa, é tão fácil resolver isso!